Nesta semana, as famílias participaram de um sorteio para definir o lote que cada uma irá ocupar e entregaram documentação para elaboração dos contratos. O sorteio foi realizado na tarde de quarta-feira no ginásio de esportes da escola municipal Maria Marli Piovesan, que fica próxima à ocupação.
A Vila Ilha do Mel é uma das áreas que compõe o bolsão Audi/União, uma das maiores e mais complexas ocupações da cidade. Com 2,8 mil famílias, o bolsão tem pontos de inundação, construções irregulares na margem do rio e está parcialmente localizado em área de preservação ambiental (APA do Iguaçu). Pela extensão e complexidade da área, a atuação está sendo feita de forma gradativa.
A relocação das famílias da Vila Ilha do Mel irá dar continuidade ao trabalho de desocupação e recuperação ambiental da margem do rio Iguaçu, iniciado no ano passado. Na ocasião, 335 famílias da Vila Yasmin (outra das áreas do bolsão) saíram da faixa não edificável do rio e foram transferidas para um loteamento da Cohab, o Jardim Iraí, localizado nas proximidades.
Sorteio
O sorteio de lotes é adotado nas relocações para evitar problemas na distribuição das unidades entre as famílias que participam do processo. Cada uma escolhe aleatoriamente um papel que contem os números da quadra e do terreno que irá ocupar. A construção das casas ficará por conta de cada família.Após o sorteio, as famílias entregaram para os técnicos da Cohab a documentação para a elaboração dos contratos. Na próxima etapa, elas serão chamadas para assinar um documento que permitirá o início das construções em cada lote – um contrato de concessão, não oneroso. Mais tarde, ele será substituído pelo contrato de financiamento e escritura das unidades.
“Com o documento na mão, a gente estará mais seguro. Na Vila Ilha do Mel, a segurança é zero e ninguém tem certeza do que irá acontecer no futuro”, diz João Carlos Beckes, logo após participar do sorteio. Funcionário de uma empresa que presta serviço de limpeza pública, Beckes tem quatro filhos e está há quatro anos na ocupação.”Estou bem animado, porque iremos para um lugar melhor e vamos ficar livres das enchentes e da lama”, disse ele.
Valdir Marques Barbosa também tem projetos para o lote novo. Funcionário da mesma empresa de Beckes, pai de três filhos, ele mora há dois anos na Vila e está ansioso para mudar. No novo lote, ele pretende construir um pequeno negócio junto à casa da família. “Vou dar um outro rumo para minha vida”, planeja. Hoje, ele mora em um ponto de alagamento e freqüentemente enfrenta problemas em sua casa.
Sueli Fátima Cantareiro Suyti acha que a qualidade de vida de vida de sua família vai mudar radicalmente depois da relocação. Mãe de um menino de dez anos, ela trabalha num laboratório fotográfico e mora numa casa de madeira. Não tem água e nem luz. “No lote da Cohab vou ter mais recursos e melhores condições”, diz ela.
Loteamento tem equipamentos e infra-estrutura
O loteamento Moradias Sambaqui, que irá receber os moradores da Vila Ilha do Mel, está em fase final de obras. Localizado junto a outro empreendimento da Cohab, o Moradias Novo Horizonte, já conta com duas escolas, uma creche e área de lazer, com canchas esportivas e parque infantil.
Com um total de 531 unidades, o empreendimento está sendo executado em etapas. A primeira delas compreende 192 lotes e tem financiamento do programa “Morar Melhor”, do governo federal. Outra etapa, com 177 unidades, está também em andamento, com recursos do Instituto Pró-Cidadania de Curitiba.
A execução gradativa da obra ocorreu em função da inexistência de recursos globais para financiar o projeto, que inicialmente seria implantado com verba do Fundo Estadual do Meio Ambiente (Fema). Um convênio, que garantia o repasse de R$ 3,5 milhões, havia sido assinado entre o governo do estado e a Prefeitura em janeiro de 2002, mas não houve cumprimento do acordo. Somente a primeira parcela, de R$ 1,5 milhão, foi liberada, ainda em 2002, para compra da área. Depois, não aconteceu o repasse necessário para as obras.
Os moradores da Vila Ilha do Mel que serão contemplados com os lotes foram identificados e cadastrados pelo serviço social da Cohab. As casas que estão na faixa de drenagem do rio foram numeradas para evitar que o local sofresse uma nova onda de ocupação. Todas as famílias foram entrevistadas para a elaboração de um perfil sócio-econômico da população.