PT perde paciência com língua de Cobra

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, protocolou ontem na mesa da Câmara requerimento pedindo abertura de processo por falta de decoro parlamentar contra a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP). O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, despachou em seguida para o Conselho de Ética, como prevê o regimento interno, a representação por quebra de decoro parlamentar apresentada pelo PT contra a deputada.

Brasília – Na representação, o PT diz que a tucana quebrou o decoro ao chamar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "bandidão" e acusar o PT de arquitetar a morte do prefeito de Santo André Celso Daniel. O PT acusa a parlamentar de atacar o partido, o deputado José Dirceu e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "de forma virulenta e desleal". Na representação, o PT diz que a tucana se referiu a Dirceu como chefe de um esquema de corrupção no governo e teria dito que "lugar de bandido é na cadeia" e que "tem outro bandidão que vai sair, que é o Lula", durante encontro do PSDB em São Paulo.

Na representação, o PT diz que a deputada, "simplesmente, sem maior escrúpulo, abusa da sua condição de parlamentar". O PT acusa ainda a tucana de ter dito numa rádio que o partido teria mandado assassinar o prefeito de Santo André Celso Daniel. Em entrevista na tarde desta quinta-feira, Berzoini disse que a tucana "está reincidindo em aleivosias e injúrias". "É inaceitável que uma parlamentar possa chamar o presidente da República de bandidão, possa desacatar um deputado, colocando-o como chefe de quadrilha ou acusar um partido de mandar matar uma pessoa", protestou Berzoini.

A deputada, que é integrante das CPMIs dos Correios e Mensalão, já afirmava, desde agosto, que considerava o presidente Lula como responsável pelo suposto esquema de corrupção no governo. "O presidente Lula não só sabia de tudo, como coordenava. Ele era o gestor disso tudo, daí essa amizade intrínseca dele com o Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do PT]", disse ela.

Zulaiê reagiu com surpresa à notícia de que o PT representaria contra ela. E reclamou do tratamento desigual, lembrando que o líder de seu próprio partido no Senado (PSDB), Arthur Virgílio (AM), chamou o presidente de "idiota" e o PT não tomou a mesma iniciativa. A tucana disse ainda que não agrediu o presidente como pessoa e que a palavra "bandidão" foi tirada do contexto de seu discurso.

"O outro chamou o presidente de corrupto, idiota, e ninguém representou contra ele. Bandidão é uma palavra aberta que você fala assim… Eles pinçaram essa palavra do meu discurso, descontextualizaram. Eu fiz um discurso, tenho imunidade parlamentar, o presidente é governo e eu sou oposição. Falei no local adequado, dentro da convenção do PSDB, no exercício do meu mandato. Eu não agredi ele como pessoa, a discussão é política", protestou.

Zulaiê disse que esse tipo de discurso é comum para quem está fazendo política e garantiu que não está com medo de responder a processo. "Eu não temo nada porque isso é política. Ou eu vim aqui para brincar de casinha? Eu sou mulher, mas estou fazendo política", disse a deputada, e acrescentou: "Eu queria que Lula viesse aqui na Câmara e eu diria, Lula, você não é bandidão não", disse. 

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