Perseguido pela ditadura diz que a luta não mudou

Terminou ontem o prazo para que parentes de mortos ou desaparecidos em conseqüência de perseguição política durante a ditadura militar solicitassem indenização ao Ministério da Justiça. Os valores variavam entre R$100 mil e R$150 mil e beneficiavam pessoas desaparecidas entre 2 de setembro de 1961 e 15 de outubro de 1988.

No Paraná muitas pessoas sofreram devido à forma arbitrária como os governantes agiam naquela época. A censura aos meios de comunicação não foi apenas uma repressão profissional a alguns jornalistas, mas em muitos casos chegou a causar prejuízos físicos a eles.

O jornalista Walmor Marcellino é um daqueles que muito sofreu devido à ditadura. Acusado de subversivo e comunista pelo militares, Marcellino chegou a ser preso por quatro vezes e ter seu direito ao trabalho cassado. Ele foi indenizado em 1998 quando entrou com um processo no Ministério do Trabalho pedindo direitos sobre 17 anos em que teve que trabalhar clandestinamente. Mas para Marcellino mais importante que o dinheiro, a sociedade poderia pagar as pessoas que lutaram pela democracia com um pouco mais de reconhecimento e, principalmente a continuidade da luta. “As reformas que são pedidas hoje são as mesmas pelas quais lutávamos durante a ditadura. Seria importante que as pessoas se conscientizem e lutem para elas aconteçam”, pediu, lembrando de sua primeira prisão quando após um interrogatório na Assembléia Legislativa, onde trabalhava, foi levado por homens da Delegacia da Ordem Política e Social (Dops).

Autocensura

Marcellino também teve que se “explicar” muitas vezes ao governo militar, por ter trabalhado no jornal a Última Hora , considerado comunista. Com ele também mais 18 jornalistas, um deles Milton Ivan Heller. Este que também tem péssimas memórias da ditadura militar. “Além da censura, o pior era a autocensura. Nos sentíamos violentados intimamente quando tínhamos que reprimir nossas próprias idéias”, revelou Heller. Ele disse que de bom daquela época apenas a solidariedade dos colegas de profissão e de outras áreas. O jornalista que retratou suas experiências no livro Resistência Democrática-A Repressão no Paraná, destacou que excetuando-se a equipe de esportes e os colunistas sociais, toda a equipe do Última Hora foi considerada subversiva pelo Conselho Permanente da Justiça Militar. “Somente depois de muito tempo tivemos um habeas corpus e pudemos deixar de prestar depoimentos periódicos. Resolvi então trabalhar com esportes, era uma área onde havia bem menos perseguição. Como repórter de geral cheguei a ser proibido de cobrir um desfile de 7 de setembro, não me deram a credencial da 5.ª Região Militar por me considerarem subversivo”, contou Heller. Ele lembrou que nem como cronista esportivo teve total sossego. “Critiquei um ato do presidente da Federação Paranaense de Futebol, José Milani e o vice dele, Altair Cavali, que era professor na Escola de Polícia, me denunciou como subversivo. Felizmente já havia sido inocentado antes e nada aconteceu”, contou Heller, que desistiu de receber a indenização.

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