Palocci diz que política e economia não se misturam

A crise política não será combatida com medidas econômicas, afirmou hoje (23) o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Problemas no campo político se resolvem
no campo político. Problemas econômicos, no campo econômico", disse durante
entrevista convocada para anunciar a meta de inflação para 2007. "Se temos,
hoje, uma questão no campo ético, temos que tratá-la dentro de procedimentos
éticos das instituições."

Em atitude interpretada como um esforço para
acalmar os investidores, Palocci deteve-se mais do que o esperado nos
comentários sobre a crise provocada por denúncias de corrupção, desvinculando o
nervosismo político das discussões sobre aperto fiscal ou taxa de juros. Durante
uma hora e meia de entrevista o ministro destacou várias vezes que "a política
econômica não é espasmódica e não reage a pressões". Afirmou ainda que todas as
áreas caminharão bem se forem usados "os instrumentos adequados para apurar
irregularidades que não estão no campo econômico".

Ele desconversou
quando perguntado sobre como deveria ser o relacionamento do governo com o PT, a
partir de agora, para evitar interferências das questões política na economia.
Mostrando bom humor, disse que não faz parte da articulação política do governo
e que só fala sobre o tema quando é consultado. "Eu não sou da área política.
Não é minha área de preferência. Primeiro, vem a medicina; em segundo lugar, a
economia e, por último, a política".

No entanto, mostrou ter mais jogo de
cintura do que muitos companheiros de governo para lidar com o fogo amigo e
evitou polêmica com a nova ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. No seu
segundo dia de trabalho substituindo José Dirceu, a ministra criticou a política
econômica ao defender que a realização de um aperto fiscal acima da meta
prevista é algo "desnecessário e constrangedor".

Para Palocci o mais
importante é destacar que a ministra se comprometeu a cumprir o orçamento
programado. "Pode parecer estranho, mas no Brasil é bom falar porque a história
é de não cumprir o orçamento", comentou. "Eu só posso saudar a ministra",
completou, se esquivando de responder se o esforço fiscal programado atualmente
é suficiente para garantir a redução da dívida e assegurar mais crescimento no
longo prazo.

Em vez disso, Palocci saiu em defesa de Dilma e Dirceu. Este
último é freqüentemente apontado como principal autor de disparos de fogo amigo
contra a política econômica. "É injusto com Dilma e Dirceu (tratá-los como
críticos da economia). Na Casa Civil, ele (Dirceu) fez uma grande trincheira de
apoio à política econômica. Duas ou três vezes ele fez comentários contrários
que não anulam o esforço e apoio dado", afirmou.

Palocci fez uma defesa
veemente da política econômica e usou e abusou da linguagem médica, sua
especialidade, para dizer que tem feito um trabalho preventivo visando evitar
que o País sofra em momentos de crise, como no passado. "Nosso trabalho tem sido
olhar quais as medidas preventivas um País que busca ser um corpo saudável deve
ter para resultar num organismo cujo sistema circulatório, esquelético, muscular
e, principalmente imunológico, esteja preparado para atravessar um período de
chuvas fortes, ventos uivantes, e tormentas que sempre acontecem nas vidas das
pessoas e de todas as sociedades".

O ministro só ficou sem jeito quando
foi insistentemente questionado sobre o destino do presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, na reforma ministerial que está sendo definida pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos bastidores do governo, a substituição
de Meirelles é dada como certa. Hoje, apesar de ter participado da reunião do
Conselho Monetário Nacional (CMN), Meirelles não estava na entrevista para
divulgar a meta de inflação para 2007, como sempre aconteceu nos anos
anteriores. Palocci foi acompanhado do diretor de Política Econômica do BC,
Afonso Beviláqua, e do secretário-executivo do ministério, Murilo Portugal, nome
mais cotado para assumir o comando do BC.

Apesar de admitir que tem
ajudado o presidente Lula na reforma que será anunciada nos próximos dias,
argumentou que não podia fazer comentários. "Não é adequado. Não é justo. O
presidente Lula terá todo o nosso apoio para fazer os ajustes necessários",
disse, ressaltando que não está no governo para fazer julgamento das pessoas,
mas para ser julgado também. "Sou ministro, estou sempre em julgamento. Não
posso julgar ninguém", afirmou, se retirando rapidamente da sala de entrevistas.

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