Ação contra envolvidos na explosão sai em 15 dias

 Chuniti Kawamura / O Estado
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Ontem o vazamento de óleo combustível ainda continuava.

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema) irá propor uma ação civil pública por danos morais e coletivos contra as empresas envolvidas no acidente com a navio Vicuña, que completou ontem uma semana. Ela já está sendo montada e deverá ficar pronta em quinze dias. O objetivo final da ação será ressarcir as pessoas que foram prejudicadas com as conseqüências do acidente, como pescadores e comerciantes do litoral do Estado.

O secretário do Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, disse que a Sema irá convidar o Ibama e os ministérios públicos estadual e federal para também participarem da ação. Os valores provenientes da medida irão para o Fundo Estadual do Meio Ambiente e serão investidos localmente. "Será uma ação do Estado contra as empresas e em defesa do cidadão", disse Cheida.

Ainda nesta semana o secretário deverá decidir se edita ou não uma portaria estendendo o defeso do caranguejo, que terminaria dia 30 de novembro. A proibição da captura do caranguejo estará condicionada à qualidade do produto. Até o final da semana, análises de laboratório vão indicar essas condições. "Visivelmente os mangues estão comprometidos, mas só as análises poderão dar essa resposta", falou Cheida.

Teixeira

A afirmação do secretário veio em resposta ao apelo das cerca das 52 famílias que vivem na Ilha do Teixeira. Durante uma vistoria que Cheida fez ontem à tarde nas regiões atingidas pelo acidente, os moradores, que estão proibidos de pescar há uma semana, garantem que estão passando fome. "Faz uma semana que a gente não pode ir para o mar pegar nosso sustento, e até agora não recebemos nada, só promessas", afirmou o presidente da Associação dos Moradores da Ilha, Antônio de Pádua Xavier.

Aproveitando a presença da imprensa, Xavier, que trazia no barco os peixes mortos encontrados na ilha, fez um apelo desesperado. "Pelo amor de Deus, alguém venha ajudar a gente, pois estamos dividindo a comida entre os moradores, e hoje só comemos arroz puro. As crianças estão passando fome", garantiu. Xavier disse que boa parte das famílias foi cadastrada para receber assistência, mas que até agora nada chegou na ilha. "Sei que a pesca está proibida, mas está difícil segurar o pescador que está com fome", falou. O secretário Cheida informou mais tarde que cestas básicas seriam enviadas para as famílias através da seguradora do navio chileno.

Controle

Na avaliação de Cheida, o acidente está estabilizado, mas é preciso agora trabalhar para conter as conseqüências. Para ele, as falhas do acidente estão relacionadas ao fato de o navio estar abastecido enquanto fazia o transbordo da carga, bem como da contenção na hora não ser suficiente. Cheida também criticou o fato de não existir um centro de defesa ambiental que pudesse intervir na hora do acidente – o socorro veio 11h depois, com equipes de Itajaí.

Comércio de peixes às moscas

"Acabou para nós." Foi assim que o comerciante Uílton Barbosa, proprietário de um box no Mercado Municipal de Paranaguá, resumiu a situação de quem sobrevive da venda de peixes. De acordo com ele, há uma semana, pouca mercadoria é vendida nas dependências do mercado. "Mesmo os peixes que são de fora da baía não estão sendo vendidos. Estamos tomando um prejuízo de R$ 500 por dia", revela.

Desde terça-feira passada, a pesca está proibida nas baías de Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) em virtude do acidente com o navio Vicuña. Mesmo com os alertas, os pescadores são unânimes em dizer que os peixes e os frutos do mar não sofreram nada com o derramamento de óleo.

O comerciante Odair Cordeiro Barbosa, que atua há mais de 17 anos no local, nunca viu um movimento tão fraco como agora. Ele informa que somente no Mercado Municipal são pelo menos três trabalhadores em cada um dos 32 boxes existentes. "Vamos entrar na Justiça contra os responsáveis pelo navio", adianta. A ajuda direcionada somente aos pescadores é criticada por Barbosa, pois os comerciantes, limpadores, carregadores e outros que dependem da venda dos peixes não foram beneficiados com qualquer tipo de auxílio.

