A saída é pincel e um pouco de tinta

?Demorei cinco anos para entender que eu não preciso furtar para viver. Posso muito bem sustentar a minha família com o dinheiro do meu trabalho?. É assim que Eloir dos Santos Júnior, 38 anos, preso há cinco na Prisão Provisória de Curitiba (PPC), no Ahu, planeja a vida quando sua pena terminar. Ele participa dos cursos promovidos pela Escola de Belas Artes dentro do presídio, onde desenvolveu os talentos de letrista que já exercia antes de ser preso. Com essa aptidão, aprendeu também a pintar quadros e cartões comemorativos que vende entre os presos, e a renda é enviada à sua irmã, que toma conta de sua filha de nove anos. ?Minha irmã às vezes me manda cartas, detalhando como investiu o dinheiro em minha filha, quanto faltou, ou quanto sobrou. Quando sair daqui, posso trabalhar com pintura de faixas, ploters, oferecer meu trabalho a comerciantes. Posso viver tranqüilo da pintura, é o suficiente?, diz Eloir, que conta que a filha, orgulhosa de seu trabalho, já até pediu cartões para vender entre seus colegas da escola.

Logo o preso será transferido para o Complexo Penal Agrícola (CPA), onde cumprirá pena em regime semi-aberto. Ele diz que já conversou com a coordenadora das oficinas de artes, a professora Marilene Ferreira, que garantiu a continuidade de seu trabalho na CPA. Eloir produz em torno de 50 cartões por semana, que vende a R$ 3 cada, e em torno de 10 quadros por mês, com preços que variam de acordo com o tamanho da pintura. As telas inclusive são improvisadas dentro do presídio, com pedaços de madeira que sobram de remendos de camas e outros consertos, além de pedaços de pano.

Eloir participou, em junho, de um concurso artístico, do qual tirou quarto lugar. O tema era Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde os presos pintaram quadros com a sua visão da Santa. ?Minha fuga do presídio é trabalhar aqui no ateliê, onde passo horas pintando?, diz o detento. E mesmo preso, Eloir conta que tem um vínculo muito forte com a filha. ?Ela não tem barreira nenhuma comigo?, diz o artista, que freqüentemente se corresponde e recebe a visita da menina, esperançoso de sua vida em família quando sair do sistema penitenciário.

Não há motivo para festa

O Major Raul Vidal, diretor da PPC, conta que há muito tempo as festividades de Dia dos Pais não são encorajadas no presídio. ?Não é um lugar saudável para a criança, por isso não aderimos a essa prática. Com as festividades, as crianças acabam achando o presídio um lugar legal, agradável. E é exatamente isso que não queremos que os menores pensem?, diz o major, que mostra que mesmo assim, as visitas dos menores até 14 anos são permitidas uma vez por mês, para que o preso não perca totalmente o vínculo com os filhos. Nesse final de semana, a visita coincide com o Dia dos Pais.

Voltar ao topo