Lula quer apoiar a Venezuela no Conselho de Segurança da ONU

Semanas depois de levar uma humilhante rasteira do presidente Hugo Chávez, no episódio da nacionalização do gás da Bolívia, que deixou seu governo diplomaticamente prostrado e o Brasil diminuído na cena internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara-se agora para apoiar a Venezuela em sua pretensão de preencher uma das duas vagas rotativas a que a América Latina e o Caribe têm direito no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CS). Um dos lugares ficará disponível no fim do ano com a expiração do mandato de dois anos da Argentina

A aparente dificuldade de explicar a decisão à sociedade brasileira faz com que, até agora, o governo petista mantenha um discurso cauteloso para o público interno. Apesar de o Palácio do Planalto e o Itamaraty admitirem que seria "natural" apoiar a candidatura da Venezuela e de já terem antecipado a decisão a interlocutores estrangeiros, não chegam a cravar o voto do Brasil em declarações formais

Especialmente próximo a Chávez, o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse que "ainda é cedo" para definir o voto brasileiro. Na quarta-feira, no entanto, falando ao Senado, Garcia argumentou que "seria natural" o apoio do Brasil "a um país sul-americano que também é sócio do Mercosul". Diplomatas brasileiros acrescentaram outros fatores ao "natural" suporte à candidatura "bolivariana" – a fronteira comum extensa entre o Brasil e a Venezuela, a aliança na área energética e a sempre presente necessidade de tourear os impulsos do presidente Hugo Chávez, especialmente depois da chifrada que ele deu em seu colega brasileiro no caso da Bolívia

"É complexo não apoiar a Venezuela, que se aproximou do Mercosul e é um ator relevante na Comunidade Sul-americana de Nações", disse Garcia, referindo-se ao mais alentado projeto de integração do governo. "Mas não queremos dar uma cotação dramática a essa questão.

No último dia 30, em Brasília, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, irritou-se com as insistentes perguntas dos jornalistas sobre a posição brasileira. Escapou de uma resposta objetiva afirmando que ainda há muito tempo para tal definição até outubro, quando a Assembléia Geral da ONU deverá encaminhar ao CS a escolha do novo representante latino-americano. A exemplo de Garcia, ele reconheceu como "fator importante" na decisão sobre o voto brasileiro o ingresso da Venezuela no Mercosul como membro pleno, condição que será ratificada no mês que vem. "Mas por que vocês insistem tanto em (em perguntar sobre) uma cadeira não-permanente do Conselho de Segurança, para a qual o Brasil não está concorrendo?", queixou-se.

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