Bom exemplo

A dona de casa Lindamina Nascimento não se intimidou como os outros compradores. Passou ontem no Mercado Municipal para comprar peixe. "Acredito que não tem nenhum problema. Não vou deixar de comprar peixe mesmo nesta situação", afirma. Enquanto era entrevistada, ela perguntou ao comerciante se realmente não tinha problema com o peixe que estava comprando. E recebeu um não como resposta. "Muita gente não sabe que o peixe é de fora. Acha que é do lugar onde o navio explodiu. Os peixes da baía são os que mais vendem, mas agora estamos trazendo produto de outros estados como uma saída neste momento", conta o comerciante Ivo Cordeiro, que vendeu a mercadoria para dona Lindamina. (Joyce Carvalho)

Catadores de ostras sofrem

Os criadores e catadores de ostras também estão sofrendo com a proibição. As vendas caíram muito nos últimos dias. Os trabalhadores que lidam com a ostra dizem que as manchas de óleo não atingiram o produto. "Não vi óleo na baía. Só mostram algumas pequenas partes que foram atingidas. Não mostram o que ainda está bonito. A população está pensando que está tudo cheio de óleo", comenta João Pedro Doerl, pegador de ostras. "Para nós, não prejudicou em nada porque a maioria das ostras vem do fundo dos rios. O óleo fica por cima da água. Acredito que as coisas vão melhorar quando tirarem o navio de lá", ressalta.

O criador Vítor Rodrigues conta que esta é uma época forte nas vendas, principalmente na temporada, podendo chegar a uma renda de R$ 2,5 mil por mês. Para ele, as ostras não foram atingidas pela poluição ambiental. "Não podemos esperar o que virá do governo." (JC)

Óleo segue vazando do navio

Após uma semana da explosão do navio chileno Vicuña, em Paranaguá, continua o vazamento de óleo combustível, apesar dos trabalhos das equipes de apoio em conter o derramamento.

Segundo informações da Defesa Civil, por meio do relações públicas tenente Eduardo Gomes Pinheiro, não está mais vazando óleo da parte da frente da embarcação. A preocupação agora está em pequenas rachaduras na parte de trás do navio. O óleo permanece vazando nesses locais. Esses pontos são de difícil contenção e com pouco acesso.

Uma equipe da Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb) chegou no domingo a Paranaguá e desde ontem faz um levantamento sobre as conseqüências do vazamento para o meio ambiente. Os profissionais são especializados em emergências com produtos químicos e seus efeitos na natureza. (JC)

Ibama encontra 47 animais

Completada uma semana do acidente com o navio Vicuña, 47 animais foram encontrados pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Desse total, apenas oito com vida, 7 aves e uma tartaruga, que estão passando por um período de recuperação na sede do órgão em Paranaguá. De acordo com a bióloga do Ibama, Cossete Xavier, uma média de 10 animais está sendo encontrada por dia. A maioria em ilhas como das Peças, das Cobras e do Mel, que são áreas de alimentação dos animais e foram as mais afetadas com o acidente.

Os animais mortos estão sendo encaminhados para o Centro de Estudos do Mar, da Universidade Federal do Paraná, onde passarão por uma autópsia para saber a causa da morte. Já os sobreviventes estão sendo acompanhados até que tenham condições de voltar para a natureza. Eles são pesados e fazem exames de sangue diariamente. Através desse processo é possível verificar a processo de recuperação. (RO)

Ministra do Meio Ambiente recebe relatório do desastre

O superintendente do Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Paraná, Marino Elígio Gonçalves, apresentou ontem para o presidente do órgão, Marcos Barros, um relatório sobre os trabalhos realizados na baía de Paranaguá. Hoje, esse relatório deve ser entregue à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Marino informou que o trabalho das equipes do Ibama, Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) está intensificado na contenção do material que já se espalhou por trinta quilômetros. E, somente após o controle total do vazamento, destaca, será iniciado um processo de recuperação de todo o ecossistema que sofreu com o desastre. "É uma área frágil e importante para sobrevivência das pessoas, tanto daqueles que dependem da pesca, como do turismo. É um ponto estratégico para o Estado e que está afetado", disse. "Nosso litoral é um berçário natural e a situação nos preocupa muito", completou Marino.

