Estado do Paraná quer ter o litoral mais seguro do Brasil

O veranista que deixa a cidade e vai para o litoral em busca de tranqüilidade chega a esquecer que vários tipos de crimes ou desordens acompanham as férias. E que, enquanto há diversão na areia, há também muito trabalho para milhares de policiais enviados às praias paranaenses para a temporada. Este ano, eles somam um efetivo de três mil homens, focados em projetos que deram certo na temporada passada, como o combate ao som alto, e em problemas mais graves, como o tráfico de drogas e os roubos a residências.

Por conta do aumento da população rotativa nas praias, a segurança acaba se transferindo para o litoral também. Este ano, o trabalho integrado entre as polícias Militar, Civil, Florestal, Rodoviária e Corpo de Bombeiros busca repetir as ações do verão passado, quando o governo estadual implementou a Operação Viva o Verão – que começou no último dia 16 e vai até 6 de março dessa vez. Os resultados foram bem vistos pelos turistas e pela população litorânea, e terão abrangência maior na temporada 2005/2006, garante a Secretaria de Segurança Pública do Estado (Sesp).

A meta do governo estadual de ter o litoral mais seguro do País é ousada, mas as ações são consideráveis. A primeira delas é o aumento do número de policiais em ação – de 2.500 no verão passado eles passaram a 3 mil este ano, atuando no litoral, na costa oeste e, pela primeira vez, na costa norte do Estado, que concentra grande número de turistas na Represa do Capivara, divisa com São Paulo, na região de Londrina. Lá, estão atuando cerca de 200 policiais. Na costa oeste eles somam 700, contra 500 no verão anterior.

No litoral, a novidade é a implementação de um posto que unifica as coordenações das polícias e da Sesp em Matinhos, integrando as ações em conjunto. Cerca de dois mil homens serão coordenados a partir do local, dando mais agilidade às operações diárias nas praias – que visam o combate de crimes de diversas naturezas, incluindo desde vistorias a veículos em busca de drogas, até desmembramento de quadrilhas do tráfico ou de assaltantes de residências. Os crimes contra o meio ambiente também estarão em evidência, bem como aqueles contra a ordem pública. A Operação Sossego Público promete cerco arrochado aos que perturbarem a tranqüilidade alheia com som alto nos carros.

A base no litoral também conta com uma equipe de geoprocessamento, que fará o mapa do crime na região, assim como acontece em Curitiba. Trata-se de um sistema informatizado de avaliação das ocorrências – que a partir deste ano estão sendo registradas num único boletim, feito a partir do atendimento policial. O sistema, interligado ao geoprocessamento, dá subsídios para levantar onde estão acontecendo os crimes e os horários de maior incidência.

Além disso, a Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu) – grupo envolvendo as polícias Militar e Civil, em parceria com prefeituras – está fiscalizando estabelecimentos comerciais, como bares e hotéis de grande rotatividade. Tudo é avaliado, desde a presença de menores tomando bebida alcoólica e revista, à procura de drogas até alvarás de funcionamento e condições de higiene nas cozinhas.

A Sesp também informa que, nos fins de semana, o efetivo recebe reforços e o número de homens chega a até 2.700, contando com equipes das Rondas Ostensivas de Natureza Especial (Rone), Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e da Companhia de Choque da PM. O posto da coordenação da Operação Viva o Verão fica na Rua Roque Vernália, 294, na praça central de Matinhos.

Tráfico e som alto são intoleráveis

A ordem do secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, é clara: ?tolerância zero ao som alto e ao tráfico de drogas?. A primeira medida é polêmica. Em caso de reclamação, a polícia adverte e, se houver reincidência, multa e pode até recolher a aparelhagem. Existe um consenso entre os veranistas quanto ao excesso de barulho à noite, mas durante o dia não se pode dizer o mesmo. ?Eu até gosto do som, anima a praia?, opina a estudante Mariana Endler, que passa férias em Guaratuba. Outro estudante, Luciano Carbonel, que está em Caiobá, acha que o problema mesmo é não respeitar o gosto de cada um: ?Se for no horário certo, não tem problema, mas não gosto de ficar ouvindo os tipos de música que colocam?.

Quem gosta de aumentar o volume também reclama, mas da fiscalização. ?Não sei se estou incomodando ou sendo incomodado?, desabafa o comerciante Antônio Roberto Ribas, logo após uma advertência para baixar o som. ?Já vieram duas vezes me chamar a atenção, mas estava só com 20% do volume total?, defende-se, opinando que a repressão maior deve se centrar no combate ao tráfico no litoral: ?Drogas ainda tem bastante, infelizmente. Ontem à noite tinha gente ?repassando? aqui na frente?. A casa de veraneio de Ribas fica em frente à praia de Guaratuba, na região central; um dos locais mais movimentados da praia.

Segundo a Sesp, o combate às drogas funciona com o policiamento preventivo nas ruas. Quem é pego com os entorpecentes é imediatamente detido. A divisão de narcóticos também está no litoral para descobrir onde estão os traficantes, como é feita a distribuição e para auxiliar nas batidas em favelas. Turistas e população podem auxiliar através do Narcodenúncia pelo telefone 181. Outros telefones úteis na praia: 190 (Polícia Militar); 193 (Bombeiros); 08006430304 (Força Verde, em caso de denúncias referentes ao meio ambiente); 198 (Polícia Rodoviária); e 147 (Polícia Civil). (LM)

Guarda-vidas incentivam a prevenção

Dos 700 bombeiros enviados ao litoral para a temporada, pelo menos 400 atuam como guarda-vidas nos 96 postos espalhados pelas praias. O restante está atuando nos atendimentos pré-hospitalares, junto às ambulâncias do Siate, e prevenção e combate a incêndios.

