Campanha lembra eficácia da camisinha contra a aids

Carnaval, época de folia, diversão e muitas vezes descuido. Por isso, um ponto em especial sempre é alvo da mídia e de campanhas governamentais neste período: a prevenção contra a aids ou, aportuguesando sida (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Este ano o Ministério da Saúde e, em conseqüência as secretarias estaduais de Saúde, enfoca a campanha de prevenção na eficácia do preservativo. Uma pesquisa do Ibope, encomendada pelo ministério, demonstrou que 15% dos brasileiros não usa a camisinha por achar que ela não é totalmente segura. “A menos que a pessoa considere a abstenção sexual como uma alternativa de prevenção, o único método eficaz realmente é o preservativo”, afirmou a técnica do Programa DST/aids da secretaria de Estado da Saúde, Maria Cristina Assef.

Este ano no Paraná, durante os dias do Carnaval, serão distribuídas trezentas mil camisinhas. A maior parte delas no litoral. Numa relação entre o número de pessoas com a doença e a população das cidades, o município de Paranaguá, justamente no litoral, é o líder deste ranking. Em seguida, pela ordem vem Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina e Maringá. “É um fenômeno que acontece nas cidades portuárias. Santos já foi a cidade com mais doentes no Brasil, depois de um trabalho de prevenção feito lá, ela caiu para quarto lugar. Mas o primeiro hoje é Itajaí, também portuária”, contou, destacando que a prostituição é difícil de ser controlada em cidades como estas.

A aids chegou ao Brasil em 1980, tendo como primeiro registro um caso no Rio de Janeiro. Quatro anos após, ela chegou ao Paraná. Dados da Secretaria de Estado da Saúde apontam que desde 1984 até outubro de 2003 foram registrados 12.412 casos de aids em pessoas com idade superior a 13 anos e 549 em crianças. Nos últimos três anos, o crescimento do número de doentes por ano se estabilizou em 1,2 mil casos. Em 2002, foram 1.189 novos doentes adultos e 43 crianças. Entre os adultos, 736 eram homens e 453 mulheres. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada pessoa com aids, entre 3 a 5 outras pessoas já foram infectadas e estão com o vírus no organismo”, contou Maria Cristina.

A técnica destacou que em 70% das vezes a contaminação se deu através da relação sexual; o segundo fator é o uso de drogas. “Um dado interessante é que de 10% a 12% não se definiu como a pessoa foi infectada. É uma falha na apuração dos dados, ou talvez um atraso na detecção do problema, já que o registro do caso de aids só se deu depois do óbito”, explicou.

O índice de letalidade no Paraná é de 38%. dos 13 mil casos registrados desde 1984, já morreram 4.756 adultos e 152 crianças. Esse índice de letalidade vem caindo, em 2002 ele foi de 22%. Um fato que pode ter contribuído para isso é que desde 1995 o governo federal distribui gratuitamente o coquetel de remédios para os doentes. “São ao todo 15 medicamentos. Mas cada paciente recebe uma combinação com três ou quatro deles”, explicou.

Grupo de risco

Maria Cristina afirmou que não existem grupos de risco para a doença. O que se pensava na década de 80 era que prostitutas e homossexuais corriam mais risco. “Hoje a proporção é de dois homens para cada mulher infectada. Mas a tendência é que logo fique um para um”, alertou, destacando que a proporção já chegou a ser dez homens para cada mulher.

Pobres sofrem ainda mais com o vírus

A aids não escolhe cor, raça, opção sexual, ideologia, partido político e condição financeira. Todavia, para quem tem uma condição financeira pior, viver com a doença fica mais complicado, mesmo com o Ministério da Saúde dando os remédios do coquetel, principal arma no tratamento da enfermidade.

