Vinho artesanal, uma tradição familiar

O bairro de gastronomia italiana mais conhecido de Curitiba, Santa Felicidade, também é referência em vinhos. Apesar dessa fama, a produção de vinhos, trazidas pelos primeiros italianos em 1878, já está quase extinta no local. Algumas famílias, no entanto, fazem questão de manter a tradição, mas a peste pérola, ocorrida há mais de vinte anos, dizimou os grandes parreirais.

Um dos poucos a ter parreiral em casa ainda, Dionízio Durigan mantém na região apenas 3 mil pés, em aproximadamente um alqueire. Ele também buscou alternativa em outro município, Campo Magro, onde tem nove mil pés, em cerca de cinco alqueires. Já uma das cantinas mais tradicionais de Santa Felicidade, a Dall?Armi, produz vinho com uvas vindas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e do Norte do Paraná. A peste pérola pode ter dizimado os parreirais, contudo não conseguiu acabar com a simpatia e a receptividade dos italianos.

Muita coisa mudou desde a chegada dos primeiros imigrantes italianos. A tecnologia, mesmo que modesta, está presente nas fábricas de vinho. Na época dos avós de Moacir Caliari, as uvas eram moídas com os pés e o processo todo manual. Hoje, até por uma questão de higiene, não é possível fazer da mesma forma. “Acompanhamos as técnicas mais rústicas e tudo é artesanal. Temos apenas máquinas para moer as uvas. Nas cantinas, o último contato direto com as uvas é na colheita”, explica o filho Paulo César Caliari, que preserva os costumes dos pais.

Na época de moagem e engarrafamento, Moacir e sua esposa, Maria Sunta, além dos filhos, contam com a colaboração de parentes. A produção da família Caliari varia de quatro a cinco mil litros por ano. Boa parte é destinada ao consumo próprio e o restante é vendido em casa para clientes cativos, que preferem o vinho mais forte. Como não há interferência de equipamentos, cada tonel tem sua própria história. “O próprio tempo altera o sabor, mas há pessoas que valorizam isso”, relata Paulo César. Eles também comercializam geléias, sucos e vinagre. Neste fim de semana, os produtos poderão ser encontrados na 20.ª Festa do Vinho, que está acontecendo no Bosque São Cristóvão.

História dos Dall?Armi

Dos tempos dos nonos restou a vontade de manter a tradição. Mesmo que para isso seja necessário buscar uvas em outras regiões, como faz a família Dall?Armi, dona de uma das mais tradicionais cantinas de Santa Felicidade. Toda a história e tradição é mantida com orgulho por Lineu Dall?Armi, proprietário da cantina.

Seu avô Giovanni Baptista Dall?Armi saiu de Pádua em dezembro de 1888 no navio Fanfula, chegando no Brasil um mês depois e se instalando em Santa Felicidade. Segundo Lineu, na época, todos os italianos trabalhavam na lavoura. Mas seu avô não deixou de lado o dom de preparar um bom vinho. “Como italiano, em vez de café, gosto de servir vinho”, conta. Essa receptividade serviu de propaganda e, antes da Primeira Guerra Mundial, começou a aumentar a produção. Até que em 1830, Giovanni já produzia quinze mil litros por ano. Hoje, Lineu produz entre 130 e 150 mil litros por ano. “A gente foi adquirindo mais técnica, mas o vinho é feito da mesma forma”. Tanto que Lineu considera fundamental provar os vinhos diariamente.

Há uma semana, o vinho Dall?Armi de uva Isabel ganhou certificado de 100% puro da Universidade Estadual Paulista. “Não colocamos nada de açúcar”, garante a filha de Lineu, Lesiane Dall?Armi, responsável pela loja. Embora exista uma máquina para moer as uvas, a produção é considerada artesanal. “Para fazer a maturação não tem refrigeração em volta. Temos que rezar para São Pedro”, brinca Lesiane. (JM)

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