Para Lula, é ‘abominável’ usar dossiê contra adversários

O candidato à reeleição para a Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse hoje, em entrevista ao programa "Bom Dia Brasil", da TV Globo, que considera abominável a utilização de dossiês para comprometer candidatos, como ocorreu recentemente, no episódio de dois petistas pegos em flagrante na tentativa de comprar documentos que poderiam comprometer os candidatos José Serra e Geraldo Alckmin no esquema da máfia das ambulâncias. "Eu acho abominável, muito abominável, e tenho demonstrado isso ao longo da minha vida política", disse Lula.

Segundo Lula, em 1989, "quando não faltaram aqueles que queriam que eu fizesse denúncias gravíssimas contra o Collor (Fernando Collor de Mello), de coisa que eu achava abominável que tinham acontecido na época", ele resolveu não fazer. O mesmo ocorreu, segundo Lula, em 1998, contra o candidato Fernando Henrique Cardoso. "Não faz parte do meu currículo político, não faz parte da minha vida política – e já fiz quatro eleições -, ficar procurando coisa da vida dos outros para fazer campanha política. Eu quero debater idéias, debater programa", afirmou. Para Lula, a busca de dossiês "só pode acontecer porque as pessoas são insanas quando têm esse comportamento político". "Eu estou numa situação altamente confortável na campanha política, faltam 10 dias para acabar a campanha política, não sei por que alguém haveria de querer um dossiê contra o governo de São Paulo; ou seja não era nem contra o Alckmin. Então, qual seria o interesse da minha campanha nesse negócio? A não ser que alguma pessoa achou que estava descobrindo a mina de Salomão", disse.

Para Lula, é grave o envolvimento de pessoas de seu governo nessa questão. "É grave, lógico que é grave. O fato da pessoa fazer a investigação da vida dos outros, e sobretudo pagar. Você tem que partir do seguinte pressuposto: quando alguém oferecer uma maldade e pede por essa maldade dinheiro, essa pessoa não merece confiança. Esse é o princípio básico de quem tem que agir com honestidade, sobretudo de alguém, que participa de uma campanha como a minha", disse.

Segundo Lula, as pessoas envolvidas nesse episódio, ao receberem a proposta de compra do dossiê, deveriam ter denunciado como ele fez, no dossiê das Ilhas Cayman para não prejudicar o segundo turno da campanha de Mário Covas ao governo de São Paulo. "Eu fiz questão de entregar para o Márcio Thomaz Bastos que chamou o candidato José Serra, que chamou o Mário Covas e entregou (o documento). Agora, se companheiros tiveram a ilusão de que estavam encontrando algo tão poderoso que poderia mudar o planeta terra, essas pessoas pagarão, porque eu quero saber quem é que deu dinheiro, se teve dinheiro, o que tem esse dossiê. Eu quero saber o que ele tem, por que ele valia tanto, por que tantas pessoas se envolveram numa coisa que para mim não tem nenhum sentido. Esse dossiê, divulgado ou não, não me ajuda em um milímetro na campanha eleitoral. Eu quero saber, disse isso ao ministro da Justiça, eu faço questão que a Polícia Federal vá fundo, investigue as entranhas de tudo que aconteceu nesse processo, porque nós não podemos permitir que isso aconteça nas campanhas políticas.

Lula disse também que, no episódio de envolvimento de petistas e funcionários diretos da presidência na tentativa de compra de dossiê, o papel do presidente da República é afastar pessoas. "Eu não posso julgar, eu não posso prender", disse ele. "Não existe milagre nisso". "A pessoa cometeu um erro, qualquer que seja ele, pequeno ou grande, eu afasto. A partir daí, é o Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça que vão tomar conta da situação. Não é o presidente da República. Até porque não é papel do presidente da República fazer julgamento", afirmou.

"Quando eu afasto um companheiro como Ricardo Berzoini (da coordenação da campanha eleitoral), não é porque acho que ele tem culpa ou está envolvido. É porque eu não posso, faltando dez dias de campanha, ter um coordenador que vai passar 10 dias respondendo pelo dossiê. Eu tenho que colocar alguém que coordena a campanha, que faça minha campanha. Por isso chamei o companheiro Marco Aurélio", disse, referindo-se ao seu assessor para assuntos internacionais, que assumiu a coordenação.

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