Serra renuncia em São Paulo para disputar o governo

Com o argumento de que "não se pode correr o risco de retrocesso" e que "nem se pode permitir que São Paulo volte para situações anteriores, de descontrole de falência, de descaminho", o ex-prefeito de São Paulo José Serra (PSDB) anunciou ontem que deixa a Prefeitura para ser candidato a governador "para manter São Paulo no rumo certo". Serra definiu a decisão como "a mais difícil" que tomou na vida, mas entende que, "embora arriscada, ela é necessária".

Bem ao estilo dele, nas últimas horas do último dia do prazo eleitoral, Serra reuniu a imprensa numa sala do Anhembi, às 17h, para "um comunicado muito importante". Em tom solene, sem usar uma única vez o verbo renunciar, ele lembrou, em vez disso, que, "às vezes, nós escolhemos a luta e às vezes é ela que nos escolhe" e que nesses momentos "é preciso ter coragem de adotá-la".

Ele não disse se havia saído nem se o comunicado a respeito havia sido entregue à Câmara Municipal. Não informou também se o vice-prefeito, Gilberto Kassab (PFL), estava instalado no cargo. Naquele momento, militantes do PT protestavam, diante da Prefeitura, por ele ter quebrado a promessa de não sair do cargo. Vergado ao peso dessa promessa antiga, Serra esmerou-se, nos 14 minutos da exposição, em valorizar tudo o que um governador pode fazer junto com o prefeito da capital, para melhorar a vida dos 10,4 milhões de paulistanos.

Argumentou, por exemplo, que, "a melhor maneira de servir a cidade" é "assegurar que não mudarão os padrões de parceria e colaboração entre a Prefeitura e o governo do Estado. Entende que o governo de São Paulo "é fundamental" para o destino da capital paulista. A passagem pela administração municipal permite-lhe "saber muito bem" o que pode fazer pela cidade como governador. "O peso do governo na cidade é enorme" – ele citou três setores, os de segurança, saneamento "e até transportes, nos casos do Rodoanel, metrô, CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos)", como áreas que exigem um trabalho em conjunto.

O outro pilar de apoio foi o pedido – quase uma exigência – do partido para que se candidatasse. Disse, seguidas vezes, que tomava a decisão em atendimento ao pedido de toda a executiva do partido, das bancadas estadual e federal, de mais de cem prefeitos do interior do Estado e de "toda a bancada de vereadores menos um" – referência ao pré-candidato a governador José Aníbal, que se recusava, até o início da noite de hoje, a desistir da candidatura.

"Pelo visto, isso só vai ser resolvido na convenção", calculava o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), que dividia a mesa com o prefeito e com o secretário de Governo, Aloysio Nunes Ferreira. Parafraseou o poeta português Fernando Pessoa – "tudo vale a pena, se a alma não é pequena" foi adaptado para "a batalha vale a pena, se o sonho e a alma não são pequenos" – e afirmou que trocava uma esplêndida situação por outra incerta. "Já estive no Planalto e na planície, já ganhei e já perdi. Meus cabelos caíram, mas os ideais e convicções são os mesmos", avisou.

Ele afirmou que Kassab "não é um novato" e que, para a cidade, "muda o maestro, mas não muda a orquestra nem a partitura". Mais tarde, os dois rivais petistas do prefeito, a ex-prefeita Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante, fizeram fortes críticas à decisão. Marta definiu como "uma traição" a renúncia de Serra, que assim "descumpriu uma promessa". Afirmou que o tucano "foi rejeitado" pelo PSDB como candidato à Presidência e concorre ao Bandeirantes como um prêmio de consolação.

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