Fila da vergonha

Há quem enxergue no fato uma demonstração da pujança agrícola do Paraná, mas não é verdade: evidencia, antes de mais nada, a falta de planejamento ou política de armazenamento e de escoamento de nossas riquezas. Sem meias palavras, é preciso dizer que o tamanho da fila de caminhões diante do Porto de Paranaguá, que começa nas cercanias de Curitiba, é um absurdo que não pode prosperar. Ano após ano, com maior ou menor intensidade, o fato se repete. Está na hora de buscar uma providência que nos livre dessa vergonha.

Uma safra, por maior que ela seja, é algo previsível. Sem planejamento, também a fila se torna previsível. Nada a lamentar, portanto, ou procurar por desculpas como essa da alta do dólar, que estaria levando todo mundo a exportar mais cedo. A verdade está no que diz o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina, Eduardo Requião: o terminal de embarque do porto é obra de vinte anos atrás, quando o Paraná exportava cerca de três milhões de toneladas. Hoje a exportação é maior que o dobro. Seriam necessários no mínimo mais 820 metros de cais – um projeto, cujos recursos da ordem de R$ 150 milhões que estão sendo pleiteados junto ao governo federal, apenas atenuaria o problema.

É interessante observar que o problema, até aqui, está sendo visto pelo seu lado mais fácil de resolver: a indenização, na forma de diárias, do tempo perdido pelos caminhoneiros na fila, que chega a vinte horas nesse começo de escoamento. Foi essa reivindicação, inicialmente não atendida, e que obrigou os caminhoneiros a uma paralisação de todo o porto, que acabou chamando a atenção para o problema. Ninguém calculou, por exemplo, os ingentes prejuízos causados à nossa economia por uma frota de caminhões parada e sujeita à ação de vândalos e assaltantes à beira da estrada. Sem contar os transtornos ao tráfego e tudo o mais.

Até a safra passada, o problema era ainda maior: parte desses caminhões era submetida a uma complicada manobra na saída leste da cidade, ainda sem o Contorno Leste, que complicava a vida da própria cidade. Aquela vergonha foi, felizmente, resolvida. Hoje, os caminhoneiros submetem-se aos perigos oferecidos pelo contorno, construído em área erma e sem serviços por imposição obtusa de entidades ligadas à luta pela preservação ambiental. Vândalos, assaltantes e saqueadores não ligam para ecologia. O motorista é, assim, refém da própria carga até para ir ao banheiro. Ao longo desses setenta ou mais quilômetros de fila, acontece de tudo.

Enquanto o campo cumpre a sua parte e produz – e daqui a pouco começa também o carregamento do milho – não temos estradas adequadas para o transporte, sejam pedagiadas ou não, e não temos estrutura portuária suficiente para os serviços de exportação. Falta infra-estrutura em todos os sentidos – de banheiros a armazéns. É hora, pois, de o governo tomar a peito esse problema e discutir com quem produz e transporta uma política de longo alcance, capaz de, se não resolver de vez, que é quase impossível, pelo menos amenizar os dramas hoje vividos nessa fila da vergonha a um nível civilizado e aceitável.

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