Megaprotesto reúne 8 milhões de pessoas

Barcelona

– Mais de 24 horas após o covarde massacre que castigou Madri, a dor e a revolta continuam estampadas no rosto dos espanhóis. Ontem, as manifestações contra os atentados que deixaram 199 mortos e mais de 1.400 feridos na capital espanhola, Madri, tomaram as ruas de diversas cidades da Espanha, reunindo 8 milhões de pessoas, informou a polícia. As passeatas e minutos de silêncio se estenderam por toda a Europa, onde a maioria das capitais atendeu o pedido de fazer um grande protesto às 19h, de Madri.

Em Barcelona, as manifestações começaram desde cedo. Ao meio-dia, toda a cidade parou 15 minutos. Bancários saíram às ruas. Carros paravam. Metrôs e trens não funcionaram durante esse período. Todos ficaram estáticos em respeito às vítimas e repulsa ao atentado. A grande concentração nesta hora foi em frente ao Palácio da Generalitat, na Praça Saint Jaume, no centro de Barcelona. Ali se encontravam os principais governantes da Catalunha e centenas de pessoas se aglomeraram para fazer sua parte no protesto contra o terror. Cartazes, velas e muita emoção marcaram as manifestações.

À noite, mais de 50 mil pessoas se reuniram na rua Passeig de Gracia e caminharam lentamente até a Praça da Catalunha, coração da cidade. O presidente da Generalitat (órgão que controla a Catalunha), Pasqual Maragall, liderou a manifestação e ao seu lado se encontravam o prefeito de Barcelona, Joan Clos e o presidente do parlamento catalao, Ernest Benach. Em Madri, pela primeira vez, uma manifestaçao popular contou com a presença de membros da família real. O príncipe Felipe e as infantas Cristina e Helena marcharam à frente do protesto.

Medidas

Após os 15 minutos de silêncio iniciados ao meio-dia, em Barcelona, o vice-presidente da Generalitat, Josep Bargal-ló, ao ser questionado pela reportagem da Tribuna sobre quais as medidas que serão tomadas para evitar que o desastre de Madri se repita, disse que “medidas sempre tomamos, mas garanto que vamos intensificar ainda mais os cuidados”.

Já quando a pergunta foi se ele tinha idéia da facilidade que é colocar uma bomba num dos trens que percorrem diariamente Barcelona e região metropolitana, a resposta não foi muito convincente. “Procuramos dificultar ao máximo essa possibilidade, mas já disse e volto a repetir, a segurança será triplicada a partir de agora.”

E isso realmente já pôde ser comprovado desde o início da manhã de ontem. As estações “Praça da Catalunha” e “Saints-Estació”, as duas maiores da capital catalã, já contavam com um grande número de policiais e agentes especializados. Essa duas estações são similares às de Madri no tamanho, no volume de trens, metrôs e, principalmente, no contingente de pessoas que passam diariamente por ali. Sem dúvida, se algum ataque semelhante ao de Madri fosse planejado em Barcelona, envolveria essas duas estações.

Luto

O luto e a solidariedade em Barcelona às vítimas do atentado de Madri foi maciço. Tanto os prédios públicos quanto as janelas dos apartamentos mais simples levavam uma bandeira da Catalunha com um laço negro, em sinal de luto. Trens, ônibus, táxis, enfim, todos contribuíram de alguma maneira.

Paranaense foi atingido nos ataques de Madri

São Paulo

– A Embaixada do Brasil em Madri informou, ontem, que um segundo brasileiro está entre as vítimas dos atentados de quinta-feira. O rapaz – cujo nome não foi divulgado – passou por uma cirurgia de urgência na cabeça e está internado num dos hospitais da capital espanhola. A representação brasileira soube do caso no fim da tarde (hora local). Segundo Andréia Seixas, funcionária da embaixada, o brasileiro teve ferimentos na cabeça e fratura no nariz. “Mas ele já está falando e se sente melhor.” Andréia disse que o nome dele não foi divulgado a pedido de parentes.

Na madrugada de ontem, o paranaense Adeíldo Alves dos Santos, de 28 anos, também havia sido submetido a uma cirurgia na cabeça durante a madrugada. Ele teve fratura no crânio, na clavícula esquerda e no maxilar. Santos estava num trem rumo à estação de Atocha. “Ele contou que estava no vagão, brincando com um joguinho no celular e depois de guardar o aparelho no bolso não viu mais nada. Acordou no hospital”, disse Joana d?Arc Souza Santos, amiga do rapaz. Santos deve ficar por mais uma semana no Hospital Doce de Octubre. Hoje, o embaixador brasileiro, Osmar Chohfi, deveria visitá-lo. Nenhuma das duas vítimas corre risco de vida.

Na Espanha, há 14 mil brasileiros (registrados na embaixada). Cerca de 6 mil em Madri. Milena Gonçalves Gomes, de 25 anos, vive na cidade há 5 anos. Na quinta-feira doou sangue para ajudar as vítimas e ontem, ao lado do irmão Leonardo, participou da passeata que parou a cidade. (AE)

ETA nega autoria e Al-Qaeda assume ataque

O grupo terrorista basco ETA (Pátria Basca e Liberdade) negou participação nos atentados, afirmou ontem a mídia basca, citando telefonemas do grupo separatista.

“Uma mensagem do ETA chegou dizendo que ele não tinha nenhuma responsabilidade no ataque”, afirmou um apresentador da TV pública basca ETB.

O jornal basco Gara também afirmou em seu site que tinha recebido um telefonema de uma pessoa que declarou representar o ETA dizendo que o grupo “não tinha responsabilidade” nos ataques.

Há especulações de que o padrão das explosões e a escala dos ataques indicavam o possível envolvimento de militantes islâmicos, apesar de Madri insistir que o ETA é o principal suspeito.

Ataques

Os atentados foram “sincronizados” e ocorreram em diferentes linhas de trens de Madri, em pleno horário de pico. Segundo autoridades, as bombas usadas nos atentados de ontem foram ativadas por telefone celular e tinham detonadores de cobre, que não são normalmente usados pelo ETA que e prega a independência.

Segundo a rádio Cadena Ser, fontes de segurança disseram que as bombas foram ativadas por celulares com alarmes programados para as 7h39 (3h39 em Brasília).

O detonador de uma bomba que não explodiu e foi recuperado pela polícia continha um dispositivo de cobre. O ETA geralmente usa detonadores de alumínio, de acordo com a reportagem.

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