O Grupo Pela Vida, presidido no Paraná por Clarice Calo, realiza um espécie de ponte entre as pessoas com a doença, que precisam de ajuda, e a sociedade que pode ajudar. Com doações de pessoas físicas e empresas, o Pela Vida auxilia adultos e crianças com a doença. “Chegam aqui pessoas que não têm nem um vale-transporte para levar seu filho ao médico”, contou Clarice. Ela destacou que as pessoas procuram muito por remédios para as doença oportunistas, que são doadas pelo Estado. “Mas nem sempre suprem a demanda”, falou, destacando que o grupo auxilia adultos e as famílias de cerca de trezentas crianças contaminadas com a doença. “Tem que se analisar que, se a criança está contaminada, seus pais também têm a doença. Essas crianças as vezes são órfãs de mãe ou de pai. Até mesmo dos dois e moram com avós ou outros parentes”, explicou.

Assistência jurídica

Além disso, o Pela Vida presta assessoria jurídica. “As pessoas vêm saber sobre seus direitos no emprego, para prestar concursos públicos ou mesmo saber o que fazer quando são alvo de preconceito”, disse.

Clarice contou que o grupo também faz um trabalho psicológico com os doentes. “É importante saber que aids não se pega com beijo, abraço. É preciso saber dos riscos, saber que uma relação, com o preservativo colocado de maneira correta é segura”, revelou, destacando que o grupo é procurado por jovens casais.

Novidade

Já está disponível na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), o medicamento reyataz (atazanavir) distribuído pelo Ministério da Saúde para pacientes portadores do vírus HIV. O medicamento é o primeiro inibidor de protease em tomada única diária e deve ser usado em terapia combinada com outros agentes anti-retrovirais que fazem parte do coquetel para combate do vírus HIV.

A ingestão uma vez ao dia de duas cápsulas ajuda a simplificar a terapia anti-retroviral e oferece uma melhor qualidade de vida ao paciente. Dois comprimidos diários, a serem tomados em um mesmo horário, podem melhorar a adesão ao tratamento, o que tende a aumentar a eficácia e diminuir a probabilidade de desenvolvimento de resistência do vírus ao tratamento. A terapia anti-retroviral utilizada atualmente, pode chegar em alguns casos a até 25 comprimidos diários, em várias ingestões e horários diversos. Mas não tome o medicamento sem orientação médica. (LM)

Serviço – As pessoas que quiserem ajudar o Pela Vida, com qualquer tipo de contribuição financeira, ou como voluntário, podem entrar em contato pelo telefone (41) 342-1183.

Sovida dá apoio a infectados

Localizada no bairro Capão da Imbuia, em Curitiba, a Associação Solidários pela Vida (Sovida) realiza um trabalho de acolhimento de pessoas doentes de aids há 11 anos. Com 22 leitos, a instituição dá aos adoecidos todo o tratamento necessário para a sua recuperação. As pessoas procuram normalmente o local quando são atingidas pelas chamadas doenças oportunistas, que são aquelas que se aproveitam da fragilidade do doente, que teve seu sistema imunológico enfraquecido pela aids.

“As pessoas não têm um prazo certo para ficar aqui, mas isso varia de oito meses a um ano. Algumas acabam ficando em definitivo conosco”, revelou a presidente da Sovida, Irma Ribeiro Zanielli. Dentro do Solar do Girassol, como é chamada a casa de apoio, os doentes fazem várias atividades para recuperar a auto-estima. “Eles fazem passeios, debates e jogos. Todas essas atividades buscam reconduzi-los à sociedade, família e ao mercado de trabalho”, contou, destacando que a maioria das pessoas que procura o grupo de uma forma ou de outra optou por se auto-excluir da família. “Nesses casos a aids pode ter entrado tanto como causa quanto por conseqüência”, revelou, destacando que no início do trabalho a procura era bem maior por parte dos homens. Hoje isso já não acontece mais.

Irma destacou que o preconceito ainda é grande contra o aidéticos. “É um fenômeno que quando exteriorizado só causa malefícios, tanto para quem sofre quanto para quem tem o preconceito”, disse.

Para as pessoas que contraíram o vírus, Irma aconselha tranqüilidade e prudência. “A pessoa que descobriu não pode desesperar, tem que continuar vivendo e tomar cuidados para que não se infecte novamente, aumentando a carga viral e nem infecte outras pessoas”, disse. (LM)

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