Professores das ilhas do litoral superam desafios com dedicação

Diariamente, os professores Hermes, Kátia Regina e Maria Martha cumprem uma rotina que, por si, fala muito mais que todos os discursos sobre a dedicação dos mestres à missão de ensinar. Acordam cedo e, por volta das 07 horas da manhã, já estão a postos no atracadouro do Iate Clube de Paranaguá, à espera da canoa motorizada que vai levá-los até a Ilha Piaçaguera. São 20 minutos de travessia, faça chuva ou faça sol, com mar calmo ou revolto. No desembarque na ilha, andam um bom trecho, até alcançar a pequena escola onde os aguardam os 35 alunos da 5ª à 8ª séries. No início da tarde fazem o trajeto de volta. Até o dia seguinte, quando tudo se repete.

Rotina semelhante à de Hermes, Kátia Regina e Maria Martha faz o dia a dia de outros 18 professores da rede pública estadual que, desde o início de 2003, quando a Secretaria de Estado da Educação planejou e implantou o projeto de Ensino Básico (fundamental e médio) nas ilhas do Litoral. Este projeto leva o ensino e a educação a pouco mais de 450 alunos de cinco ilhas das baias de Paranaguá e Guaraqueçaba e assegura aos filhos de pescadores uma escolaridade além da 4ª série da alfabetização, oferecida pelas prefeituras.

As cinco Ilhas que compõem o litoral paranaense contam hoje com salas de aula e professores preparados para levar conhecimento para suprir a necessidade desses alunos, que antes, ou mudavam para a cidade ou paravam de estudar. Além de contar com o ensino regular, grupos específicos como esse contam com um projeto pedagógico dirigido (adaptado à realidade), considerando os aspectos naturais aos quais são inseridos, assim como a condição social e econômica da região.

Segundo Regina Helena B. Ferreira, coordenadora das Escolas das Ilhas do NRE de Paranaguá, foi uma ousadia começar o projeto, uma vez que o diferencial das Ilhas é um desafio constante a ser enfrentado no dia a dia, tanto para os professores como para os alunos.

?Depois de dois anos que o Estado, em parceria com os municípios, está presente com a Educação aqui nas Ilhas, nós ainda enfrentamos os problemas naturais que demandam um esforço muito grande de todos. Um exemplo é a dificuldade de acesso, pois não há como fazermos uma escola em cada comunidade com cerca de 10 alunos. Então, eles têm que atravessar alguns braços do mar e, de mesma forma que os professores, também enfrentam as adversidades climáticas?, destaca Regina, referindo-se à preocupação causada pela necessidade de travessias feitas de canoas ou barcos, colocando alunos e professores frente a um desafio diário. ?Eles já estão muito acostumados com isso e para os professores também já é rotina. Mas, é uma preocupação que temos de enfrentar. Se não, essas comunidades não têm outras perspectivas?, declara.

Para Regina é muito importante que a comunidade escolar das Ilhas (famílias e moradores em geral) colaborem com a travessia dos alunos. ?Eles utilizam as canoas da comunidade para atravessar os braços de mar, e podem faltar na aula quando não encontram nenhuma disponível. Seria importante que os moradores priorizassem a travessia deles, deixando as canoas à disposição no horário que vão e voltam da escola?, destaca.

Para o professor de Biologia, Vicente Bicudo, vindo de São Paulo e estabelecido na Ilha Piaçaguera, o ofício é gratificante. ?Num lugar como este, onde a gente é privilegiada com um enorme laboratório vivo, é inevitável não aproveitar da melhor maneira possível?, disse.

Já os professores Hermes Goldestein (Historiador), Kátia Regina Folha (Matemática) e Maria Martha de Souza (Português/Inglês) atravessam, de barco, todos os dias, de Paranaguá a Piaçaguera. Eles levam em torno de 20 minutos para chegar até a comunidade onde os alunos, que também chegam depois de travessias de canoa e caminham alguns trechos a pé, os aguardam na Escola Estadual Faria Sobrinho. ?É uma satisfação especial conviver com crianças tão diversas, com pessoas que prezam muito seus conceitos e valores?, diz o professor Hermes. Inconvenientes? ?Só os mosquitos?, brinca ele.

A professora Kátia destaca que a importância da escola vai além do ensino. ?É um ponto de convívio social entre alunos e comunidade, a exemplo dos Jogos Escolares Inter-Ilhas, que acontece no final de outubro?, revela a professora.

Nas Ilhas, do Mel e Piaçaguera, em Paranaguá e Rasa, das Peças e Superaguí, e Guaraqueçaba, estudam 458 alunos, sendo 261 de Ensino Fundamental e 197 de Ensino Médio, envolvendo 21 professores, suas comunidades e o Núcleo Regional da Educação de Paranaguá.

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