Meta de garantir anti-retrovirais para 3 milhões não será alcançada

A cruzada mundial da Organização Mundial de Saúde para garantir até o fim deste ano o acesso a medicamentos anti-retrovirais a 3 milhões de pessoas, o chamado "3 por 5", dificilmente vai alcançar seu objetivo. Balanço divulgado hoje pelo Programa das Nações Unidas para Aids (Unaids) mostra que cerca de 1 milhão de pessoas têm acesso a medicamentos contra a aids. É mais do que o dobro do que havia sido registrado em dezembro de 2003.

"Dificilmente vamos alcançar os 3 milhões até o fim do ano. Mas isto não nos impede de comemorar. O mundo acompanhou um aumento sem precedentes no esforço para tratar pacientes com a doença", avaliou o coordenador do Programa Nacional de DST-Aids e integrante do comitê "3 by 5" criado pela Unaids para América Latina, Pedro Chequer.

Despertar

Ele observa que o mundo despertou para a necessidade de oferecer tratamento para doentes de aids. Realidade muito diferente do que havia antes da iniciativa. Até pouco tempo alguns países questionavam a eficácia e segurança de se oferecer terapia anti-retroviral para pacientes de países economicamente menos desenvolvidos.

Tal corrente via o risco de o tratamento ser feito de forma inadequada. Isso poderia deixar o vírus HIV mais resistente, o que reduziria a eficácia de medicamentos anti-aids. A experiência mostrou o contrário. Vários programas foram criados, equipes foram treinadas para fazer o diagnóstico e prevenção.

Ao comentar o resultado da iniciativa, o diretor-geral da OMS, Lee Hong-Wook, observou que esta é a primeira vez que uma terapia complexa, indicada para uma doença crônica, foi introduzida em larga escala no mundo em desenvolvimento. "As mudanças atingidas com a oferta de tal cuidado para pacientes foi enorme, como já havíamos previsto. Todos os dias temos comprovações de que tal cuidado tem de ser ofertado."

Chequer admite, no entanto, que a Unaids falhou ao estabelecer a meta de 3 milhões de pessoas em tratamento. "Foi um número pouco discutido, quase cabalístico. Mas isso não tira o brilho da iniciativa. Ao contrário, todos aprendemos com a experiência e novas metas deverão ser traçadas com um pouco mais de avaliação."

Progressos

O estudo da Unaids identificou uma série de fatores que auxiliaram países a alcançar progressos significativos no acesso à terapia anti-retroviral. Entre eles, a união de esforços entre países, órgãos de financiamento para providenciar medicamentos e treinar equipes para que o tratamento fosse feito de forma adequada. Ao mesmo tempo, o trabalho apontou falhas e sugeriu mudanças de atitude para ampliar o tratamento em larga escala, incluindo a adoção de protocolos para melhorar o acesso à terapia e a melhoria de sistema de saúde para fazer tanto a triagem quanto o acompanhamento dos pacientes.

A análise feita pela Unaids mostrou que o número de pessoas recebendo tratamento aumentou em todas as partes do mundo. Na África Subsaariana, a região mais atingida pela epidemia, há cerca de 500 mil pessoas em tratamento. O triplo do que havia sido registrado em 2004 e praticamente o dobro do que o estimado há seis meses.

Na Ásia, o aumento também foi significativo. O número de pessoas com acesso à terapia triplicou desde junho de 2004. Atualmente, são cerca de 155 mil pessoas em tratamento. Mais de 50% deste aumento foi registrado nos primeiros seis meses deste ano. "Aprendemos muitos nos últimos 18 meses", avaliou Jim Kim, da OMS. Nesta experiência, afirmou, fica clara a necessidade de se reduzir preço de medicamentos, ampliar ainda mais o acesso e também colocar em prática as flexibilidades previstas no acordo da Organização Mundial do Comércio (OMC).

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