Maia admite que oposição errou ao estimular debate sobre CPMI

O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), avaliou hoje que PFL e PSDB cometeram um erro tático grave de estimular o debate em torno da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Banestado, que investiga a remessa ilegal de cerca de US$ 30 bilhões para o exterior, por meio das chamadas contas CC-5, destinadas a brasileiros que residem no exterior e empresas com sede no exterior. O pefelista está convencido de que foi a oposição, e não o PT e o governo, a maior prejudicada com o debate nacional em torno da comissão e a briga do presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), com o relator, deputado José Mentor (PT-SP). “Nós estávamos discutindo o padrão ético do governo e desviamos o foco do debate para o padrão ético da CPI”, resume o líder.

Tanto os pefelistas como os tucanos estão incomodados com esse desvio de foco que acabou mobilizando as principais lideranças do governo e da oposição esta semana. Nos bastidores, a queixa geral é de que o PT aproveitou as quebras de sigilo bancário e fiscal de políticos, empresários, personalidades da mídia e banqueiros para montar um banco de dados para facilitar a vida do partido nas eleições de 2006. Mas o que o PFL mais lamenta é o fato de a CPI ter praticamente tirado da pauta nacional a série de denúncias de sonegação fiscal contra os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do Banco do Brasil, Cássio Casseb. “Desviamos a atenção da opinião pública das denúncias envolvendo o Meirelles, o Casseb e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, justamente quando estava para ocorrer um desgaste de imagem monumental do governo e do PT”, explica o líder Agripino Maia.

Às vésperas do início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, o objetivo do PFL era investir neste desgaste duplo em razão das suspeitas levantadas contra a autoridade monetária e o presidente do BB, além de pôr na berlinda o tesoureiro petista que negociou a doação de dinheiro público para financiar a construção de uma nova sede do partido em São Paulo.

O senador José Agripino até admite que os partidos de oposição tiveram um “propósito nobre” quando se envolveram na operação para acalmar os ânimos acirrados entre o presidente e relator da comissão e salvar a CPI. A intervenção geral ocorreu no momento em que, aos olhos de todos, a comissão havia cometido excessos com as quebras de sigilo por atacado. A ação conjunta das lideranças e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), era a única forma de tentar um entendimento em torno da agenda da comissão para fechar o relatório final e encerrar logo os trabalhos. “Como ninguém se entendia, os líderes tiveram que acudir a CPI para não deixar que sua credibilidade da CPI fosse para o ralo”, insiste o líder. “Agimos para preservar esta instituição que é importantíssima para o Congresso, mas, infelizmente, o subproduto desse movimento dos líderes foi desviar o foco de episódios reveladores do padrão ético deste governo”.

A ordem, agora é tentar “recuperar o contensioso” que mais interessa aos partidos de oposição e voltar a carga contra o governo. Mas não será tarefa fácil. O próprio Agripino conta que, na tarde de quinta-feira, ainda tentou retomar o debate e as cobranças, mas não teve sucesso. “Adverti que não me venham falar em PPP (o projeto que permite a parceria entre o setor público e o privado) nem em Lei de Responsabilidade Fiscal com o padrão ético do governo sendo contestado como está”. Mas as cobranças de se apressar a inquirição de Meirelles e Casseb pela própria CPI não tiveram eco. “Fizeram ar de paisagem e não responderam nada”.

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