Literatura econômica

Miriam Leitão relata a construção da cidadania monetária

A travessia realizada por “gente de carne e osso” pela conquista de sua moeda. Esse é o fio condutor do livro Saga Brasileira – a longa luta de um povo por sua moeda, obra mais recente da jornalista econômica Miriam Leitão, que esteve ontem (21), na Livrarias Curitiba do Shopping Palladium, para autógrafos e um bate papo sobre os temas abordados.

Lançado nacionalmente em maio deste ano, os números de vendas deixam clara a consagração de um título no mercado literário cujo pano de fundo é a economia brasileira e um dos períodos (de 1986 a 1994) decisivos para a construção da estabilidade monetária obtida nos últimos 17 anos. Ao todo, o livro resgata 25 anos de história.

Talvez por tratar de vida, da história recente dos brasileiros e de uma moeda que é o “resumo do processo em que o Brasil encontra o Brasil”, logo na primeira edição o livro rompeu a marca de mais de 20 mil exemplares vendidos. Em dois meses, Saga Brasileira já está na quarta edição com um sucesso que surpreende a autora e, assim como o Real, afirma-se diante de avaliações rasas sobre as preferências dos leitores.

A própria jornalista reconhece uma inteligência econômica nos brasileiros da qual a população não se dá conta. Para Miriam, foi o esmero de cada integrante desta nação de conviver com diversos planos fracassados no período da hiperinflação e a capacidade de reabilitar a vontade de fazer dar certo o sexto plano, o Plano Real, que garantiram a trajetória de sucesso da moeda. “Foi a decisão dos brasileiros de terem uma moeda que viabilizou o Real. Para se ter uma ideia, a MP (Medida Provisória), que criou a moeda, propunha o período de um ano para a compreensão da URV (Unidade Real de Valor), mas em três meses todos já haviam absorvido um sistema bimonetário e a conversão do Cruzeiro Real para o Real”, recorda.

Ela assegura que o lançamento de um livro que tem na inflação um dos grandes vilões desta saga, em um ano que a meta inflacionária não será cumprida, foi obra do acaso. “Sempre quis escrever este livro. Porém, precisava ver se o Real seria a moeda de um partido ou de um país. Terminei a obra no período eleitoral e para evitar qualquer vinculação a isso, adiamos o lançamento para 2011”, explica.

Falando em futuro e em Brasil. Ela reconhece na presidente Dilma um esforço para fazer o dever de casa e evitar uma disparada da inflação. “Ela está aplicando o remédio amargo, tanto que já subiu cinco vezes a taxa de juros”. Contudo, ela critica a lentidão das reformas, sobretudo a tributária. “Falou-se em desoneração da folha de pagamentos, porém, ainda não saiu do papel”.

Quanto a responsabilidade dos brasileiros daqui para frente, ela admite a necessidade de um comportamento mais zeloso nas finanças pessoais. “É preciso construir a mentalidade poupadora e ter um cuidado com endividamento”, recomenda. Mais adiante, a autora e jornalista acrescenta a análise, a crença nos brasileiros, que fulguram suas matérias e seus livros. “Nossa história é uma prova de que o Brasil consegue fazer trabalhos difíceis e de longo prazo. Pelo menos foi isso que eu constatei ao escrever esse livro”, defende categoricamente.

Twitter e Plano Collor

Um dos personagens que integram o Saga Brasileira foi encontrado entre os seguidores do twitter da jornalista. “Adoro o twitter”, declara. Miriam conta que durante a elaboração do capítulo O caçador da poupança, que trata do Plano Collor, ela viu o seguinte “tweet”: “meu pai morreu em decorrência do Plano Collor, quem é que me paga isso?”. Diante do impacto desse relato, a jornalista entrou em contato com a “seguidora”. “Perguntei se ela tinha interesse de contar a história. Isso está retratado no capítulo sobre o Plano Collor”.