O superintendente também avalia que, mesmo com o fim da mancha, a região terá que ser monitorada por pelo menos cinco anos. Marino acrescentou que somente após a conclusão do laudo técnico será possível observar o impacto do vazamento no meio ambiente para então aplicar a multa, que pode chegar a R$ 50 milhões.

Posição

Após a apresentação do relatório, no final da tarde de ontem, o superintendente do Ibama informou que o posicionamento do órgão nacional em relação ao acidente foi de perplexidade e revolta. Além do impacto ambiental em si, afirmou Marino, "o presidente Marco Barros achou inexplicável a falta de um plano de emergência para conter os danos por parte das empresas e do próprio porto". (RCJ)

Autoridades aparecem para cobrar soluções

O secretário-chefe da Casa Militar, major Anselmo Oliveira, esteve ontem no píer da Cattalini para verificar como está o andamento dos trabalhos. "Viemos para ter uma visão completa do quadro. Ouviremos relatórios dos setores envolvidos para ver se continuamos com os trabalhos que estão sendo realizados. Até o momento, é o que pode ser feito. Foi um acidente de enormes proporções. A explosão e a divisão do navio no meio foi algo inédito no mundo", explica.

Oliveira conta que o prazo para a entrega do plano de salvamento do navio se encerra na próxima segunda-feira. Ele será apresentado para a Capitania dos Portos do Estado do Paraná. A estratégia precisa passar pelo aval da Marinha do Brasil para ser colocada em execução. Ainda não há informações se o que sobrou navio será desmontado durante a operação de retirada.

Deputado

O deputado estadual Waldir Leite (PPS), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, também esteve ontem no local do acidente. "Estamos avaliando como a Defesa Civil está agindo e as medidas que estão sendo tomadas. Temos a informação que os trabalhos apresentam certa descoordenação", afirma. Ele vai levar o levantamento, incluindo o de responsabilidades sobre o acidente, até a Assembléia. Junto com os outros deputados, deve designar alguém para acompanhar os trabalhos em Paranaguá.

Prefeito eleito

O prefeito eleito de Paranaguá, José Baka Filho (PDT), declarou que a economia da cidade foi muito prejudicada com a explosão do navio Vicuña. Os turistas, que iriam aproveitar a temporada, foram afugentados, assim como aqueles que pescam na baía durante os finais de semana. "Numa estimativa bem otimista, todo o trabalho deve estar pronto em três meses", avalia. Ele vai nomear a futura integrante da Secretaria Municipal da Agricultura e Pesca, Maria Célia Azevedo, e mais uma pessoa ligada à futura composição da Secretaria Municipal do Meio Ambiente para integrar as operações. A inclusão está associada com o período de transição na Prefeitura para o ano que vem. "Precisamos ficar a par de tudo que está acontecendo." (JC)

DRT registra 1.415 pedidos de seguro-desemprego

Servidores da Delegacia Regional do Trabalho do Paraná (DRT/PR) cadastraram neste final de semana em Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba 1.415 pedidos de seguro-desemprego emergencial para os pescadores artesanais. Guaraqueçaba foi o local que mais recebeu solicitações do benefício (700 pedidos). Já em Paranaguá foram registrados 505 e 210 em Antonina.

Receberão o benefício os pescadores que foram afetados pela proibição da pesca devido ao acidente com o navio chileno. Para ter acesso à antecipação do seguro-desemprego emergencial, porém, os interessados devem comprovar que estão inscritos na Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca há pelo menos um ano e apresentar o atestado da colônia de pescadores confirmando o exercício da atividade.

Os pescadores artesanais do litoral paranaense que ainda não fizeram a solicitação poderão fazer o requerimento até amanhã. O atendimento está sendo feito na Secretaria de Agricultura e Pesca de Paranaguá, na Colônia de Pescadores de Guaraqueçaba e na agência do Sine de Antonina.

Auxílio

A Federação das Colônias de Pescadores do Paraná, junto com a Defesa Civil e associações comunitárias, começa a cadastrar hoje pescadores e embarcações da região de Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba, para colaborar nas ações de contenção e recuperação das áreas atingidas pelo vazamento de óleo do navio chileno. Ainda não se sabe qual o número de trabalhadores que serão contratados, mas essa iniciativa serve de alternativa para aqueles que vão ficar parados durante, no mínimo, dois meses. (Rubens Chueire Júnior)

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