Pedro Simon critica uso de MPs para enfrentar crise

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) criticou nesta quinta-feira (30), na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, a utilização de medidas provisórias (MPs) pelo governo para enfrentar os efeitos da crise financeira internacional e cobrou do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, diálogo com o Congresso antes do anúncio de ações oficiais contra a turbulência. Em discurso duro, o senador afirmou que os dois – Mantega e Meirelles – não podem achar que são “supergênios” com condições de resolver os problemas melhor do que a sociedade.

Simon foi mais duro com o presidente do BC, que ainda não havia chegado à CAE. Dirigindo-se a Mantega, o senador disse que tem “muito respeito” por ele e que, em relação a Meirelles, tem “alguma restrição”. Criticou o fato de os dois terem passado seis horas na Câmara, na semana passada, falando sobre a crise sem informar que no dia seguinte seria editada a Medida Provisória 443, que autorizou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a comprarem outros bancos.

O senador do PMDB comentou que, nos Estados Unidos, o governo apresentou “um plano de trilhão de dólares”, enviou-o à Câmara, que o rejeitou e, em pleno processo eleitoral, o governo teve que enviar outra proposta ao Congresso e negociar. “No Brasil, não pode. No Brasil, tem que ser medida provisória.”

Com ironia, Simon perguntou ao presidente da CAE, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que tentava interrompê-lo, se soubera antes sobre a MP 443 ou só depois, pela televisão. Mercadante desistiu da interrupção e disse: “Continue, senador, eu vou contribuir com meu silêncio.” Simon declarou: “O seu silêncio já explicou tudo.”

Com dureza maior, Simon observou que, nos EUA, o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, chegou a comparecer três vezes no mesmo dia ao Congresso, enquanto, no Brasil, “há uma mentalidade viciada em relação às MPs, que vem da Constituinte”. O senador comentou que o governo brasileiro, na crise, está agindo com competência, mas “há uma angústia em relação a se ver aonde vai e aonde não vai.”

Simon lembrou que, durante o Plano Cruzado, em 1986, o então presidente José Sarney teve popularidade de 90% e, no fim do governo, ela caiu para 9%. Disse que o destino político do País “está jogado nas questões econômicas”. Acrescentou que, se dependesse dele, a popularidade do presidente Lula iria a 100%, mas tem medo de que “as coisas sejam mais difíceis.” Simon encerrou dirigindo-se a Mantega: “Vossa Excelência é de uma competência muito grande, mas leve essa tese de que dialogar com o Congresso, onde tem mais gente em torno da mesa, é melhor.”

Assim que Simon terminou sua intervenção, Meirelles chegou à CAE para falar sobre a crise.