Ordem infeliz

Realmente não foi uma idéia feliz a ordem do dia assinada pelo general Francisco de Albuquerque, comandante do Exército, lida em quartéis de todo o País no dia 31 de março, em alusão ao golpe que derrubou o presidente constitucional João Goulart, há exatos 42 anos.

O visível mal-estar que o pronunciamento do general acabou gerando, num momento delicado para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agravado pela exoneração da figura exponencial do ministro da Fazenda, pessoa sobre a qual repousava a segurança da política econômica, mas também envolvida na sarabanda de malfeitorias que estigmatizam a atual administração, seria evitado se a ordem do dia contivesse outro enfoque.

Não se poderá afirmar, sequer, que a intenção foi atropelada por fatos de última hora, sendo a leitura da ordem do dia algo que não mais podia ser cancelado, porquanto o caso Palocci arrastou-se por cerca de dez dias até estourar como um abscesso, ante o estupor causado pela quebra do sigilo bancário de Francenildo Costa.

O presidente Lula debruçava-se sobre a escolha de novos auxiliares diretos para substituir os ministros que renunciariam no mesmo dia da nota do Exército e, dessa forma, fica amparado pela presunção que nenhum compartimento do governo, por qualquer razão, tivesse o direito de jogar lenha à incontrolável fogueira da crise.

Afora a perigosa tentação de estabelecer um nexo causal entre fatos que ocorreram em situações e decisões independentes, a ordem do dia do general Francisco de Albuquerque, frisando que o ?Exército orgulha-se do passado?, foi superposta pela nomeação do ex-exilado político Waldir Pires para o Ministério da Defesa.

Waldir, na época do golpe, era consultor-geral da República e um dos mais próximos auxiliares do presidente João Goulart, seguindo juntamente com ele para o exílio no Uruguai. Agora é o ministro da Defesa do Brasil.

Teria passado pela mente de Lula o desejo de retaliar a ordem do dia do comandante do Exército, nomeando para a importante pasta um ativista do governo considerado subversivo em 1964? Haverá, nos meios castrenses, algum laivo de ressentimento quanto à decisão presidencial?

Nenhuma das hipóteses é construtiva e conveniente ao País que todos almejamos.

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