Inadimplência chega à hidrelétrica de Itaipu

A inadimplência das distribuidoras de energia elétrica já bate à porta de Itaipu Binacional. A empresa, que administra a maior hidrelétrica do País, registrou neste mês calote de US$ 178 milhões – o equivalente a R$ 638,3 milhões. Deste total, US$ 149 milhões deixaram de ser pagos por Furnas, US$ 24 milhões pela Eletrosul e R$ 5 milhões pela Ande, estatal paraguaia. De acordo com a diretora-financeira de Itaipu Binacional, Gleisi Hoffmann, este é o pior quadro de inadimplência registrado pela companhia desde o início dos anos 90 – quando, em meio a uma crise generalizada das estatais do setor elétrico, ninguém pagava ninguém.

“Nas conversas que tivemos com Furnas e a Eletrosul, as empresas afirmaram que não pagaram os seus compromissos porque não receberam o pagamento pela energia repassada às distribuidoras”, diz Gleisi. “O que me espanta é que as distribuidoras continuam a receber recursos por meio da cobrança de tarifas.”

O temor da diretora-financeira é de que, a perdurar essa situação por mais dois ou três meses, Itaipu não consiga arcar com o pagamentos de seus compromissos. A empresa deve destinar entre US$ 125 milhões e US$ 135 milhões por mês para o pagamento ao Tesouro e à Eletrobrás, do serviço da dívida referente ao financiamento da construção da hidrelétrica.

Além disso, Itaipu desembolsa US$ 32 milhões para o pagamento de royalties e para custeio, entre outras despesas. “Um atraso no pagamento das dívidas com o Tesouro pode, em última instância, adicionar encargos à dívida e provocar a elevação da tarifa da energia de Itaipu no próximo ano”, prevê Gleisi.

Segundo a diretora, Furnas, que repassa a energia de Itaipu para as distribuidoras do Sudeste e do Centro-Oeste, deixou de quitar faturas que venceram em 31 de janeiro e em 10 e 21 de fevereiro. A Eletrosul, repassadora da eletricidade produzida pela usina para as empresas do Sul e do Mato Grosso do Sul, não pagou as faturas de 10 e de 21 de fevereiro. As faturas referem-se a suprimentos de energia realizados em dezembro, último mês em que Furnas e Eletrosul responderam pelo repasse da energia de Itaipu . A partir de então, a Eletrobrás passa a ser a empresa responsável pelo repasse da energia. “Furnas pagou apenas US$ 708 mil, deixando de quitar cerca de US$ 149 milhões do total devido”, informa Gleisi. Segundo ela, o caso da inadimplência da Ande é o que menos preocupa Itaipu Binacional, já que pode ser resolvido “por meio de um encontro de contas”.

Procurada, Furnas não se manifestou sobre o assunto. O presidente da geradora federal, José Pedro Rodrigues de Oliveira, já havia previsto, neste mês, que a companhia teria de recorrer à Eletrobrás para fechar o caixa, em virtude da sobra de energia no mercado e da inadimplência. Oliveira calculou os débitos das distribuidoras com Furnas em R$ 483 milhões.

Fontes da área financeira da Eletrosul informaram que o débito da empresa com Itaipu foi provocado pelo não-pagamento da energia repassada à distribuidora AES Sul, que explora parte do mercado do Rio Grande do Sul. A mesma fonte acrescentou que as demais companhias atendidas pela empresa estão adimplentes.

A expectativa da Eletrosul é de que a Eletrobrás, que assumiu o papel de repassador da energia da hidrelétrica, assumirá também os créditos da Eletrosul com a AES Sul e os débitos da companhia com Itaipu.

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