Governadores do PMDB decidem se afastar de Lula

Cinco dos seis governadores do PMDB decidiram ontem em São Paulo, em reunião com o presidente nacional da sigla, deputado federal Michel Temer, pelo afastamento do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os governadores Roberto Requião (PR), Germano Rigotto (RS), Rosinha Matheus (RJ), Joaquim Roriz (Distrito Federal) e Eduardo Pinho Moreira (em exercício em Santa Catarina) declararam-se independentes do governo federal.

A posição será submetida ao conjunto do partido em reunião do diretório nacional na próxima quarta-feira (dia 10), em Brasília. O governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, não participou da reunião, na qual estavam os ministros peemedebistas da Previdência, Amir Lando, e das Comunicações, Eunício Oliveira.

O governador Roberto Requião disse ontem que a posição nacional do PMDB, que decidiu pelo afastamento do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não tem qualquer reflexo sobre a aliança entre o seu partido e o PT no Paraná. “Continua firme. É uma aliança interessante que ajuda a todos os paranaenses”, disse o governador, que defendeu o apoio crítico ao governo Lula.

Na reunião de ontem, Requião sugeriu que o PMDB elabore uma proposta alternativa, de política econômica. “A proposta do PMDB tem que levar em conta o desenvolvimento nacional, a valorização dos brasileiros e das empresas nacionais, a preocupação com o mercado de consumo interno e o mercado de trabalho.”

Críticas

Com já vem fazendo há algum tempo, Requião direcionou suas críticas à política econômica do governo e sem nenhum indicado no governo federal, apoiou a retirada do partido da equipe de Lula. “A política econômica do Palocci é o projeto do Fernando Henrique Cardoso comprado no Paraguai, em Porto Juan Caballero, produzida na Coréia com defeito de fabricação”, disse.

O governador do Paraná disse que não se trata de um rompimento com o governo federal, mas de uma forma de o PMDB colaborar para que o PT retome o projeto original que apresentou durante a campanha eleitoral. “Vamos apoiar com firmeza todas as decisões do governo federal que, segundo pensamos, favoreçam os brasileiros e as empresas nacionais. No entanto, faremos uma crítica leal, ética, todas as vezes que discordarmos dos rumos, principalmente da política econômica”, disse.

O governador defendeu ainda na reunião uma redistribuição de recursos entre União, estados e municípios. “O esvaziamento do Estado brasileiro e o enfraquecimento da Federação está de acordo com o que desejam os grandes grupos multinacionais, especialmente o capital financeiro.”

Dobrandino defende rompimento com petistas

Já o presidente do diretório estadual do PMDB, deputado estadual Dobrandino da Silva, divulgou nota ontem defendendo o fim da aliança entre o seu partido e o PT para a sucessão estadual e nacional de 2006. “Vou sugerir o desvencilhamento do PMDB em relação ao PT. Não podemos estar atrelados, pois o PMDB é um partido forte, de respeito e tem uma história política brilhante. Não precisa ficar atado às amarras petistas”, afirmou o dirigente estadual peemedebista.

Para o deputado, o resultado das eleições no segundo turno mostrou que há insatisfação popular com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E citou como exemplos a vitória dos adversários do PMDB e PT em Maringá, Ponta Grossa e Curitiba. “Aqui no Paraná, apenas Londrina venceu, por uma margem pequena de diferença. Nedson Micheleti por pouco não perde para Antônio Belinati, que tem em seu currículo várias denúncias de corrupção. Em Ponta Grossa e Maringá, o PT também foi derrotado”, diz.

Aliança

O presidente estadual do partido lembrou que sempre combateu a aliança entre os dois partidos em Curitiba. “Eu avisei que a coligação PT-PMDB não daria resultados positivos para ninguém. Ambos foram prejudicados”, comentou. Dobrandino defendia a candidatura própria à prefeitura de Curitiba e passou a defender mais ainda o afastamento do PT depois que o seu filho, o prefeito de Foz do Iguaçu, Samis da Silva, foi derrotado no projeto de reeleição no primeiro turno. Dobrandino atribuiu a responsabilidade pelo fracasso de Samis ao apoio dado pelo PT à candidatura adversária representada pelo prefeito eleito Paulo MacDonald Ghisi (PDT).

O presidente estadual do partido disse que o PMDB precisa ter um candidato próprio ao governo do Estado em 2006. “Vamos fazer uma autocrítica e tomar novos rumos. Agora vamos nos unir para trabalhar pensando em nomes fortes para candidaturas próprias em nível nacional e estadual para as eleições de 2006, quando o povo vai eleger o próximo presidente da República e o governador de seu estado”. (EC)

Requião fala em novo mandato

Em entrevista ontem em São Paulo, o governador Roberto Requião (PMDB) disse que não irá se candidatar à presidência da República em 2006 e que pretende ser candidato à reeleição em 2006. Requião disse torcer para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja bem sucedido em seu governo e que possa ser reeleito no final dos próximos dois anos. “Eu desejo que o governo Lula dê certo. E que o Brasil possa reelegê-lo com uma votação consagradora. Esse é o meu desejo. Depois, vamos ver o que fazer”, comentou.

Ao descartar uma candidatura à presidência da República, o governador do Paraná surpreendeu o presidente nacional do partido, Michel Temer. O dirigente peemedebista avaliava que os governadores e o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, seriam candidatos naturais em uma prévia do partido para indicar o candidato à presidência da República. (EC)

Ministros serão obrigados a entregar os cargos

A proposta dos governadores do PMDB é agendar para o início de 2005 uma convenção nacional, na qual pretendem se desvincular do governo Lula, entregando todos os cargos, inclusive os de ministro, e elaborar uma proposta alternativa de governo, lançando as bases para uma candidatura própria à Presidência da República em 2006.

“Como conseqüência dessa independência, não teremos membros no governo federal. Não teremos ministros e nenhum cargo no governo federal. Os nossos ministros terão de obedecer às ordens do nosso partido”, garantiu Temer. Consultado sobre o assunto, o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB), disse ontem que só uma convenção nacional do PMDB poderia dizer que a base do partido é contra a participação no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Autonomia

Na reunião de ontem, o partido descartou uma aproximação com o PFL e o PSDB e reafirmou sua autonomia, já de olho na sucessão de 2006.

Perguntado sobre nomes potenciais para concorrer à Presidência, Temer citou o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, que estava presente na reunião, além de todos os governadores do partido e os senadores Pedro Simon (RS), José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL).

Segundo o presidente peemedebista, o partido quer elaborar um programa político próprio para o país, “a ser aprovado numa convenção nacional”, que será realizada provavelmente no começo do ano que vêm. Temer elencou como temas para o programa a revisão do pacto federativo, a reforma tributária e a segurança pública.

MDB

Para marcar as mudanças que pretendem implementar no PMDB, os governadores do partido e o presidente nacional da legenda, assim como Anthony Garotinho, o presidente paulista da legenda, Orestes Quércia (que também participou da reunião de ontem), vão propor no encontro com lideranças, na próxima quarta-feira (dia 10), em Brasília, que o partido volte a se chamar MDB (Movimento Democrático Brasileiro). “O P de partido foi uma imposição da ditadura que nós queremos tirar”, disse Quércia. “Queremos a volta do velho e combativo MDB para marcar os nossos novos rumos”, complementou Temer.

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