Melhor preço no açúcar pode fazer faltar álcool

Araçatuba, SP (AE) – O presidente da União das Destilarias do Oeste Paulista (Udop), Luiz Guilherme Zancaner, pediu “bom senso” ao setor e disse que a decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) de vetar os subsídios da produção de açúcar à União Européia (UE) pode causar um desabastecimento de álcool combustíveis no País a partir de 2005.

Há cerca de dois anos, quando os preços do açúcar subiram no mercado externo, os usineiros deixaram de produzir álcool para obter lucros com as exportações de açúcar, causando um desabastecimento interno, o que levou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, também usineiro, a declarar que havia “malandros” no setor.

De acordo com Zancaner, há possibilidade de o cenário se repetir se os usineiros optarem por aumentar a produção de açúcar para atender o mercado externo. Mais seguro, o mercado externo do açúcar representa maior liquidez que o do álcool e, por isso, muitos usineiros, atraídos por ganho maior, podem ampliar o volume de oferta nos contratos do ano que vem.

A tendência também é reforçada, segundo Zancaner, pelo fato de que os usineiros passaram a maior parte da safra deste ano vendendo álcool a preço abaixo do custo de produção. “Os produtores estão machucados com a exploração feita pelas distribuidoras, que pagaram preços de 0,46 o litro enquanto gastávamos R$ 0,55 para produzir o mesmo litro”, declarou. Além disso, a falta de estoque regulador e a situação do mercado, segundo Zancaner, deverão ocasionar um aperto da oferta já entre janeiro e março de 2005. “Não houve preocupação das distribuidoras nem da Petrobras em fazer os estoques reguladores. Se há estoques de gasolina e de diesel por 60 dias, por que não fazer o estoque do álcool?”, questiona.

Zancaner recomendou aos usineiros que mantenham a prioridade no mercado interno. “Precisamos pensar em longo prazo e ter em mente que o nosso mercado é o mercado interno, que é estratégico, e respeitar o consumidor e manter nossa credibilidade. Não podemos correr o risco de perdê-la. Cinqüenta por cento da cana processada é para fazer álcool combustível para o mercado interno, e a médio e a longo prazos, será o álcool, tanto no mercado interno quanto no externo, que nos dará proteção”, afirmou.

Desnacionalização

Para o presidente da Udop, associação composta por 40 usinas, cuja produção é a segunda do país, a decisão da OMC vai apressar a “desnacionalização” do setor, que já vem sendo observado por asiáticos e europeus.

Segundo ele, alguns estrangeiros já estão presentes no País, como franceses e alemães, mas o assédio será inevitável nos próximos dois ou três anos, especialmente por parte de coreanos, chineses e australianos, que estão de olho na tecnologia nacional e nos baixos custos de produção. “O fim da farra dos subsídios vai acelerar esse processo”, afirmou.

Para ele, a desnacionalização poderá ser benéfica para as empresas nacionais, que optarão pleas parcerias especialmente para amenizar o peso tributário e ainda poderão ter controle das sociedades. Mas, segundo Zancaner, ainda é preciso ainda levar em consideração a logística, que, apesar de fundamental, ainda é precária no País.

Produção

Para Zancaner, não é fácil o Brasil aumentar as exportações de açúcar este ano. A safra será maior, mas as chuvas atrasaram o processo de produção e reduziu o índice de açúcar na cana. Por isso, o crescimento de 9% na moagem (298 milhões de toneladas em 2003 para 320 milhões em 2004) não deverá representar resultado porque a cana, por causa da chuva, teve uma perda de 6% no índice de açúcar.

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