Economista diz que alta da Selic não freará inflação

A alta na taxa Selic para 11,25% logo na primeira reunião de 2011 do Conselho de Política Monetária (Copom), não surpreendeu o mercado. Entretanto, serviu como mais um indicador da forma como a presidente Dilma Roussef pretende conduzir os instrumentos de política monetária para segurar a inflação.

Na avaliação de especialistas, a medida não terá impacto sobre os alimentos, grupo que liderou a alavancada de preços em 2010, e que segue com forte tendência de alta para este ano.

Baseado nisso, ontem, durante o evento Perspectivas e Estratégias para 2011, realizado em Curitiba, um dos palestrantes, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, defendeu que o caminho mais certo para se trabalhar com uma faixa inflacionária considerada razoável, entre 4% e 4,5% ao ano, no Brasil, seria um corte de R$ 65 bilhões no orçamento.

Embora o montante seja bastante expressivo, na análise do economista, uma retração dessa envergadura nas despesas não é inviável dentro de um orçamento estimado em R$ 900 bilhões.

Mesmo que desse montante apenas R$ 150 bilhões não sejam “engessados pela constituição”, o economista ainda acredita que tal corte depende, sobretudo, de vontade política.

“Nesse aspecto por mais que a presidente Dilma demonstre intenção em cumprir à risca as metas, ela fica na dependência dos interesses da base governista. Por esta razão que minha aposta para a inflação de 2011 é de, no mínimo, entre 5% ou 5,5%”, explicou. “E como por enquanto a elevação dos juros é um dos recursos mais usuais da política monetária brasileira, pelo menos até março os empresários ficarão sofrendo com constantes altas na Selic”, acrescenta.

Ainda sobre o preço dos alimentos e o impacto sobre os indicadores econômicos, Gonçalves chama atenção para o reflexo nocivo do câmbio. “Se pegarmos os preços das commodities em reais, ao invés do dólar, é fácil verificar o movimento ascendente dos preços. Isso acontece porque um câmbio muito baixo, inferior a R$ 1,70, não segura a inflação, provoca efeito contrário. Solucionar a raiz do problema passa por mecanismos que impeçam a entrada de mais dólares”, alerta.

Serviços

Outro fator que deve pressionar a inflação brasileira neste ano é o grupo dos serviços. A previsão do Banco Fator é de uma alta de 7,5%. “A valorização desse grupo praticamente dobrou em 2010 e deve seguir no mesmo ritmo porque houve uma mudança na composição da demanda. Dá para mudar essa tendência em 24 meses, mas em seis meses é impossível”.