Direita está afoita para enterrar o PT

Estrela do ato público contra a política econômica, realizado ontem pela manhã, em Curitiba, um dos coordenadores nacionais do Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, disse que para sair da crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria que restabelecer a aliança com o movimento popular e fazer as mudanças estruturais que prometeu durante a campanha eleitoral de 2002.

Convocada por entidades do movimento social e sindical ligadas à Coordenação dos Movimentos Sociais, a manifestação foi a primeira mobilização pública dos setores tradicionalmente aliados ao Partido dos Trabalhadores, depois que estourou o escândalo do mensalão, em que integrantes da cúpula petista são acusados de pagar a deputados de vários partidos para apoiarem o governo no Congresso Nacional.

A manifestação, batizada de "Dia Nacional de Luta contra a Política Econômica", começou na praça Santos Andrade e foi parar na frente do prédio do Ministério da Fazenda, na rua Marechal Deodoro, onde os manifestantes se concentraram e foram realizados os discursos contra a linha de condução da economia do país, comandada pelo ministro Antônio Palocci. Além das críticas ao modelo Palocci, foi distribuído um documento chamado "Carta ao Povo Brasileiro", em que a CMS alerta para uma ação articulada das forças conservadoras para debilitar o governo Lula.

Para Stedile, o centro da questão está na falta de ousadia do governo petista. "A essência da crise política que o Brasil vive hoje está no fato de não terem sido realizadas mudanças na política econômica do País. Infelizmente o presidente Lula deu continuidade à política neoliberal realizada por Fernando Henrique Cardoso", disse o integrante da direção nacional do MST, João Pedro Stedile.

Ele criticou as forças conservadoras, "de direita", que estariam afoitas para distribuir o espólio do PT. "Em geral, os parlamentos, no Brasil, não representam o povo e sim os interesses das elites. Infelizmente sobrou para o PT, que copiou os métodos da burguesia", disse. O representante do MST disse que o governo Lula está sustentando uma política econômica cada vez mais distanciada das propostas que apresentou durante a campanha eleitoral. "A política atual não resolve os problemas do povo, que continua convivendo com baixa renda, falta de atendimento nas áreas de saúde e educação, desemprego e necessidade de uma reforma agrária", afirmou o representante do MST.

Stedile fez comparações entre os governos Lula e FHC na criação de empregos. "Em 1980, nós tínhamos um milhão de desempregados, depois do governo FHC, eram dezoito milhões. Com o governo Lula, o país cresceu menos do que a média dos países da América Latina e da economia mundial, isso graças ao continuísmo da política neoliberal que é sustentada por Palloci", declarou Stedile.

Ele participaria de um debate público à noite sobre o modelo econômico, junto com o presidente da União Nacional de Estudantes, Gustavo Peta, e o secretário nacional de Comunicação da CUT, Antônio Carlos Spis. A União Nacional de Estudantes (UNE), União Paranaense de Estudantes (UPE), União Curitibana de Estudantes (UCE), União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), o MST, a CUT, a Comissão Pastoral da Terra, a União Brasileira de Mulheres, organizações não governamentais e sindicatos foram os promotores da manifestação. 

Poucos deputados do PT foram ao protesto

Poucos deputados petistas participaram do ato contra a política econômica realizado ontem em Curitiba. Entre os presentes estavam a deputada federal Clair da Flora Martins e o deputado estadual Tadeu Veneri (PT). "No próximo Orçamento estamos destinando R$ 92 bilhões para o pagamento dos juros da dívida, e estamos deixando somente R$ 11 bilhões para investimentos em infra-estrutura. É muito pouco para um país que precisa crescer e gerar empregos", discursou a deputada, que defende uma auditoria nas dívidas interna e externa.

Para Clair, esse é o momento de o governo Lula reafirmar seus compromissos com os movimentos que deram origem ao Partido dos Trabalhadores. "Não queremos que o governo debata o pacote do Delfim Netto, nós queremos que o governo debata as propostas que nasceram das organizações populares, como a da auditoria das dívidas." Já Veneri afirmou que o governo deve se reaproximar das ruas, que foi o motor da sua eleição em 2002, e se afastar dos grupos que representam interesses estranhos aos da maioria da população brasileira. (EC)

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