Micheletti se diz ‘angustiado’ por crise em Honduras

O presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, disse hoje estar “muito angustiado” por não poder garantir ao povo um clima de paz absoluta para as eleições de domingo. Além disso, afirmou, a preocupação ocorre pelo fato de o presidente deposto, Manuel Zelaya, ainda estar abrigado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. “Me causa angústia não poder garantir de maneira absoluta à população que vamos a uma consulta tranquila e também que o sr. Zelaya esteja detido na sede diplomática”, afirmou.

“A qualquer governante que tente fazer o que fez Zelaya ocorrerá o mesmo que a ele, por não respeitar a democracia e o povo”, disse Micheletti, em entrevista realizada na noite de ontem, em seu escritório. Os militares derrubaram o presidente eleito em 28 de junho sob o argumento de que Zelaya buscava convocar um referendo para realizar uma Assembleia Constituinte a fim de concorrer a um segundo mandato. O Judiciário hondurenho decidiu que a consulta seria ilegal, mas Zelaya manteve os preparativos, interrompidos pelo golpe de Estado. A Constituição proíbe a reeleição presidencial em Honduras.

O Congresso hondurenho designou Micheletti para substituir o presidente até o fim do mandato, em 27 de janeiro. O presidente deposto foi expulso do país após o golpe, mas voltou em segredo e desde 21 de setembro está abrigado na embaixada brasileira. Micheletti afirmou que Zelaya é um esquerdista. “Ele já não acreditava na ideologia do seu partido (o Liberal, o mesmo de Micheletti), que o levou ao poder, e se tornou esquerdista no momento em que trouxe (o presidente da Venezuela, Hugo) Chávez a Honduras (em agosto de 2008)”, afirmou Micheletti.

Sob Zelaya, Honduras entrou na Aliança Bolivariana para as Américas (Alba). Na visita, Chávez estava acompanhado pelos presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Equador, Rafael Correa. Micheletti se definiu como um democrata e afirmou que “o povo hondurenho, especialmente os mais humildes, agora pagam as consequências somente porque um ‘pseudocomunista’ tentou mudar a rota e o destino democrático de Honduras”.

O líder de facto se mostrou confiante de que os Estados Unidos reconhecerão o resultado das eleições. Segundo ele, o restante da comunidade internacional deve fazer o mesmo gradativamente. “Creio sinceramente que haverá uma melhora nas relações internacionais”, disse. A Organização dos Estados Americanos (OEA) suspendeu Honduras da entidade após o golpe de Estado.

Afastamento

Os hondurenhos elegerão o próximo presidente, três vice-presidentes, 256 congressistas, 20 deputados do Parlamento Centro-americano, 298 prefeitos e mais de 3 mil vereadores. Estão habilitados a votar 4,5 milhões dos 7,5 milhões de hondurenhos. Micheletti se afastará do cargo de amanhã a 2 de dezembro, de acordo com ele, para que não comprometa a disputa. No dia 2 de dezembro, o Congresso decidirá se restitui ou não Zelaya. Nesse período, o Conselho de Ministros governará.

“Mas se houver problemas enquanto estiver ausente, retornarei para dirigir o país, porque não permitirei que minha ausência provoque a oportunidade para os esquerdistas cometerem atos de vandalismo ou de terrorismo”, afirmou. Nos últimos quatro meses, houve mais de 20 ataques com explosivos em centros comerciais, além de sabotagens a torres de energia de Honduras.

O presidente deposto pede que a comunidade internacional não reconheça as eleições. Segundo Zelaya, uma disputa organizada pelo governo golpista e sob o controle dos golpistas não pode receber respaldo internacional.