Ex-diretor de Furnas presta depoimento sob tensão

Com depoimento marcado para amanhã (15) cedo na CPI dos Correios, o engenheiro Dimas Toledo, ex-presidente de Furnas, tem vivido momentos dramáticos. Em conversas com amigos, admitiu que teme sair preso do Congresso e contou que familiares enfrentam crises de depressão.

Dimas será ouvido por parlamentares convencidos de que tem muito a dizer sobre esquemas de corrupção no País – mas temerosos de que ele faça o possível para não abrir a boca. Os murmúrios de que há anos funcionava um esquema milionário de coleta de dinheiro clandestino em Furnas, envolvendo o PSDB e mais tarde o PT, são mais antigos do que a primeira denúncia sobre o "mensalão". O grave é que Dimas – executivo respeitadíssimo pelo conhecimento técnico na área de atuação – falará para um plenário convencido de que tudo é verdade.

Conforme o depoimento de um executivo da empresa inteiramente familiarizado com a atuação de Dimas no governo de FHC, em Furnas o esquema financeiro clandestino tinha uma originalidade – era terceirizado. Segundo esse executivo, ouvido pela AGÊNCIA ESTADO sob a condição de ter seu nome mantido em anonimato, Dimas não abria o cofre da empresa para desviar contribuições. Procurava grandes fornecedores da empresa para que elas fizessem suas contribuições para o partido do governo, como se fossem gestos autônomos.

"Se você procurar a contabilidade de Furnas não vai encontrar nenhuma irregularidade, nenhuma falha na contabilidade capaz de indicar corrupção," afirma este executivo. "Ele não forjava licitações nem forjava fraudes. Pedia contribuições políticas," acrescenta, referindo-se a um comportamento que não tornava o esquema mais inocente, apenas mais ardiloso. Um integrante da cúpula do PSDB sustenta que a quase totalidade dos recursos eram dirigidos a integrantes do PSDB mineiro.

Promovido a presidente da empresa no governo Lula, a rotina de Dimas se modificou. A pelo menos um interlocutor de confiança ele disse que passou a receber visitas freqüentes de Delúbio Soares, o tesoureiro do PT e do "mensalão". Interessado em capturar votos da oposição, o governo passou a mobilizar recursos da empresa para seduzir deputados, permitindo que os interessados tivessem um peso direto na escolha de dirigentes da área financeira. A operação, mesmo às escondidas, produziu desconfianças no comando PSDB.

Quando Lula convidou a bancada tucana para um jantar, nos primeiros meses do governo, o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP) aproveitou um momento de descontração para procurar o presidente para uma conversa a dois, onde lhe disse: "Se vocês estão querendo ganhar deputados do PSDB, em vez de ficar promovendo assédio deveriam levá-los embora de uma vez." À irritação do deputado, o presidente respondeu com um comentário divertido sobre as eleições de 1974, nos tempos do regime militar. "Ele lembrou que tinha votado em mim daquela vez," conta Goldman.

O mal-estar provocado pelo comportamento governista de uma fatia dos parlamentares tucanos acabou criando uma luta no partido. O PSDB chegou a cogitar a abertura de uma comissão de ética para investigar seu comportamento. Mas os parlamentares acabaram deixando o partido sem muita demora e a comissão não se formou. "Chegaram a falar que seriam doze deputados, mas no final foram pouco mais de seis," afirma Goldman, referindo-se a uma entrevista do ex-deputado Roberto Jefferson.

Um dos nomes apontados é do deputado paulista Salvador Zimbaldi. O Estado apurou que, em Brasília, atribui-se a ele o poder até de fazer indicações na cúpula de Furnas. O outro é do deputado Luiz Pihauylino (PDT-PE). Procurados com insistência pela Agência Estado para comentar as acusações, os dois deputados não retornaram telefonemas nem pedidos de entrevista.

Os advogados de Dimas Toledo também foram procurados pela AE. Sua assessoria informou que havia tomado a decisão de não prestar declarações a imprensa antes do depoimento à CPI.

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