Mãe Curitibana ajuda gestantes no parto

Quase 90% das gestantes de Curitiba atendidas pelo Sistema Único de Saúde se vinculam à unidade de saúde mais próxima da sua casa até o quarto mês de gravidez. O índice, de 86%, divulgado pelo Ministério da Saúde, nesta semana, coloca Curitiba em larga vantagem sobre as demais capitais. O segundo lugar ficou com Belo Horizonte onde o vínculo até o quarto mês ocorre em 47% dos casos.

A vinculação a uma unidade de saúde significa que a gestante está fazendo pré-natal e recebendo acompanhamento médico ao longo da gravidez e é uma das metas do Programa de Humanização do Parto, versão implantada pelo governo federal, inspirada no programa Mãe Curitibana. A humanização do parto é um dos ingredientes do programa Mãe Curitibana e, em Curitiba, faz parte das metas dos nove hospitais-maternidade integrados ao programa.

A quase totalidade (97%) dos partos feitos pelo SUS, em Curitiba, são de gestantes vinculadas ao Mãe Curitibana que, como o programa do Ministério, têm como objetivo principal a garantia do parto. Por isso, assim que ingressam no Mãe Curitibana as gestantes já ficam sabendo onde o bebê vai nascer. Diferente de outras cidades, aqui elas participam de oficinas que as preparam para o parto e visitam a maternidade durante a gravidez, para que possam se familiarizar com o ambiente onde o bebê vai nascer.

Carta

“Minha mulher gostou das massagens, do banho e dos conselhos. Adorei cortar o cordão umbilical da minha filhinha.” O trecho, da primeira carta que faz parte do livro de depoimentos da Maternidade Victor Ferreira do Amaral, reaberta no ano passado depois de ficar mais de dez anos desativada, revela os resultados do que a medicina chama de humanização. A carta é assinada pelo pai da menina Maria Vitória, que nasceu no dia 29 de novembro.

No livro também estão relatados os passos da humanização de cada parto. Neste, o pai fez massagem na sua mulher que também tomou um banho relaxante, o parto foi feito na posição vertical ? a mais confortável para a gestante ? ao som de música, e na penumbra.

Respeito e informação

Na Maternidade Victor Ferreira do Amaral, as gestantes vinculadas às unidades de saúde fazem uma visita antes do dia do parto. Mas a humanização vai muito além disso. “Elas têm direito ao respeito, por isso todas são tratadas pelo nome e têm direito à informação Tudo o que vai acontecer durante o parto é previamente informado às gestantes”, diz a assistente social da Maternidade, Regiane Liberato Jarzinsky.

E esta regra vale para tudo ? desde os medicamentos que elas receberão, até a decisão sobre o uso de anestesia para o parto sem dor, que é também avaliada pelo médico. “A maior vantagem do Mãe Curitibana é justamente que a paciente é livre para escolher o que for melhor para ela: damos as informações mas não impomos nada”, relata a obstetra Márcia Nicol. “Ela escolhe como se sente melhor, escolhe a posição em que o bebê vai nascer. Se tiver que ser feita uma cesariana, a mãe tem que saber o porquê.”

Na 41.ª semana de gravidez, a dona de casa Patrícia da Silva, de 23 anos, esteve na maternidade para uma consulta de rotina e acabou ficando para o nascimento do primeiro filho. Ela recebeu massagem nas costas e fez ginástica que acelera e ajuda no trabalho de parto. “O trabalho de parto é longo. É preciso dar as condições para que a mãe sinta-se relaxada e tranqüila na hora em que seu bebê nascer”, analisa a enfermeira Aline Calça.

Além de contar com massagem lombar e aparelhos específicos de ginástica para o parto, na Maternidade Victor Ferreira do Amaral as gestantes recebem muito líquido para garantir a reposição e são incentivadas a caminhar para adiantar o trabalho de parto. “A humanização do parto deixa a mãe mais tranqüila e o parto evolui mais rapidamente”, defende a enfermeira. “A humanização nos leva a uma mudança profunda. Trata-se de uma mudança de mentalidade.”

Cartório

Gestantes adolescentes têm um atendimento diferenciado. A menina Aline da Rosa Santos, 16, teve o apoio da tia todo o tempo em que esteve na maternidade. Uma das salas do centro obstétrico é destinada às adolescentes que têm direito a um acompanhante durante todo o tempo. “É importante o apoio da família porque a gente se sente mais segura”, afirmou ao registrar, na própria maternidade, o filho Gustavo, que nasceu no dia 3 de dezembro.

Esta é uma das novidades na maternidade. Desde o final de novembro, o Cartório do 4.º Ofício do Registro Civil mantém uma funcionária na maternidade para fazer os registros. Os pais podem levar o documento antes mesmo de ir para casa.

Outro diferencial da Maternidade Victor Ferreira do Amaral ? reaberta no ano passado, numa parceria entre Universidade Federal do Paraná (UFPR), governo do Estado e Prefeitura de Curitiba ? são as camas especiais que permitem que o pré-parto, o parto e o pós-parto sejam feitos na mesma cama. “A gestante experimenta a melhor posição porque a cama PPP permite várias posições diferentes”, ensina a enfermeira Aline.

A partir do nascimento, o bebê permanece com a mãe o tempo todo. Ela é incentivada e orientada para que possa amamentar e dar o banho no bebê. E também é incentivada a ter a presença do pai. A nutricionista orienta sobre a alimentação mais adequada enquanto a mãe estiver amamentando.

Ao visitar a maternidade antes do parto, as gestantes podem tirar dúvidas, conhecer as instalações e se familiarizar com o ambiente onde o bebê vai nascer. “Esta desmistificação da maternidade faz uma grande diferença. Elas podem até chegar à maternidade com alguma ansiedade em relação ao parto mas ingressam muito mais preparadas”, assegura a psicóloga Camila Lapin Giubbina, que já atuou em maternidades de outras cidades brasileiras.

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