Sobrevivente de Nagasaki não esquece a tragédia

Há exatos 57 anos, o Japão e o mundo viveram uma das maiores tragédias da humanidade. Era lançada a bomba atômica sobre Nagasaki. Hiroshima havia sido atacada três dias antes. O granjeiro Shiro Uchino, de 70 anos, vive na Região Metropolitana de Curitiba, em Araucária, e é sobrevivente da catástrofe. Ele guarda na memória as lembranças daquela tarde de verão, quando viu a cidade japonesa arder, sem se dar conta do que estava acontecendo.

Uchino tinha 13 anos na época e morava a 28 km do local onde a bomba foi lançada. Era uma tarde quente de verão e eles estava no campo colhendo abóboras. “Quase não havia comida por causa da guerra”, lembra. De repente começou a ouvir barulhos parecidos com trovões, estava certo que ia chover. Mas um estrondo muito mais intenso jogou-o ao chão. Em seguida, foi tomado por uma onda de calor. A esta altura entendeu que se tratava de uma bomba, porém ninguém tinha consciência das proporções que ela atingiria.

Naquele momento os moradores da pequena Nomozaki olhavam perplexos para o grande cogumelo que havia se formado. Mas Uchino lembra que a imagem que perdurou por mais tempo foi só a da parte de cima, o “chapéu”. Ela relata que a nuvem de fumaça girava em espiral, ficando cada vez mais vermelha. Parecia que ia em direção a sua localidade. “Até a hora em que fui dormir ela estava lá no céu, girando. Para mim era uma grande abóbora”, conta. No outro dia, só o rádio trazia notícias. Descobriram que se tratava de uma bomba atômica.

“Gente que virou carvão, gente derretida, gente grudada com criança no colo. Nem os vegetais vão crescer mais”, eram estes os comentários na época. Uchino conta que na localidade onde morava nada aconteceu, foram apenas espectadores da tragédia. Depois de um ano pôde visitar a cidade atingida e tudo em volta denunciava o ocorrido. Estava tudo destruído. Na rua os comerciantes, que perderam suas lojas, viraram ambulantes. As mercadorias e o dinheiro eram escassos. “Vendiam ou trocavam o que tinham.”

Doze anos depois, ele resolveu vir para o Brasil. Aqui casou e constitutiu família. “Quando vim para cá achava que era japonês, mas quando retornei ao meu país de origem não me sentia igual a eles. Soube então que era brasileiro.” A primeira viagem ao Japão foi em 1970. De volta ao Brasil, o primeiro passo foi tomar um gole de cachaça. “Aí soube que estava em casa”, completa.

Do que aconteceu ele não guarda mágoas, só espera que as novas gerações não esqueçam o sofrimento de seus pais e avós.

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