Chagas: dois novos casos na capital

O Laboratório Central do Estado (Lacen) confirmou ontem mais dois casos da doença de Chagas em Curitiba. Uma mulher e uma criança tomaram caldo de cana em Santa Catarina e apresentam o quadro agudo da doença, onde há manifestação de sintomas. Desde a quarta-feira da semana passada até agora, o Lacen já realizou 600 exames e mais três mil devem ficar prontos em uma semana. Já o quadro de saúde do Jair Fritzen, 33 anos, o primeiro paciente com doença de Chagas registrado em Curitiba, é bom e continua estável.

A mulher e a criança que tiveram os casos confirmados terão de voltar ao Lacen para fazer novos exames e devem iniciar o tratamento imediatamente, para a doença não adquirir a forma crônica. Além desses casos, o Lacen já havia confirmado o de um jovem de Santa Catarina que passou por Curitiba e apresentou os sintomas, além do caminhoneiro de Araucária que está internado no Hospital Nossa Senhora das Graças. Ainda existe mais um caso confirmado e outro sob suspeita, mas ambos estão na forma crônica da doença (a pessoa já estava infectada há mais tempo) e não são considerados casos relacionados com o caldo de cana de Santa Catarina.

Para detectar os casos da doença de Chagas, o Lacen realiza três testes: o primeiro é parasitológico, chamado gota espessa, onde se analisam gotas de sangue. O segundo e o terceiro são testes sorológicos, chamados de testes de imunofluorescência e elisa. No primeiro são realizados ainda mais dois testes de anticorpos. O IgG para identificar a fase crônica e o IgM para identificar a fase aguda.

O Lacen já realizou mais de 600 exames para detectar a doença de Chagas. Esse é o número de amostras enviadas desde o dia 23 deste mês, quando teve início o surto da doença em Santa Catarina. O Lacen foi designado como laboratório de referência para fazer os exames. O volume de exames aumentou de cinco por dia para 120 na última semana.

Mais 3 mil exames chegaram ao laboratório e devem ser realizados dentro de uma semana. ?Conseguimos absorver muito bem a demanda. Estamos com uma estrutura bem desenhada, o que garantiu o atendimento à população?, garante Soraia Reda Gilber, farmacêutica bioquímica do setor de imunologia do Lacen.

O Ministério da Saúde confirmou ontem que só precisa fazer o exame quem esteve no litoral de Santa Catarina, entre os dias 8 e 26 de fevereiro, passou pela BR-101 nas cidades de Joinville, Itajaí, Itapema e Navegantes e bebeu caldo de cana.

Açaí contamina 26 no Amapá

Macapá – Vinte e seis pessoas estão contaminadas com a doença de Chagas em Igarapé da Fortaleza, no Amapá. De acordo com o chefe da Divisão Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde, Clóvis Omar Miranda, a contaminação foi por ingestão de alimentos, provavelmente o açaí, fruto muito consumido no estado. ?Afirmamos que esses casos são acidentais. A exemplo do que ocorre em Santa Catarina, no Amapá a contaminação não está acontecendo de forma clássica, ou seja, com o paciente sendo picado pelo mosquito?, disse Miranda.

Os laudos foram expedidos pelo Instituto Evandro Chagas, de Belém do Pará. A coleta de sangue dos moradores foi feita em fevereiro, mas o resultado dos exames estava sob sigilo da Secretaria da Saúde. Apesar do número elevado de pessoas contaminadas, a Divisão de Epidemiologia descarta a ocorrência de surto da doença no Amapá.

De acordo com a Divisão de Epidemiologia, o surto não se caracteriza porque o foco está centrado em dois locais, Igarapé da Fortaleza e Marabaixo, bairro da periferia da cidade, onde três pessoas da mesma família estão infectadas.

A transmissão pode ter ocorrido nas várias etapas de manipulação do fruto, da colheita até a preparação do suco. Miranda disse que o inseto pode estar sendo triturado junto com o açaí ou que as fezes do barbeiro estão se misturando ao suco vendido para consumo da população.

Todas as pessoas contaminadas estão recebendo atendimento médico e acompanhamento da equipe técnica da Vigilância Sanitária. Além dos casos já confirmados, a Secretaria da Saúde aguarda o resultado dos exames de quatro casos suspeitos. Os exames são de moradores da área de proteção ambiental (APA) localizada no Igarapé da Fortaleza.

Hospedeiros fazem parte do processo de contaminação

A doença de Chagas é transmitida apenas pelo barbeiro infectado com o protozoário Trypanosoma cruzi. No entanto, existem vários hospedeiros do protozoário. Segundo o professor de Sistemática Animal da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC), Estefano Francisco Jablonski, o homem é o principal deles. Depois vêm os cães, gatos, tatus, gambás e roedores.

O mosquito barbeiro é encontrado em todo o território nacional. Só aquele que foi contaminado transmite a doença. Estefano comenta que o livro de Parasitologia Médica revela que em 1988 havia no País 8 milhões de pessoas doentes – em todo o continente americano eram 12 milhões. Todas elas eram hospedeiras do protozoário e, ao serem picadas, contaminavam o barbeiro, que continuava transmitindo a doença para outras pessoas.

Alguns animais também são hospedeiros. Alguns deles estão bem próximos do homem, como os cães e gatos. Outros se adaptaram bem à vida urbana, como os gambás e, facilmente, são encontrados morando nos sótãos das casas. Segundo Estefano, em Curitiba, a espécie é muito comum. (EW)

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