Grupo lança ‘Tony Panetone’ na eleição indireta do DF

“Tony Panetone” e “Bezerra Dourada” estão entre os aspirantes a governador e vice-governador do Distrito Federal inscritos para a eleição indireta que será feita pela Câmara Legislativa no dia 17 de abril. Os dois “pré-candidatos” são apresentados como filiados ao Partido dos Pães Natalinos, o PPN. Os nomes e o partido são fictícios, mas a inscrição, não. O protocolo da Câmara a recebeu na manhã de hoje de um grupo de estudantes integrantes do movimento “Fora, Arruda”.

A Mesa Diretora da Casa analisará a inscrição e, com certeza, irá impugná-la. O nome fictício “Tony Panetone” faz alusão à afirmação feita em novembro passado pelo então governador José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) de que compraria panetones para a população de baixa renda com o dinheiro que havia recebido do ex-secretário Durval Barbosa numa cena gravada em vídeo anexado ao inquérito da Operação Caixa de Pandora.

No inquérito da Polícia Federal (PF), Arruda é acusado de chefiar esquema de corrupção em que secretários, assessores, deputados distritais e ele próprio recebem dinheiro que seria de propina paga por empresas.

Já “Bezerra Dourada” é uma brincadeira com uma desculpa usada em julho de 2007 pelo então senador do PMDB Joaquim Roriz (DF) para justificar o recebimento de dinheiro de origem suspeita. Ex-governador do DF, Roriz havia sido flagrado, em gravação, negociando a partilha de R$ 2,2 milhões. Antes de ser forçado a renunciar ao mandato de senador, Roriz, que é fazendeiro e pecuarista, afirmou que se tratava de um empréstimo e que usaria parte do dinheiro – R$ 300 mil – para comprar uma bezerra.

“A ideia desta candidatura é acabar com a hipocrisia. O discurso do nosso candidato é que ele vai empregar os parentes, sim. Vai pegar verba pública e enriquecer a partir dela”, explica Rodrigo Pilha, um dos mentores do movimento. “Os deputados que vão participar da eleição eram da base aliada do Arruda, então não é uma eleição isenta, e o ‘Tony Panetone’ é melhor do que qualquer candidato que possa aparecer.”

Manifestações

O movimento “Fora, Arruda” é formado por algumas dezenas de estudantes. O grupo, antes de ganhar projeção protestando contra o escândalo que envolve o ex-governador, já participava ativamente de manifestações contra corrupção.

Eles participaram da ocupação da reitoria da Universidade de Brasília (UnB), em 2008, quando o professor Timothy Mulholland acabou sendo afastado do cargo de reitor após revelação de que morava em um apartamento funcional cuja decoração, orçada em R$ 471 mil, fora paga com dinheiro destinado a pesquisas da universidade.

No Senado, os estudantes foram reprimidos pela Polícia Legislativa que, algumas vezes, não conseguiu impedi-los de invadir o prédio e pedir a renúncia do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), acusado de ser o protagonista do escândalo dos atos secretos.

Quando Arruda ainda estava no cargo de governador, os estudantes acamparam no plenário da Câmara pedindo abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e lideraram protesto que acabou em cenas de violência policial. Em outra manifestação, jogaram estrume e óleo de peroba na porta da Câmara Legislativa do DF.

Na recente sessão em que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) cassou o mandato de Arruda por infidelidade partidária, cinco integrantes do movimento “Fora, Arruda” estavam no plenário e foram expulsos quando comemoravam a decisão gritando e pulando.