Indústria de materiais de construção crê em recuperação

Após um ano com queda nas vendas, representantes da indústria de materiais de construção esperam uma leve recuperação no faturamento em 2015. A expectativa é que os negócios sejam beneficiados pelo fim das incertezas políticas e pela realização de ajustes na trajetória econômica do País, fatores que fortalecerão a confiança de empresários e consumidores.

“Se o próximo governo for do PT, sabemos que esses ajustes serão feitos de forma gradual. Se for do PSDB, poder ter um ajuste mais rápido, mas nada muito brusco”, avalia Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). “Nenhum dos candidatos deverá vir com mudanças radicais”, completa.

Cover avalia que o ano foi marcado por um mal-estar originado nas incertezas em relação ao futuro da política econômica do País. O clima ruim adiou muitas decisões de investimento por parte dos empresários, culminando numa redução de novos empreendimentos imobiliários, como edifícios residenciais e comerciais, shopping centers e centros logísticos. O cenário também influenciou consumidores, que adiaram a compra de imóveis e as obras para reformas.

Na sua opinião, porém, essas incertezas tendem a se dissipar logo após o período eleitoral, o que dará mais clareza para empresários e consumidores tomarem suas decisões. “Quando acabar o período de eleições, vai passar esse de mal-estar que estamos vendo hoje”, completa.

O presidente da Abramat acredita que 2015 não será um ano de forte crescimento para a indústria de materiais de construção, mas estima um aumento de até 2,0% nas vendas. A projeção citada é preliminar e ainda está sob estudos, mas Cover diz estar confiante de que haverá melhoras em relação a 2014.

As vendas do setor entre janeiro e setembro caíram 6,5% na comparação com os mesmos meses do ano passado, surpreendendo negativamente os empresários. A Abramat anunciou em janeiro a previsão de alta de 4,5% no faturamento da indústria no acumulado de 2014. Diante dos resultados ruins, porém, reviu o cenário e agora espera queda de 4,0%.

As venda fracas também surpreenderam outras associações da indústria de materiais. O presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), José Otavio Carvalho, acredita que as vendas em 2014 ficarão estáveis ou terão crescimento de, no máximo, 1,0%. No primeiro semestre, houve retração de aproximadamente 1,0%. “Não é bom para um mercado que avaliávamos que poderia crescer de 2,5 a 3,0%”, conta.

Carvalho explica que o grande sustentador do consumo de cimento nos últimos anos foi o mercado de edificações residenciais e comerciais, que arrefeceu neste ano. Para 2015, a expectativa é de uma leve recuperação nas vendas, com possível alta de até 1,5%.

“Independentemente de quem seja eleito, 2015 será necessariamente um ano de arrumação, o que vai levar a um freio na economia. Nossa avaliação é de que o consumo de cimento poderá crescer, mas será pouco”. Ele estima que, se os ajustes econômicos forem bem sucedidos no próximo ano, o crescimento mais robusto do setor será possível a partir de 2016.

O presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), Dilson Ferreira, espera mudanças não só na economia, mas também nos titulares dos ministérios ligados a assuntos econômicos. “Acredito que as medidas serão feitas para garantir mais transparência e credibilidade, o que poderá trazer novos investimentos”, afirma, acrescentando que os ajustes são inevitáveis, tanto se o governo for do PT quanto do PSDB.

As vendas de tintas imobiliárias caíram 1,0% no primeiro semestre, afetadas pela retração nas vendas de imóveis e pela menor comercialização dentre as varejistas. “O primeiro semestre foi bem duro para a indústria. Os juros altos afetaram a oferta de crédito para os nossos consumidores”, explica.

Para o próximo ano, Ferreira espera que a comercialização de tintas tenha crescimento de 1,0 ponto porcentual acima do PIB.

Imóveis e infraestrutura

Walter Cover, da Abramat, espera maior agilidade dos investimentos públicos e privados a partir do próximo. Ele lembra que tanto Dilma Rousseff quanto Aécio Neves manifestaram a intenção de acelerar, por exemplo, as obras do Minha Casa, Minha Vida. “Os dois falam em construir até 1 milhão de moradias por ano. Hoje estamos com cerca de 500 mil por ano”, observa.

Ele também vê potencial para recuperação dos lançamentos de prédios residenciais e nas vendas de materiais de construção no varejo, beneficiada pela demanda de consumidores que adiaram os negócios nos últimos meses. Já no campo da infraestrutura, Cover espera maior intensidade das obras em andamento de portos, aeroportos, rodovias e mobilidade urbana, além dos projetos ligados à Olimpíada do Rio em 2016, que podem ter sofrido com limitações de caixa do governo federal neste ano.

Já Carvalho, do SNIC, aponta uma tendência de recuperação mais no médio a longo prazo. “A situação atual é transitória. O País tem grandes necessidades de residências e infraestrutura. Assim que a economia se ajustar, acreditamos que vamos voltar a crescer”, afirma.

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