Uma ou duas vinas?

Bancas de cachorro-quente fazem sucesso em Curitiba

As barracas de cachorro-quente representam cerca de um terço do total de vendedores ambulantes licenciados em Curitiba, de acordo com a Secretaria Municipal de Urbanismo. São 449 barraquinhas entre os 1.329 ambulantes legalizados. O lanche se tornou o “ganha pão” para muitos curitibanos. Seja ele com duas vinas, com frango ou calabresa. Prensado ou não. O sanduíche caiu no gosto da população e quem apostou no setor agradece o movimento.

O auxiliar de padaria Gabriel Gonçalves de Barros visita várias barraquinhas somente para degustar cachorro-quente. “Gosto pela variedade porque são diversos sabores. Vale o preço”, comenta. A combinação preço e sabor é a que prevalece para explicar o sucesso do cachorro-quente e da quantidade de pontos que vendem este tipo de lanche, segundo Josias Fernandes Filho, proprietário do Josias Hot Dog. Ele começou como ambulante e hoje possui duas lanchonetes e uma franquia. “O curitibano gosta pelo preço e porque é saboroso. E aqui não sai o dog mais barato ou simples. O campeão de vendas é o cachorro quente que vai duas vinas, dois tipos de carne e um queijo”, afirma.

Licença

Em quem já acendeu a ideia de montar um carrinho de cachorro-quente, lá vai o alerta: antes de qualquer coisa é preciso conseguir a liberação da Secretaria Municipal de Urbanismo. O candidato passa por  análise, desde o ponto solicitado até o perfil socioeconômico. Passada esta etapa, começa o trabalho pesado. “É um trabalho difícil. Começa pelas 8 horas da manhã, quando a pessoa vai ao Ceasa e compra o material. Tem que deixar tudo organizado até às 17h para depois começar a trabalhar no local onde está a barraca”, salienta César José de Souza, presidente do Sindicato dos Vendedores Ambulantes no Estado do Paraná. Ele lembra que, além de preço e sabor, o cachorro-quente atrai pelo padrão de higiene que os carrinhos precisam seguir. “Raramente tem um vendedor de cachorro-quente legalizado que não cuida da parte da higiene”, ressalta.

As barraquinhas de cachorro-quente só podem funcionar depois das 19h. “O cachorro-quente é exclusivo do período noturno para não concorrer com a lanchonete em horário convencional de funcionamento”, explica Marcelo Bremer, diretor de fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo. O dono do comércio fixo deve concordar com a instalação do ambulante naquele determinado ponto. A licença da administração municipal tem renovação anual para todos os ambulantes, incluindo os vendedores de cachorro-quente.

Jovem enxergou oportunidade em momento difícil

Marco André Lima
Cachorro-quente doce é um dos diferenciais do cardápio.

Um momento de dificuldade levou Rafael Schreiber, de 29 anos, a ter a ideia de vender cachorro-quente na rua. De uma empresa de eventos que ele montou, sobrou apenas o carrinho, que passou por uma pequena reforma. “Sempre tive interesse em ter algo com comida”, relembra. Isto aconteceu há três anos e o negócio passou por uma grande evolução. Na primeira noite na Rua Hugo Simas, ele vendeu apenas um lanche. E ainda foi para um amigo.

Rafael fazia todo o trabalho sozinho. Agora ele conta com ajudantes, o que já permite uma rotina um pouco menos eletrizante na barraca, que ganhou mais chapas e tem o nome de Don’t Stop. Colocou no cardápio até um cachorro-quente doce. “Muita gente come na rua, para o carro, gosta de jogar conversa fora. Vir comer um cachorro-quente vira um passeio. A gente se tornou amigo de muitos clientes”, conta Rafael.

Formalização

Uma das últimas medidas tomadas por ele para atrair ainda mais clientes foi a máquina de pagamento por cartão de débi,to e crédito. Isto foi possível porque Rafael integrou o programa do Microempreendedor Social, que permite a obtenção de um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) para vendedores ambulantes.

“O Microempreendedor Individual contempla 400 ocupações diferentes, entre elas está o ambulante. Neste caso, a pessoa pode fazer a formalização pelo endereço de casa, pois tem apenas uma licença, e não um alvará”, esclarece Juliana Schvenger, consultora do Sebrae, que tem orientado os vendedores ambulantes. Ela lembra que o interessado em se enquadrar nesta categoria vai pagar R$ 33,90 para o INSS e outras taxas, que vão totalizar R$ 39,90. O Sebrae oferece uma palestra sobre o assunto e atendimento para tirar as dúvidas pessoalmente. O agendamento deve ser feito pelo telefone 0800-570-0800.

Barraquinha: trampolim pro sucesso

Marco André Lima
Negócio de Josias iniciou pela necessidade de renda extra.

Tornar-se ambulante por necessidade. O cachorro-quente foi o trampolim para o restabelecimento da vida financeira. Mas o sucesso ultrapassou as barreiras da barraquinha. Josias Fernandes Filho hoje tem duas lanchonetes e uma experiência com franquia, gerando 60 empregos diretos. Mas tudo começou fazendo cachorro-quente todos os dias no carrinho estacionado na Rua Júlio Perneta, no bairro Mercês, próximo da Igreja dos Capuchinhos. Há 13 anos nascia o Josias Hot Dog, um dos cachorros-quentes mais conhecidos de Curitiba. Foram várias tentativas com o comércio – que não deram certo – até o cachorro-quente ser o impulso que precisava.

“Comecei pela necessidade. Eu trabalhava em uma loja de calçados e precisa de algo para conciliar. Não quis trocar o certo pelo duvidoso e veio a ideia do cachorro-quente, por trabalhar à noite. Foram seis anos trabalhando dia e noite. Eu acordava cedo, colocava o frango para cozinhar. Voltava a dormir. Acordava para ir ao trabalho, na hora do almoço voltava para casa, preparava tudo. Às 17h eu voltava para casa e terminava os preparativos para estar às 19h com o carrinho montado. Foram quatro meses assim nesta rotina, até eu contar com a ajuda de uma pessoa que ficava na minha casa e adiantava tudo”, lembra Josias.

O carrinho foi aumentando na mesma proporção da clientela. Chegou a contar com quatro chapas. A demora para comer um cachorro-quente chegava a 40 minutos. A expansão do negócio forçou Josias a deixar o comércio ambulante por não se encaixar mais nos critérios da prefeitura para atuar desta maneira. As lanchonetes de Josias, nos bairros Mercês e Bigorrilho -além da franquia no Portão -ficam cheias. O próximo passo do negócio é consolidar a franquia. A empresa está passando por processos de padronização para que o lanche tenha a mesma qualidade em qualquer lugar.

Marco André Lima
Rafael começou sozinho, há três anos, e hoje conta com uma equipe de ajudantes na barraca.