São Paulo – Os últimos recordes do preço do petróleo, na semana passada, ameaçam o gradualismo anunciado pelo Banco Central (BC) na condução dos juros básicos. Na sexta-feira, 10% dos economistas consultados pela Agência Estado sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, na terça e quarta-feira, já previam alta de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic, para 16,75% ao ano, em vez da elevação mais gradual, de 0,25 ponto, amplamente esperada pelo mercado nas últimas semanas.
Desde a última reunião do Copom, em setembro, o preço do petróleo Brent, negociado em Londres, subiu 21,9%, para encerrar sexta-feira em US$ 49,93 o barril. A Petrobras vem retendo o repasse do aumento do petróleo e na semana passada anunciou um reajuste de apenas 2,4% no preço da gasolina. Mas, com o tempo, os novos preços acabarão afetando a inflação, seja por um aumento mais agressivo dos combustíveis ou por meio de derivados cujo fornecimento depende da importação, como resinas e nafta.
Há também perspectivas de aumento da previsão de superávit na balança comercial este ano, o principal componente da redução da vulnerabilidade externa, que vem fornecendo estabilidade ao mercado cambial. “A fragilidade externa do Brasil está muito menor que dois anos atrás”, diz o professor Tharcisio Bierrenbach, diretor do mestrado em administração da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). “Por enquanto, a alta do petróleo desperta uma atenção cautelosa, mas não pessimismo”, acrescenta ele, que ainda acredita na manutenção da Selic esta semana.
Por outro lado, as expectativas para a inflação em 2005 aumentaram de 5,70% para 5,81% desde o encontro de setembro, lembrou o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, em relatório divulgado na sexta-feira. Além disso, os principais motores da queda da inflação vêm sendo os alimentos, cujos preços são voláteis e afetam menos o chamado núcleo da inflação, que é o que realmente importa para a decisão quanto aos juros básicos.
Um aquecimento da produção industrial maior que o esperado também vem sendo apontado como indício de que a retomada econômica está abrindo margem para a inflação de demanda. A maior parte da inflação, este ano, foi causada por aumentos de custos dos derivados de petróleo e de matérias-primas como o aço, consumidos em quantidades crescentes por países grandes e em rápido crescimento, como China e Índia. Agora, com a atividade mais aquecida no Brasil e suaves recuperações na renda e no nível de emprego, analistas temem que haja espaço para a recomposição da margem de lucro de setores que não foram afetados por choques de custos.
Até o mês passado, a percepção que predominava entre membros da equipe econômica era que a disparada do petróleo era, em grande parte, produto da especulação de grandes fundos de investimento. No entanto, na última semana ficou claro que os novos preços refletem temores concretos de que a sobra entre a oferta e a demanda do produto vai diminuir sensivelmente no ano que vem, o que justifica preços maiores.