Como o foco maior nessa época é a praia, eles procuram prevenir para evitar acidentes. ?A gente orienta que as pessoas procurem tomar banho de mar das 8h às 20h, que é o horário em que os guarda-vidas estão nas praias?, alerta o tenente do Corpo de Bombeiros Leonardo Mendes dos Santos. Placas de advertência também devem ser respeitadas. ?Os locais de risco mudam de ano para ano. Se no ano passado a pessoa conhecia a região e pensa que ainda é segura, nessa temporada pode acabar entrando em lugar com buracos ou onde o mar puxa.? Ficar perto dos postos de salva-vidas também é dica valiosa.

Crianças

A prevenção é feita ainda por meio de panfletos educativos a respeito de tudo que acompanha o verão, como os cuidados com o mar, o sol, a alimentação e inclusive com as crianças, que este ano receberão pulseiras de identificação. Em caso de perda na multidão, o procedimento deve ser levá-las até o posto de guarda-vidas mais próximo para que facilite o reencontro com os pais. Outro alerta é quanto ao uso de bóias. ?Elas enganam e fazem com que as correntes levem a criança para o fundo mais facilmente?, avisa o tenente.

A expectativa do Corpo de Bombeiros é que o número de salvamentos chegue a uma média de 22 por dia, assim como na temporada passada. Além disso, as advertências e orientações em situações de risco também são feitas todos os dias na praia. Para garantir a segurança, barcos infláveis e jet-skis serão usados e haverá patrulha logo após a arrebentação, a cerca de cem metros da areia. (LM)

Aumenta a sensação de segurança

Muita gente que está no litoral afirma que a presença dos policiais é mais notada que nas outras temporadas de verão. Espalhados pelas cidades litorâneas, apenas a presença deles já faz a população se sentir mais segura. ?Este ano parece que melhorou um pouco, vi bastantes viaturas e policiais circulando. Não sei se é suficiente pelo número de turistas, mas pelo jeito promete ser uma quantidade que ofereça mais segurança?, observa o dentista Homero Pereira, que aproveita a temporada em Caiobá.

A comerciante Maristela Bobadilla, que tem uma banca de revistas em Matinhos, tem opinião parecida. ?Sinto que está mais seguro que em anos anteriores. Sempre tem problemas, mas quanto à segurança melhorou.? Ao que complementa seu Orlando Souza Ferreira, dono de um quiosque na praia de Guaratuba há dez anos: ?Notei que o policiamento está mais ostensivo. Até uns três anos atrás tinha muito roubo nas casas, mas agora já diminuiu bastante?.

Mais ações

O batalhão da Polícia Rodoviária está posicionado em locais estratégicos das estradas que dão acesso ao litoral. Nas cidades litorâneas, a promessa é punir o veranista que desobedecer às leis de trânsito estacionando em locais proibidos ou andando na areia de carro ou moto.

A pesca predatória também está sendo observada e punida – no verão, por exemplo, é proibido pegar caranguejo – e há rondas no mar para fiscalizar as licenças dos barcos. Outra observação é que em grandes eventos, como Carnaval e mega shows, serão enviados às praias reforços da Tropa de Choque da PM e do BPTran. A Sesp também dispõe de helicóptero que pode ser usado em situações especiais, por exemplo, rastreamento de veículos roubados ou em caso de seqüestro. O equipamento, porém, não é preparado para atender a salvamentos no mar. (LM)

?Aqui o público é diferente e animado?

A farda nos dias quentes de verão não tira o ânimo de quem está na praia a trabalho. A postos, os policiais observam e têm de estar preparados para enfrentar a correria no caso de ocorrências. É o caso das policiais Lucilene Costa e Silva, de Curitiba, e Marlei Ricken, de Maringá, dupla que policia a praia de Caiobá usando viatura – o policiamento nesta temporada está sendo feito também com bicicletas e a pé, nos calçadões de Guaratuba e Caiobá, e de motocicleta e a cavalo, modalidade esta que será usada apenas no Carnaval.

?Estou acostumada a lidar com um público permanente. Aqui o público é rolante, temos de prestar o dobro da atenção?, conta a cabo Ricken, como é chamada na corporação. ?Por outro lado, também é diferente e animado?, considera a cabo Lucilene. Elas atendem desde pequenas reclamações, como o excesso de volume no som dos carros, até ocorrências mais sérias, como assaltos e arrombamentos a residências. ?Aqui nós não somos mulheres; o que compete a nós é fazer de tudo para que os turistas tenham uma boa estadia?, afirma Ricken.

Entre uma escala e outra, elas também aproveitam as folgas e vão à praia a lazer. ?Mas mesmo à paisana a gente tem responsabilidade. Às vezes atendemos e damos apoio a outros policiais?, diz Lucilene. Atividades físicas e torneios esportivos também estão programados para os profissionais.

Os policiais Marcelo Guimarães e Devanir de Paulo cuidam da ordem no calçadão de Guaratuba a pé. ?A gente é abordado pela população, que reclama principalmente do som?, conta o cabo Guimarães. ?Muitos reclamam também das pessoas que vêm de fora fazer arruaça?, revela o soldado Devanir. Mas apesar da aparente calmaria e a saída da rotina, o trabalho no litoral nem sempre agrada a todo o mundo: ?Melhor mesmo é estar junto com a família, mas o policiamento é necessário. Requer sacrifício?, considera Guimarães. (LM)

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