Requião solta a língua noutro canal

Uma artimanha do governador Roberto Requião (PMDB) ?driblou? a decisão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região que proibiu o governador de se autopromover ou atacar seus adversários e desafetos através da programação da Rádio e Televisão Educativa (RTVE), principalmente no programa Escola de Governo.  

Ontem, na primeira ?escolinha? após a decisão, a TV Educativa cortou o áudio e veiculou um carimbo de ?censurado? na imagem cada vez que o governador fazia uso da palavra. No entanto, no Canal 21, emissora de propriedade do assessor especial do governador, Luís Guilherme Mussi, as declarações do governador foram transmitidas ao vivo e ?sem censura?.

Como a decisão judicial trata sobre o uso indevido da RTVE, por ser uma rede pública, nada impede o governador de dar entrevistas ou declarações para as emissoras comerciais, como o caso do Canal 21. Assim Requião aproveitou a ?escolinha? de ontem para criticar a decisão do desembargador Edgar Lippmann Júnior e, novamente, compará-la à censura prévia e à ditadura, dando, inclusive, uma receita de ovo frito no ar, em alusão ao tempo em que as matérias dos jornais eram censuradas e substituídas por receitas culinárias.

Dizendo que a escola de governo é um espaço democrático, o governador convidou o desembargador e a procuradora federal Antônia Lélia Sanchezeu, autora da ação, para participarem da próxima edição da reunião. ?Venham bater um papo sobre liberdade de imprensa. Teríamos uma reunião muito densa, mas extremamente respeitosa. Afinal, eles não estão proibidos de emitir opinião na Paraná Educativa?, ironizou.

O governador confirmou que irá recorrer da decisão. ?Vamos impetrar agravo e mandado de segurança, medidas judiciais cumulativas. Acho que isso se resolve com relativa facilidade. Quero acreditar no Poder Judiciário brasileiro?, disse, para depois voltar a afirmar que o processo é uma reação à sua denúncia sobre os altos salários do Ministério Público.

O desembargador Edgar Lippmann Júnior não foi encontrado na tarde de ontem por estar participando de uma cerimônia de posse no Tribunal. No entanto, em entrevista concedida à Rádio CBN, pela manhã, o magistrado recusou o convite para debater com o governador. ?Até porque o processo está tramitando. Decisão judicial não se discute, ou cumpre-se ou recorre-se?, declarou. A promotora de Justiça Antônia Lélia Sanchezeu também não irá discutir com o governador. Através da assessoria de imprensa, ela informou que o Ministério Público Federal irá manifestar-se apenas pelos autos da ação.

O líder da oposição na Assembléia Legislativa, Valdir Rossoni (PSDB), disse não ter acompanhado a ?escolinha? por estar em viagem ao interior do Estado, mas, ao saber do que ocorreu na manhã de ontem, classificou como ?barbaridade e bizarrice? a transmissão ?censurada? do programa e sua veiculação sem cortes em canal privado. O deputado reconheceu que não há muito o que fazer quanto à transmissão dos ataques em rede privada, mas provocou o governador. ?A situação está ridícula, ele perdeu o bom senso. Pediu manifestação popular e não teve, porque o paranaense é contra seus abusos?, disse, para depois voltar a sugerir que o governador use o espaço da TV Educativa para explicar as denúncias contra seu governo. ?Se ele usasse um programa para cada escândalo, teria pauta para o ano inteiro?, ironizou.

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