Polícia Federal acredita que há algo errado no combate a PCC

Em audiência pública na CPI do Tráfico de Armas, o superintendente regional da Polícia Federal de São Paulo, Geraldo José de Araújo, disse nesta segunda-feira (4) que "alguma coisa está errada" no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele, no entanto, não soube apontar onde está a falha. Para o delegado, é preciso buscar uma explicação para o fato de 90% dos líderes da facção criminosa estarem presos e o PCC continuar em ação com operações cada vez mais ousadas. Araújo afirmou que a facção pratica um "crime organizado à brasileira" porque foge do padrão desse tipo de organização em outros países. "O crime organizado não age com a violência do PCC", comparou.

"Sempre me pergunto onde o Estado vem falhando. Até onde fica o ônus? Só em cima da polícia", disse o superintendente, que participou como representante do Ministério da Justiça. A audiência teve a presença de mais de 30 autoridades de investigação federais e estaduais, entre secretários, policiais e representantes do Ministério Público. "Estou tentando descobrir onde está a falha", repetiu o delegado depois da audiência.

Segundo Araújo, o PCC pratica um "crime organizado híbrido": se por um lado tem os quatro princípios teóricos de cooptação, infiltração, intimidação e eliminação dos adversários, pratica em excesso ações que espalham pânico na população. "O ataque à população, aos agentes públicos não é marca do crime organizado" disse o delegado.

Segundo Araújo, "há um avanço progressivo" na integração das polícias para o combate ao PCC. O superintendente desabafou: "É um fardo muito grande.

Araújo explicou que a tentativa da facção criminosa de assaltar bancos em Porto Alegre e Maceió, frustrada pela Polícia Federal com prisões de criminosos que cavavam túneis até as instituições financeiras, mostra que o PCC "está precisando de dinheiro" e voltou a recorrer aos assaltos. "Antes havia muito assalto a banco, que diminuiu com a intensificação do tráfico de drogas. Agora, o tráfico está sufocado e eles precisam de dinheiro", disse o delegado. Araújo disse não ter dúvidas da participação do PCC no assalto ao Banco Central de Fortaleza há um ano, de onde foram levados R$ 164,8 milhões. O delegado informou que, das últimas 40 toneladas de drogas apreendidas em São Paulo pelas polícias Federal e Civil, 80% pertenciam ao PCC.

Estiveram na CPI o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, e o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Márcio Paulo Buzanelli. "A sociedade brasileira está em uma encruzilhada, é preciso aumentar a eficiência no combate ao crime organizado. As ferramentas que temos à disposição das autoridades são absolutamente insuficientes para dar conta desse fenômeno", disse o relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS). A reunião continua amanhã.

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