Meta de inflação pode ter pesado sobre os juros futuros

O mercado de juros futuros opera em queda nesta quarta-feira (11), mas ainda acumula alta em julho e nos últimos 30 dias, quando são negociadas para prazos longos. O aumento da aversão ao risco no mercado internacional é um fator importante para explicar essa alta, de acordo com economistas ouvidos pela Agência Estado. No entanto, há interpretações diferentes sobre o papel da divulgação da meta de inflação para 2009 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na alta dos juros.

Para o ex-diretor do Banco Central e sócio da Ciano Investimentos Ilan Goldfajn, houve uma piora no cenário internacional em junho, principalmente em relação aos problemas nas hipotecas americanas e nos fundos de investimentos do banco Bear Sterns, mas, "quando o mercado internacional melhorou, veio a decisão da meta de inflação". De acordo com ele, isso sem dúvida pesou. "O mercado não se deixa levar na conversa", disse Goldfajn, referindo-se ao fato de existir uma meta no papel, de 4,5% ao ano, e declarações dos integrantes do CMN de que o BC pode buscar 4,0%.

Já o também ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, atualmente na Confederação Nacional de Comércio (CNC), acredita que a alta dos juros futuros não tem relação com a reunião do CMN que decidiu a meta de inflação. "A meta é 4,5% e isso já está definido. O mercado sabe que o Banco Central vai perseguir uma inflação mais baixa se possível", disse Freitas Gomes.

Freitas Gomes considera que a alta dos juros futuros é causada principalmente pelo aumento da aversão a risco no mercado internacional, "ainda mais no longo prazo, em que há mais investidor não residente do que residente". O economista comenta que "os juros futuros agora são commodities porque o próprio real virou uma commodity". Ele relaciona também o aumento das expectativas de inflação, influenciado pela subida recente dos preços dos alimentos, como motivo para a alta de juros futuros. Acrescenta que mesmo com esse encarecimento dos alimentos, o Comitê de Política Monetária (Copom) teria condições de cortar 0 5 ponto porcentual da taxa Selic em sua próxima reunião.

O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, entende que "o mal estar internacional mexeu com a curva toda de juros futuros". Na parte de prazo mais longo, acredita que a decisão do CMN sobre a meta influiu sim para o aumento. "Ela de alguma maneira sinaliza que o governo está disposto a ter uma inflação um pouco mais alta, de 4,5%". Na parte da curva de juros de mais curto prazo, o aumento das expectativas de inflação influiu também. "Acho que agora as expectativas estão convergindo para 4% em 2007", disse.

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