Há equívoco na interpretação do relatório do Bird, avalia Transparência Brasil

Brasília – Os dados do relatório apresentado na terça-feira (10) pelo Banco Mundial (Bird) sobre governança não estão sendo interpretados corretamente, acredita o diretor-executivo da organização não-governamental Transparência Brasil, Cláudio Abramo. ?Creio que está havendo, muito por responsabilidade do Banco Mundial, um equívoco muito grande na interpretação desse tipo de coisa?, afirmou o ativista em entrevista à Agência Brasil.

Abramo diz que a instituição não está levando em conta o fato de o relatório expor somente o resultado de opiniões de pessoas da ?comunidade internacional de negócios?. ?Isso não é um índice de transparência pública ou de integridade das instituições, não é isso. Ele é simplesmente um reflexo de opiniões que são coletadas nesse âmbito?.

Essas opiniões, ressalta Abramo, são influenciadas pelas informações recebidas pelas pessoas que respondem às pesquisas. ?Não é de surpreender que se pergunte para um belga, lá em Bruxelas, o que ele acha do Brasil e ele diga ‘eu acho que é ruim’, por quê? Porque ele viu no jornal, porque ele viu em algum noticiário?.

Cláudio Abramo lembra, também, que os dados do relatório – por conta do tratamento que é dado a informações primárias, às opiniões coletadas – têm uma margem de erro de cerca de 10%, não são precisos.  ?Até o ano passado, o relatório do Banco Mundial frisava bastante que não se poderiam tirar conclusões a respeito dos países sem levar em conta esse erro. Sem levar em conta o fato de que se trata de um indicador que passa por muitos tratamentos estatísticos e tudo o mais. Isso estava explicitamente dito no relatório do indicador?.

O secretário questiona se esse tipo de pesquisa é realmente necessário. ?Esse tipo de indicador  simplesmente repete, com um certo grau de imprecisão, aquilo que a gente mais ou menos intui pelo nível de desenvolvimento dos países, pelo tipo de instituição que existe no país, pelo grau de consciência política, de distribuição de renda. São essas as características que nos dão a sensação de que uns países podem ter mais corrupção do que outros e que dão a sensação também para as pessoas que respondem a esse tipo de pesquisa?, afirma.

O problema, para Abramo, não é o fato de a pesquisa ser feita com base em opiniões. ?Opinião é importante, agora, essa opinião tem alguma coisa a ver com a coisa sobre a qual a opinião é expressa??. Ele diz que nenhum pesquisador ainda conseguiu responder a essa pergunta. ?Esse é o problema principal desse tipo de indicador, a relação que ele pode ter ou não ter com a coisa sobre a qual se opina?, conclui.

Se o combate à corrupção no Brasil realmente se deteriorou, como a pesquisa aponta? ?Isso pode ser verdade em alguns aspectos mas certamente não é verdade no geral. Não é verdade. As instituições brasileiras progrediram nos últimos dez anos?, afirma Abramo.

?Se você me pergunta: fez-se tudo o que se podia fazer? Definitivamente não. Há muitas áreas onde há muita timidez, determinadas áreas do Estado estão muito atrasadas com respeito ao ataque, às vulnerabilidades à corrupção, agora, dizer que houve retrocesso é completamente implausível?, afirma.

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