O homem e o dinheiro

Recursos econômicos, fortuna, dinheiro. Tome-se no conceito mais amplo ou restrito, sabemos bem do que se trata e para que serve. Juntamente com a inteligência humana constitui o combustível do progresso. Sem ele, o dinheiro, ficaríamos estagnados. Os próprios recursos tecnológicos do desenvolvimento das sociedades são apenas um meio e não um fim, decorrentes do impulso inicial dado pela vontade humana que utiliza a riqueza disponível.

O dinheiro, como vários outros recursos colocados à disposição do homem, é neutro, nem bom nem mau. O que o qualifica de uma ou outra forma é o seu uso. Se adequado, parcimonioso, equilibrado e ético, com fins que visem o bem-estar coletivo, será útil e positivo. Se transformado em instrumento de satisfação exclusivamente pessoal ou quando adquirido à custa do que de direito pertence ao semelhante, temos o abuso. Num caso o egoísmo devorador do ser, no outro a subtração criminosa.

Não é à toa que Jesus tratou do assunto numa de suas mais conhecidas parábolas, a dos talentos. Distribuiu metade deles ao primeiro servidor, dois ao segundo e um ao terceiro para que os administrassem durante sua ausência. Algum tempo depois, de retorno, pediu-os de volta. O primeiro transformara os cinco em dez, devolvendo-os. O mesmo ocorreu com o segundo que conseguira dobrar a quantia recebida. Mas o último alegou temor de perder o que lhe fora confiado, enterrou-o e agora o restituía igual, pelo que foi admoestado pelo patrão. Aos dois primeiros acrescentou novos créditos, mas ao terceiro, retirou até o pouco que não soubera utilizar.

Num desdobramento desta lição, podemos imaginar o dinheiro em si como um dos talentos gerais, ao lado da saúde, poder, família, inteligência, a fé ou o conhecimento religioso, as amizades, o tempo e as aptidões profissionais. Isto é, tudo que de mais valioso recebemos na atual encarnação representam talentos colocados ao nosso dispor e dos quais teremos que prestar contas um dia. Ao adentrarmos no mundo espiritual não seremos inquiridos sobre o quanto possuíamos na Terra ou quais títulos ostentávamos, mas, simplesmente, o que fizemos de bom com eles para aplacar o sofrimento dos irmãos de caminhada.

De certa forma, a prova da riqueza nas mãos humanas é mais perigosa do que a da miséria. Enquanto esta, às vezes, provoca lamentação e revolta, aquela conduz aos excessos de toda ordem, constituindo-se no laço mais poderoso que prende o homem à Terra. Além de, freqüentemente, escravizar durante a vida, continua fazendo-o após a morte. O apego exagerado às coisas materiais, especialmente propriedades, objetos e valores em espécie, dificulta sobremaneira a partida da alma após a desencarnação.

Como nos lembra o apóstolo Paulo ?porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males?. Outra passagem evangélica (Lucas, cap. XII, vs. 13 a 21), sobre a avareza relata a respeito do fazendeiro que tendo obtido uma colheita muito maior do que comportavam seus celeiros, em vez de repartir com os vizinhos necessitados, decidiu derrubá-los e reerguê-los muito maiores para se regalar no ócio para o resto da vida. Porém, Deus preparava-lhe uma surpresa, pois que naquela noite, sua alma seria separada da carne.

Segundo o que sabemos a respeito da riqueza, quem não a tem hoje, ou seja, na atual existência terrena, já a teve ou a terá amanhã. Ela é necessária e legítima quando adquirida pelo trabalho honesto e bem-empregada. Quanto à questão do porquê não serem todos igualmente bem aquinhoados no presente, a resposta nos diz que tal se deve ao fato dos homens não serem igualmente inteligentes ativos e laboriosos para adquirir nem moderados e previdentes para conservar.

As desigualdades sociais envolvem dois aspectos: necessidade e mérito, não só no sentido material, mas também do espiritual. Daí a gangorra da fortuna na sucessão das existências e até mesmo durante a mesma vida terrena pelo império inexorável da justiça divina.

Efetivamente, se partilhássemos por igual a cada ser humano a riqueza existente, em pouco tempo as diferenças ressurgiriam. Enquanto uns se limitariam a gastar até o final a sua cota, outros mais dinâmicos e progressistas fariam com que sua parte crescesse. Não sem razão que as idéias socialistas originadas a partir das teorias marxistas de meados do século XIX estejam hoje totalmente superadas. Apesar das distorções provocadas pelo capitalismo, não se pode impedir que os mais competentes movimentem os recursos que, afinal, promovem a oferta de empregos, os avanços tecnológicos, as pesquisas e descobertas científicas, enfim, movimentam a sociedade.

Quando Jesus impôs, ao jovem que desejava segui-lo, a condição de se desfazer de todos os seus bens, não quis estabelecer como princípio absoluto que cada um deve se despojar daquilo que possui como forma única de salvação. Era muito mais um meio de testar as suas disposições interiores no que, aliás, demonstrou ainda não estar preparado.

É justo estudar, trabalhar, buscar o conforto e o bem-estar material, desde que moderadamente. Não podemos é vender a alma ao diabo, como se diz, para obter isso. Infelizes os que, completamente tomados pela cegueira espiritual, vivem exclusivamente em função de acumular posses. Diante do conhecimento das experiências vividas por tantos que nos antecederam no retorno à dimensão espiritual, as perspectivas para ?mensaleiros? e ?sanguessugas? não são nada animadoras. Sábios os que sabem viver com pouco. Infelizes os que já tendo bastante, querem sempre mais. Desgraçados os que para isso adentram as veredas escuras da corrupção e da apropriação do que não lhes pertence.

Colaboração da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná ADE-PR

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