Entidades questionam curso de Medicina da UEPG

O recém-criado curso de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) vem preocupando algumas entidades médicas. Há alguns dias, representantes da Associação Médica Brasileira (AMB), Associação Médica do Paraná (AMP), Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) e Sindicato dos Médicos do Estado do Paraná (Simepar) realizaram uma visita à instituição de ensino superior e detectaram uma série de deficiências no curso.

Segundo o presidente do Simepar, Mário Antônio Ferrari, falta estrutura física adequada para garantir um ensino de qualidade aos alunos. “Quando estivemos na UEPG, verificamos que algumas salas de aula e laboratórios ainda estavam em fase de construção”, conta. “Notamos muita boa vontade e ótimas intenções por parte de professores e dirigentes universitários, mas isso não é suficiente para garantir a formação de futuros bons profissionais.”

O presidente da AMP, Cláudio Pereira da Cunha, diz ter sentido falta principalmente de um hospital universitário ou de convênios com instituições de saúde já existentes que garantissem a vivência de experiências práticas aos estudantes. “É essencial que, desde cedo, os futuros profissionais da Medicina passem a conviver com pacientes, aprendam a fazer entrevistas antes das consultas e exames físicos. Quanto mais precocemente isso começar a acontecer, melhor será para o futuro profissional”, declara. “Acredito que, até no início do terceiro ano letivo, os estudantes devam começar a ter essa vivência.”

A primeira turma do curso da UEPG começou a assistir aulas no último mês de março. Ao todo, são quarenta estudantes. Metade deles foi aprovada na universidade em julho do ano passado, em vestibular de inverno. A outra em dezembro, durante concurso regular de verão. Mário Ferrari e Cláudio Pereira acreditam que, até o início de 2005, quando esses alunos estarão ingressando no terceiro ano letivo, a UEPG não tenha tempo de construir um bom hospital. “Um hospital universitário não pode ser construído de uma hora para outra. Como o curso da UEPG já está criado, queremos ajudar a instituição a encontrar soluções e alternativas para o problema”, afirmam.

Excesso de profissionais

A maioria dos integrantes das entidades médicas que visitaram a UEPG são contra a criação de novos cursos de Medicina. No total, existem oito escolas médicas no Estado, sendo quatro estaduais – em Londrina, Ponta Grossa, Cascavel e Maring -, uma federal – UFPR – e três particulares – PUC -PR, faculdades Evangélica e Positivo. Anualmente, elas colocam no mercado quinhentos novos profissionais. Hoje, estão cadastrados no CRM do Paraná 14 mil médicos.

“O Paraná não é carente de profissionais da área médica. O que existe é uma má distribuição desses profissionais. Em algumas regiões existem muitos médicos e em outras quase nenhum”, declara o presidente da AMP. “Algumas pequenas cidades próximas a Ponta Grossa são bastante carentes, mas acredito que, como costuma ocorrer em outros locais, a grande maioria dos profissionais que se formarem na UEPG deve acabar migrando para os grandes centros urbanos. A universidade e o Estado devem ter a preocupação de criar condições para que eles se mantenham na região.”

Cláudio e Mário também se preocupam com a educação continuada dos profissionais. No Paraná, apenas 40% dos médicos que se formam conseguem fazer residência, “o que lhes possibilita prestar um atendimento mais qualificado aos pacientes”, dizem.

UEPG

A UEPG revela considerar precipitada a opinião das entidades médicas. “Os representantes das entidades nos visitaram apenas 34 dias depois que o curso começou a funcionar, cedo demais para qualquer tipo de avaliação”, declara o reitor Paulo Roberto Godoy.

Segundo a instituição, a construção de um hospital universitário e o fechamento de parcerias com instituições de saúde existentes na cidade já estão sendo estudados. “Nossos estudantes já estão atuando em postos de saúde da região e a tendência é de que, daqui para frente, o contato com os pacientes só aumente.”

Dentro de quinze dias, devem ser concluídas as reformas de alguns laboratórios do setor de saúde e, em sessenta dias, a construção de escritórios pertencentes à parte administrativa do curso. “As obras atrasaram porque, quando o governador decretou moratória no Estado, o pagamento da empreiteira foi suspenso”, finaliza o reitor.

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