MST participa de plenária na capital à porta fechada

A portas fechadas. Assim foi realizado o Encontro das Coordenações dos Movimentos Sociais, ontem, em Curitiba, com a presença do coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile. Depois do mal-estar causado na semana passada, quando Stédile declarou que o movimento iria “infernizar” o País com ocupações em abril, a imprensa foi impedida de acompanhar o evento em Curitiba. “O que dizemos entre nós não é público. Essa norma faz parte da natureza democrática das instituições”, alegou Stédile. A coletiva improvisada à imprensa aconteceu do lado de fora do centro de convenções, onde ocorria o evento. Ele negou que o fato tenha relação com o episódio ocorrido no Mato Grosso do Sul.

Stédile criticou a morosidade da reforma agrária no Brasil e afirmou que as mobilizações devem ser intensificadas este mês. “A jornada de abril é um processo que acontece praticamente todos os anos, em função do massacre em Eldorado dos Carajás. Este ano as manifestações tendem a ser mais volumosas, justamente porque a reforma agrária no Brasil está muito lenta”, adiantou. “Se não acelerar a reforma agrária, o desemprego só vai aumentar.”

Segundo ele, o governo “precisa tratar a reforma como um plano amplo.” “É preciso fazer vistoria dos latifúndios improdutivos, fazer desapropriações e, casado com isso, implantar programas de agroindústria, de crédito rural desburocratizado, de assistência técnica”, afirmou. Segundo ele, das 500 mil famílias assentadas no passado, apenas 64 mil tiveram acesso ao crédito.

Stédile reafirmou a importância de reestruturação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “O governo não pode dizer que a reforma é questão do Incra e ele que resolva. O Incra tem que ser reestruturado, faltam recursos materiais, humanos”, afirmou, acrescentando que sem reestruturação não há como assentar as 115 mil famílias previstas para este ano.

Sobre a ampliação do orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário, prometido pelo presidente Lula – suplemento de R$ 1,7 bilhão -, Stédile afirmou que ficou satisfeito “não pelo volume, mas pelo sinal de preocupação” que ficou demonstrado. “Dinheiro existe. O que falta é operacionalizar. É a decisão política de fazer a reforma agrária”, disse, acrescentando achar possível que o governo cumpra a meta de assentar 400 mil famílias até 2006. “A reforma agrária depende mais de nós do que do governo. Depende dos processos de mobilização nacional. E a nossa tarefa é de organizar as 400 mil famílias, e nós vamos fazer isso para que o governo cumpra o seu lado.”

Líder ignora o discurso de Lula

O líder nacional do MST, João Pedro Stédile, ignorou as palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, em inaugurações de obras no Mato Grosso do Sul, Lula disse que não aceitaria a reforma agrária “na pressão e no grito”.

Segundo Stédile, o movimento não faz bravatas pela imprensa. Para ele, o governo falou isso para os proprietários de terras, não para o MST. “É uma opinião pessoal do presidente, mas nós do MST não vestimos a carapuça. Eu acho que o recado dele foi para os latifundiários improdutivos. Nossa leitura é que o governo disse para os latifundiários, eu vou fazer a reforma agrária, e numa reforma agrária os beneficiários somos nós”.

Stédile não poupou a política econômica. “No tema da reforma agrária, o ministro Palocci está adequado às necessidades, até porque R$ 3 bilhões é muito pouco, para o volume que o Tesouro paga de juros é insignificante”, afirmou.

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