Mantega diz que G-7 não pode apagar incêndio

“O mundo está em chamas. A crise se tornou ainda mais prejudicial para o mundo em desenvolvimento desde o último encontro do Comitê de Desenvolvimento”, afirmou hoje o ministro da Fazenda, Guido Mantega, de acordo com comunicado. “Havia ainda outros grandes incêndios antes mesmo do derretimento financeiro em setembro de 2008 (colapso do Lehman Brothers), labaredas que eram igualmente devastadoras para seres humanos, mas muitos de nós estávamos acostumados a viver com elas”, acrescentou. Em meio a críticas feitas à comunidade financeira, Mantega voltou a citar a necessidade de “abrir portas para Cuba”.

Ele disse que na região de América Latina e Caribe o único país que não faz parte do Banco Mundial é Cuba. “Chegou a hora de abordar esta omissão e abrir nossas portas para o país”, completou.

O pronunciamento feito em nome da Constituency do Brasil – composta por Colômbia, República Dominicana, Equador, Haiti, Panamá, Filipinas, Suriname e Trinidad e Tobago – foi apresentado no Comitê de Desenvolvimento, um fórum conjunto dos membros do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (Bird).

No discurso, Mantega exortou os integrantes dos organismos multilaterais ao trabalho conjunto para restabelecer a confiança mundial. O ministro destacou a necessidade de “fortalecer a estrutura multilateral” para estabelecer “confiança”. Ele lembrou que os ministros do G-20 já se encontraram duas vezes desde setembro, depois do colapso do Lehman Brothers, e destacou que está claro que o “G-7 não pode apagar sozinho o incêndio existente, e é improvável que seja eficiente em crises futuras”. “O G-20 pode fazer um trabalho melhor, uma vez que emerge como o mecanismo chave para coordenação política”, afirmou.

Nesta reunião do Comitê de Desenvolvimento, a agenda dos debates aborda as implicações da crise mundial para os países em desenvolvimento, o papel das instituições financeiras internacionais e a discussão sobre cota e representação nos organismos multilaterais.

De acordo com Mantega, a deterioração na perspectiva do desenvolvimento se reflete em indicadores como “níveis maiores de desemprego e aumento do número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza”. Mantega, no entanto, citou que já havia a crise de desenvolvimento. “O número de seres humanos condenados a viver uma vida de fome e privações já era monstruoso quando nos encontramos no ano passado. A crise de alimentos e de combustíveis tinha piorado os problemas para muitos daqueles que vivem em países pobres”, criticou.

O ministro brasileiro criticou ainda que “uma parte” do mundo que desfrutava de prosperidade parecia quase não estar abatida pelo fato de que “o resto dos vizinhos estavam em chamas”. “As possibilidades para fazer dinheiro sem produzir nada pareciam eternas”, alfinetou, no comitê que reúne ministros dos 185 membros dos organismos multilaterais.

“O mundo financeiro desregulado desmoronou em setembro passado. As crises de desenvolvimento, clima e financeira parecem ter se tornado piores pela trajetória que a globalização estava seguindo”, avaliou. “Este modelo de globalização exige ajustes”, completou.

Relevância

Mantega disse que o apetite por financiamento de longo prazo irá permanecer elevado no mundo e destacou que a entrada líquida de capital para os mercados emergentes, segundo projeções divulgadas pelo FMI ao longo da última semana, deve ficar em uma média de US$ 50 bilhões por ano ao longo dos próximos cinco anos – abaixo dos US$ 650 bilhões registrados em 2007. No detalhe, ele citou a constatação feita em um estudo do FMI de que o período médio de recuperação do produto (PIB), quando afetado por crises financeiras, leva cerca de três anos, e ocorre com recuperação “muito lenta” do crédito.

Diante destas cifras, Mantega entende que a relevância do Banco Mundial depende não apenas de medidas para abrandar a crise, mas também do que será feito depois disso. Assim, ele observou que não pode ser uma opção triplicar a capacidade para emprestar durante o período de 2009 a 2011 e, depois disso, reduzir o portfólio para cerca de US$ 10 bilhões por ano, “um número menor do que antes da crise”. “Um aumento seletivo de capital forneceria capital adequado para o Banco e serviria como meio para abordar o déficit democrático na estrutura de governança da instituição.”

“A reforma do Banco Mundial deveria abraçar a metodologia do Poder de Paridade de Compra (PPP) para considerar o peso relativo dos países na economia mundial.” O realinhamento da participação, completou, deveria levar em conta uma fórmula que contemple o compromisso do país com o desenvolvimento. Mantega destacou, por fim, a necessidade de mudança no processo de escolha da liderança do Banco Mundial, que leve em conta mérito e não nacionalidade.

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