Restaurantes boicotam vales-refeição

Parte dos restaurantes e bares de todo o Brasil não aceitou, ontem, tíquetes-alimentação como forma de pagamento. O setor reivindica a redução das taxas cobradas pelas operadoras dos vales-refeição, que chegam a 10% do valor dos tíquetes. Alguns clientes entenderam a causa e pagaram a comida com dinheiro, cartão ou cheque. Outros, porém, ameaçaram comer em um restaurante que aceitasse os tíquetes. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), seção Paraná, José Henrique Carlan, cerca de 500 dos 5 mil restaurantes de Curitiba aderiram ao boicote.

A proprietária do restaurante Quallitá, Sandra Souza, aderiu ao movimento, mas continuou aceitando os tíquetes para não prejudicar a clientela. Metade das pessoas que freqüentam seu restaurante usa esta forma de pagamento. ?Não é justo com o cliente. Ia causar transtorno com muitos que vêm todos os dias almoçar aqui. Se não aceitasse os tíquetes, teria que pendurar as contas, pois o pessoal vem desprevenido?, afirma. Os valores das taxas são repassados aos preços e a margem de lucro dos restaurantes, hoje, é muito pequena, de acordo com ela. ?Diria que os restaurantes estão trabalhando no 0 a 0?.

A auxiliar de escritório Roseli Haruko Okasaki almoça todos os dias no Quallitá e paga as refeições com vale-alimentação. Caso o restaurante não aceitasse o tíquete ontem, ela iria procurar outro estabelecimento para almoçar. ?Uso o tíquete todos os dias e prefiro pagar desta forma. Teria que procurar outro lugar se aqui não aceitasse?, conta. A funcionária pública Márcia Regina Danylko Robles paga seus almoços com tíquetes. Ontem, ela almoçou no restaurante Itália Grill, que aderiu integralmente ao movimento. Não sabia do boicote, mas concordou em pagar de outra forma. ?Concordo com o movimento. Quem usa os tíquetes não sabe dessas taxas?, comenta.

O proprietário do Itália Grill, Osni Xavier Kuss, explica que os clientes não têm consciência de quanto os restaurantes precisam pagar às operadoras. Ele ressalta que o fato das operadoras estarem transformando os tíquetes em cartões magnéticos também está prejudicando o setor. Além das altíssimas taxas, os restaurantes pagam o aluguel da máquina, entre R$ 80 e R$ 100 por mês. No estabelecimento dele, 40% da clientela paga com tíquetes.

O proprietário do restaurante Sahara, Tony Ibrahim, também aderiu ao boicote. ?Estamos explicando a importância do movimento aos clientes com delicadeza. Hoje (ontem), infelizmente, não dá para aceitar?, conclui. A proprietária do restaurante Confitures, Adelmarina Cury Busato, fez um pouco diferente. Se o cliente realmente não tivesse outra forma para pagar a refeição, ela aceitava o tíquete. ?Não dá para inibir o cliente?, esclarece.

Na avaliação do presidente da Abrasel Paraná, José Henrique Carlan, ?os clientes estão se sensibilizando e a resposta é positiva?. ?Temos deixado claro que a redução das taxas também os favorece. A redução da taxa para 3,5%, como nos cartões de crédito, vai gerar uma economia de 5% no preço final da refeição?, enfatiza. De acordo com ele, a Abrasel não é contra os tíquetes-alimentação. O setor quer apenas um maior equilíbrio para todas as partes envolvidas com esta forma de pagamento. Carlan não descarta a possibilidade de realizar novos protestos até o final do ano. ?A intenção é essa: chamar a atenção para que as operadoras possam sentar e negociar taxas equilibradas que possam beneficiar todos.?

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