Neurologistas apontam sono como vilão do trânsito

Vitória  (Enviado especial) ? Não são somente o excesso de autoconfiança e as condições precárias nas estradas os grandes responsáveis pelos altos índices de acidentes registrados nas rodovias brasileiras. Outro vilão são os distúrbios do sono, que interferem na concentração e nos reflexos do motorista. Levantamentos mostram que mais de 50% dos acidentes que ocorrem à noite estão relacionados à sonolência.

No Brasil, os neurologistas Sérgio Barros, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Sono, e Dalva Lúcia Poyares, professora da Universidade Federal de São Paulo, desenvolvem um trabalho para avaliar a incidência de sonolência nos acidentes ocorridos nas rodovias federais. “Acreditamos que no Brasil temos cerca de 20% de acidentes causados pela sonolência”, explica a médica. Os dados dessa pesquisa foram apresentados ontem, durante o 9.º Congresso Brasileiro de Sono, em Vitória (ES).

Os distúrbios do sono, aliada à excessiva carga horária de trabalho e o uso de drogas psicoativas (comprimidos para o sono), contribuem para o aumento do risco de acidentes. Dados do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Denit) apontam que 40% de todas as mortes em acidentes de trânsito ocorrem no fim de semana, no período da noite, devido à perda de controle do veículo pelo condutor. A sonolência é o principal fator que ocasiona esses acidentes. “O motorista fica sem concentração, e num simples piscar de olhos, já perde o controle do veículo, causando o acidente. O efeito do sono é igual ao de uma bebida alcoólica ou de outras drogas. Uma pessoa com insônia acaba dormindo ou cochilando em ocasiões em que deveria estar com atenção total”, afirma Sérgio.

Campeão mundial de insônia

Durante o Congresso, também foram apresentados resultados de um amplo estudo internacional que avaliou os hábitos e distúrbios de sono, além da forma com que as pessoas lidam com a insônia em várias partes do mundo. No Brasil, a pesquisa revelou que, dos 1.999 pacientes participantes, 13,9% classificaram-se como “supostos insones” e 79,7% como “insones?, ou seja, 93,7% dos entrevistados apresentaram um problema relacionado ao sono. A pesquisa demonstrou ainda que 42% dos brasileiros cochilavam durante o dia, devido a uma noite mal dormida, enquanto que os índices de cochilo de quatro em cada entre cada cinco países europeus que participaram da pesquisa mantinham-se em aproximadamente 20%. O Brasil também liderou a lista no que se refere à indução tardia do sono, já que 61,4% dos entrevistados disseram aos entrevistadores que o sono demora a chegar.

“A situação é realmente preocupante e deve ser tratada com profunda importância. Outro dado relevante é o número de pessoas que se medicam sozinhas. 13% iniciaram o uso de medicamentos sem prescrição médica. Qualquer uso de remédios para combater a insônia deve ter o acompanhamento médico, para que não ocorra nenhum problema posterior”, afirma Dalva Lúcia Poyares, da Universidade Federal de São Paulo.

Segundo a pesquisa mostrada durante o Congresso, todas essas constatações levaram a Organização Mundial de Saúde (OMS) a considerar a insônia um problema de saúde pública que requer cuidados e um esforço de autoridades e organizações de saúde para identificar o problema e o seu respectivo tratamento. (RCJ)

Detrans defendem a “humanização”

Mudar a consciência de quem trabalha com trânsito e é responsável pela formação dos motoristas é a base das discussões do 3.º Congresso Brasileiro de Trânsito e Vida, que começou ontem, no Expotrade, em Pinhais. Até amanhã, técnicos de Detrans (departamentos de trânsito dos estados), empresas de formação de condutores e que produzem material sobre o tema vão discutir formas para humanizar o setor.

De acordo com o presidente do congresso, Edson James Rasera, o fator humano é essencial nas questões do trânsito. “O homem é quem decide qual vai ser seu comportamento no trânsito”, lembrou. Para que se consiga formar motoristas conscientes, ressalta, é preciso que quem trabalha na preparação também esteja ciente do seu papel nesse processo.

De acordo com dados do Detran-PR, no ano passado foram registrados no Estado mais de 28 mil acidentes de trânsito com vítimas, que deixaram um saldo de 1.501 mortes e mais de 40 mil feridos. Segundo Rasera, esses números demonstram que há uma verdadeira guerra nas estradas, com igual característica no País. “E esses números tendem a aumentar se não for feito nada no sentido de educar e orientar os motoristas”, afirmou.

Para o presidente da Federação Nacional das Associações de Funcionários dos Detrans (Fenasdetran), Mário Conceição, não é possível aceitar que 70% dos leitos de hospitais no País sejam ocupados por vítimas de acidentes de trânsito. “O governo gasta muito dinheiro para manter esses pacientes, sendo que esse dinheiro poderia ser investido em outros setores”, comentou. Ele diz que as campanhas de trânsito devem ser permanentes.

As conclusões do congresso serão enviadas a órgãos como o Denatran e Contran. (Rosângela Oliveira)

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