Avenida vira tormento no Seminário

Os moradores da região da Avenida Bispo Dom José, no bairro Seminário, em Curitiba, estão reclamando da bagunça feita por pessoas que se concentram num posto de combustível localizado na esquina da avenida com a Rua São Thomaz de Aquino. Os arruaceiros fazem rachas e cavalos de pau na pista, deixam o som dos carros acima do normal, consomem bebidas alcoólicas fora do nível aceitável, fecham a rua com cones durante o fluxo de veículos mais intenso e ameaçam os moradores que tentam discutir ou mesmo passar pelos bloqueios. Uma comissão formada pelas vítimas já procurou várias instâncias da Prefeitura Municipal e do governo estadual para resolver o problema, mas não obteve sucesso desde que a situação ficou caótica, há cerca de quatro anos.

Um dos representantes dos moradores, que preferiu não se identificar para evitar retaliações, conta que a região era de muita tranqüilidade antes da instalação do Auto Posto Bispo, em 1997. Ao longo dos anos, o lugar começou a concentrar pessoas durante a noite, passando a ser um ponto de encontro com a oferta de bebida fácil e funcionamento 24 horas. De acordo com ele, acontecem verdadeiros absurdos, principalmente nas madrugadas de sexta-feira, sábado e domingo. “A moda agora está sendo fechar a Bispo Dom José com cones. Isso forma um enorme congestionamento. Só deixam passar quem eles querem. Se algum veículo tenta furar o bloqueio, o motorista é ofendido e tem seu carro danificado com chutes”, afirma o denunciante. Em um bloqueio feito na Rua São Thomaz de Aquino, um dos moradores da região tentou passar com o carro, no qual estava toda a sua família. Ele foi agredido fisicamente e ainda teve a lataria do veículo danificada por chutes.

O representante também cita um caso que aconteceu há duas semanas, em um domingo. Cerca de 300 pessoas estavam no posto fazendo muita bagunça. Ele mesmo ligou para a Polícia Militar. “Quando a viatura chegou, os freqüentadores cercaram o veículo e começaram a gritar e jogar latas nos policiais, que ficaram acuados dentro do carro. Isso mostra a total falência do polícia, que não impõe mais respeito”, avalia.

O morador conta que os bagunceiros fazem necessidades fisiológicas nos muros dos prédios ao redor do posto, participam de brigas, falam palavrões em alto e bom som. “Vai ter que morrer alguém para se tomar alguma providência”, acredita. Pelo que vê todas as noites, são basicamente as mesmas pessoas que freqüentam o posto. “Pelo menos os líderes são os mesmos. Os outros acabam seguindo o oba-oba.”

Segundo o morador, a instalação de diversos bares na avenida (são onze desde a Pracinha do Batel até o Colégio Paranaense) não trouxe problemas para a região. “Os clientes desses bares estacionam os carros, entram nos estabelecimentos, saem e vão embora. O problema está no funcionamento 24 horas da loja de conveniência do posto. É uma diversão barata”, aponta. “Há algum tempo, o posto fechou a loja às 23h por três semanas, o que melhorou demais as condições da região. Mas depois voltou a funcionar normalmente, trazendo os problemas novamente”, comenta.

A comissão de moradores recolheu mais de 250 assinaturas em um abaixo-assinado e entregou para várias autoridades. Aconteceram reuniões com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (ainda no governo anterior), Secretaria Municipal de Urbanismo e Câmara Municipal de Curitiba, além de vários documentos enviados para outras secretarias e responsáveis pelo Batalhão de Trânsito, 12.º Batalhão da Polícia Militar, Comando de Policiamento da Capital, Diretran e do BPTran. Nada surtiu efeito. Os moradores também procuraram uma solução com o dono do Auto Posto Bispo, mas não conseguiram retorno. “A Prefeitura tentou cassar o alvará de funcionamento, mas não conseguiu. A loja de conveniência se tornou nociva para a comunidade e pessoas que passam pela região, o que caberia a cassação do alvará”, considera o morador.

PM tem conhecimento dos fatos

O tenente-coronel Altair Mariot, comandante do Batalhão de Polícia de Trânsito da Polícia Militar, afirma que tem conhecimento sobre o assunto. De acordo com ele, três grandes operações foram feitas este ano na Bispo Dom José. “O quadro tinha amenizado até julho, mas a bagunça voltou. Ainda não há uma solução definitiva para isso. Estamos estudando com a Prefeitura, a Diretran e a Urbs uma medida que pare com o problema”, declara. Entre algumas possibilidades estão a proibição da circulação de carros ou a instalação de um posto policial fixo.

Por enquanto, a única saída é realizar mais operações no local. Uma já está programada para este final de semana. “A desvantagem das operações é que acalmam naquele momento e no dia seguinte volta o problema”, comenta Mariot. “Mas as pessoas que promovem rachas estão por vários cantos da cidade. Não temos condições de realizar mais de duas operações por noite”, relata. O comandante considera a Bispo Dom José, a Rua Mateus Leme e a Avenida das Torres como os locais mais problemáticos de Curitiba. “Nesses lugares não adianta ir somente uma viatura, porque não consegue dar conta. Realmente precisa de um aparato maior”, considera. O motorista que for pego fazendo racha é preso, tem o veículo apreendido e perde a carteira de habilitação. (JC)

Voltar ao topo