Sem-teto ocupam antigo prédio do Banestado

O edifício Sentiler, antiga sede do Banestado no Centro de Curitiba, foi tomado na madrugada de ontem por um grupo de 40 famílias de sem-teto. A ação foi coordenada pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia, e a promessa, ontem pela manhã, era de deixar o local apenas com a apresentação de um projeto de assentamento urbano por parte da Prefeitura.

A ocupação do prédio vazio da Avenida Marechal Deodoro, n.º 333, aconteceu por volta da 1h30. Segundo um dos coordenadores nacionais e estaduais do movimento, Anselmo Schwertner, cerca de 80 sem-tetos derrubaram a porta do estabelecimento e ocuparam o edifício. Todas as famílias são de Curitiba, que moram de favor nas casas de parentes ou amigos, ou vivem de aluguel.

Segundo estimativa do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, há pelo menos 100 mil famílias na Região Metropolitana de Curitiba sem moradia regular. “Queremos uma reforma urbana, negociar um assentamento urbano, já que a Prefeitura de Curitiba não tem política habitacional para os pobres”, apontou Schwertner. “Cerca de 10% dos imóveis de Curitiba são ociosos, não cumprem papel social, enquanto 10% da população mora na periferia da periferia.”

Schwertner afirmou que, no Brasil, há 6 milhões de imóveis ociosos, e o IBGE apontaria para cerca de 6 milhões de pessoas sem-teto. O coordenador do movimento, no entanto, acredita que o número de pessoas que vivem em moradias irregulares seja de 15 milhões.

O Movimento Nacional de Luta pela Moradia existe há doze anos. Em Curitiba, ele foi criado em 1995. Segundo Schwertner, invasões em vários locais do Estado foram bem-sucedidos, como no Jardim Gramado em Cascavel, além de Araucária, Almirante Tamandaré e Curitiba.

Despejada

A vendedora Luzia de Campos Xavier, de 34 anos, participou da ocupação. Moradora da Vila Sandra 3, em Campo Comprido (zona oeste), ela contou que aderiu ao movimento em nome da sogra, de 70 anos de idade, que foi despejada pela Cohab há seis anos. “Ela não tem como pagar o aluguel”, comentou.

O filho de Luzia, Daniel de Campos, 20, também aderiu ao movimento. Pai de duas crianças, Daniel contou que paga R$ 150 de aluguel e que agora, desempregado, não tem mais condições de arcar com a despesa. “Sei que é arriscado o que estamos fazendo, mas é preciso”, comentou, referindo-se aos perigos da ocupação.

A vendedora Aparecida de Ribeiro, 45, mora de favor na casa do sogro há mais de 12 anos. Ontem, estava no prédio do antigo Banestado, na expectativa de conseguir uma moradia própria. “Não tenho medo porque é uma necessidade”, comentou.

A PM chegou ao local por volta das 8h, mas não houve confronto. Segundo o soldado Joélson, a ordem era deixar entrar e sair do prédio aqueles que já estavam nele desde a madrugada, ficando proibida a entrada de mais pessoas. Até o fim da tarde, não havia ordem judicial para desocupação do local. O prédio tem nove andares e é de propriedade particular.

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