Cultos afro-brasileiros enfrentam preconceitos

A Associação Afro-Brasileira de Estudos Teológicos e Filosóficos das Culturas Negras está determinada a enfrentar o preconceito que permeia os cultos religiosos como a umbanda e o candomblé. Para combater a perseguição, a Associação lança hoje, durante o ciclo de palestras realizado na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o projeto SOS Intolerância Religiosa. O objetivo é sensibilizar a sociedade de que a liberdade de religião é um direito previsto na Constituição Federal.

“A primeira coisa que as igrejas atacam, principalmente as pentecostais, é a religião afro. Queremos que a sociedade respeite estes costumes que vêm sendo praticados desde que os negros chegaram ao Brasil”, defende o presidente da Associação Afro-Brasileira, Jayro Pereira de Jesus.

De acordo com o advogado André Luiz Nunes da Silva, assessor jurídico do SOS Intolerância Religiosa, há uma ação no Rio Grande do Sul contra uma casa de culto afro-brasileiro, por perturbação da ordem. Em Curitiba, também há um processo contra uma casa, em que a parte alega maus tratos de animais e perturbação de ordem. O advogado até admite a culpa em parte da acusação. “A maioria desses cultos tem como costume a imolação de animais”, reconhece.

O preconceito contra a crença afro-brasileira também tem rendido dor de cabeça à iyalorixá Ya Mukumby, de Londrina. Ela conta que sua casa de candomblé, construída há 37 anos, é freqüentemente alvo de apedrejamento. “Todos os dias há seguidores de outras igrejas na porta da casa, tentando converter para a religião deles”, conta. Segundo ela, a polícia já chegou a vasculhar a casa em busca de drogas. “A gente não tem liberdade religiosa”, reclama.

As religiões afro-brasileiras não se resumem apenas a cultos, lembra Jayro de Jesus. Trabalhos sociais, de cidadania, incentivo ao esporte, aulas de capoeira e instrumentos musicais também são difundidos.

Projeto

O projeto SOS Intolerância Religiosa tem três vertentes: a política, em que os seguidores são orientados a reagir contra a intolerância religiosa; jurídica (suporte jurídico para os casos de denúncia contra as casas de umbanda e candomblé); e teológica, com realização de cursos. “Vamos solicitar junto ao MEC (Ministério da Educação) a criação de um curso em teologia africana”, anunciou o presidente da Associação.

Em números

Segundo a Associação, os números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo 2000 que apontam que apenas 0,03% da população brasileira (cerca de 300 mil pessoas, segundo a Associação) segue religião afro-brasileira não são verdadeiros. De acordo com Jayro de Jesus, há cerca de 20 mil terreiros de umbanda no Paraná e setenta casas conhecidas de candomblé em Curitiba, com público fixo e circulante de quase 500 pessoas por casa. No Rio Grande do Sul, há cerca de 105 mil casas de umbanda e aproximadamente 1,8 milhão de adeptos.

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