Um Ano Novo sempre jovem

Henry Fayol (1841-1925), juntamente com Frederik W. Taylor e Henry Ford são considerados os precursores da Administração Científica. O primeiro, em livro de 1916, definiu as suas operações básicas na conhecida sigla POCCC (planejamento, organização, controle, coordenação e comando). Modernamente, uma gestão empresarial já não pode se contentar com este modelo tão simplificado. Olhando para o futuro sem desprezar a conjuntura do presente, deve primar pelo extremo dinamismo, realimentando processos, o famoso feedback. A sigla empregada hoje é o PDCA: plan (planejamento), do (fazer), check (avaliação) e action (ação corretiva).

Da definição de metas e métodos para se alcançar os objetivos, passa-se à execução, com acompanhamento permanente dos resultados e simultânea utilização de novas ações que implementem as correções necessárias, tornando mais eficiente a busca do objetivo inicialmente fixado. Mas apesar de tudo, sabe-se que, devido a inúmeros fatores que afetam a vida da empresa, nem sempre é possível atingir as metas integralmente. Como estímulo a estas situações, o japonês Ishikawa cunhou a seguinte frase: ?É preferível fazer aproximadamente hoje do que exatamente nunca?.

Alternando para uma vertente totalmente diferente, encontramos em Santo Agostinho, um dos grandes nomes da Igreja, em mensagem assinada em ?O Livro dos Espíritos?, questão 919a, uma recomendação que ele aplicara a si mesmo quando em vida conforme suas próprias Confissões. Todas as noites ao deitar , aconselha , devíamos fazer um profundo exame de consciência, revisar todos os nossos pensamentos, palavras, sentimentos e atos e verificar onde erramos, que mal praticamos ou que bem deixamos de fazer, apurar se não demos motivos para alguém se queixar de nós, se fizemos somente e tudo o que gostaríamos que os outros nos fizessem. De posse deste inventário, devíamos, em primeiro lugar, tomar a firme decisão de não incorrer mais naqueles equívocos e, em segundo, buscar logo no dia seguinte, oportunidade para pedir perdão a quem ofendemos, se possível, reparando o mal qualquer que tenha sido ele.

Ao longo do tempo avançaríamos auto-conhecimento bem como tornaríamos prático o resultado desta descoberta, melhorando nossa convivência com os semelhantes e evitando o peso das conseqüências negativas das ações moralmente incorretas. Menos conflitos, mais harmonia interna e externa, mais compreensão e tolerância, amor e caridade, igual a paz e felicidade. Eis uma fórmula sábia na arte de se viver.

Hoje é Ano Novo e é comum ouvir pessoas falarem em balanços, abrangendo os vários aspectos da vida: financeiro, familiar, profissional, pessoal e para muitos, espiritual também, seja lá o que cada um entenda por isso. Somos totalmente a favor destas avaliações anuais, porém, tal como o Natal deveria ser uma festa permanente com Cristo renascendo diariamente em nossos corações, aqui a periodicidade destes exames deveria ser mais freqüente, se possível, com o acompanhamento diário sugerido por Agostinho para atingir o mesmo sucesso da vida de uma empresa.

A percepção dos fracassos e de seus motivos e ao mesmo tempo a retomada dos bons propósitos, para surtir efeito prático, precisa estar subordinada a técnicas aplicativas constantes. Escolher objetivos é fácil. Difícil é traçar estratégias, delinear os caminhos que nos levarão até eles. Mais difícil ainda é manter a concentração, o foco, ter a força de vontade e despender os esforços necessários para que a chama do desejo de realização não se apague. Pensar, desejar, mas agir. Agindo, não descuidar da avaliação o tempo todo para imediatamente detectarmos a ameaça dos desvios e os obstáculos inesperados que podem aparecer. De forma rápida e decidida, implementar novas medidas que neutralizem ou amenizem as dificuldades e nos recoloquem na rota correta.

Naturalmente aqui nossa ênfase aponta para os valores mais profundos da vida, o cultivo do bem em geral, o desenvolvimento e aperfeiçoamento de virtudes e o combate intrépido aos vícios de toda ordem, físicos e morais. Afinal, se a vida material é importante com suas necessidades diversas para sobrevivência e bem-estar, como o meio, acima dela, em sua face transcendental, estão as necessidades do espírito como fim. É para ele que devem convergir nossos melhores esforços, eleger os mais puros objetivos. São os imperecíveis valores da alma ou o reino de Deus, como afirmou Jesus, que primeiro devemos buscar e todo o resto nos será dado por acréscimo, principalmente a paz e a felicidade legítimas, que independem do exterior e mesmo das circunstâncias temporárias vividas pelo corpo.

Em 2006, o compromisso assumido conosco mesmos deverá premiar esta disposição interior, firme e vigorosa baseada na fé iluminada pela razão à realização dos objetivos mais nobres da vida. Lícitos os desejos de sucesso e conforto material. Entretanto, que não se sobreponham e asfixiem os anseios essenciais das amizades sinceras, da concórdia familiar, da oração diária pela implantação da justiça social em nosso País, pela paz mundial e respeito à natureza. Que o entusiasmo de hoje seja renovado em cada um dos demais 364, renovando sempre as esperanças e a energia para o trabalho de construção do nosso mundo interior, alicerce para o mundo de fora.

Somos todos responsáveis, em maior ou menor grau, por tudo que acontece no planeta. Que cada um faça a sua parte. Esta é a expectativa de Deus para com suas criaturas. Dê o melhor de si ao mundo e ele retribuirá com juros e correção monetária. Invista na produção do bem. Administre com competência, portanto, a sua firma individual. Ah, e se no ano que se findou você não conseguiu tudo o que quis ou tiver receio de não realizar seus sonhos futuros de um mundo sem guerra e sem fome, lembre-se de Ishikawa: melhor fazer um pouco todo ano do que tudo nunca.

Colaboração da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná.

E-mail: adepr@adepr.com.br

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