Economia ?blindada? contra a crise

A crise política que tomou conta do País nas últimas semanas ainda não está afetando diretamente a economia brasileira. É esta a opinião de economistas e analistas ouvidos pelo O Estado, a respeito dos reflexos da onda de escândalos políticos.

?No geral, a crise não tem afetado a economia. O indicador risco-Brasil permanece estável, assim como a taxa de juros?, apontou o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, regional Paraná (Dieese-PR), economista Cid Cordeiro. Ele lembrou, no entanto, que crises como esta afetam tomadas de decisão de investimento. ?As empresas que têm decisões de investimentos a serem tomadas, provavelmente vão esperar o cenário ficar mais definido. Isso não reflete na economia já, mas reflete lá na frente, pois reduz a capacidade futura de crescimento da economia?, afirmou.

Para Cordeiro, a seqüência de quedas na Bolsa de Valores e quatro dias seguidos de alta no dólar, na última semana, revelam que o mercado ?está acompanhando a dimensão da crise.? ?Se virem que a crise pode afetar a governabilidade, aí sim haverá a transmissão da crise política para a deterioração do sistema econômico?, avaliou. ?Enquanto isso, os reflexos ficarão restritos ao campo político.?

Outros pilares

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Paraná (Ibef-PR), José Écio Pereira da Costa Júnior, por enquanto a crise política e a economia brasileira caminham por trilhas distintas. ?A economia está sustentada por outros pilares, como o relacionamento econômico internacional e o bom resultado da balança comercial. Também a taxa de juros real muito elevada tem atraído fluxos de capital para o Brasil ?, comentou Pereira. Segundo o presidente do Ibef-PR, ?a estabilidade de regras faz com que a economia vá para frente.?

?A crise só veio dar mais força para o pé no freio. E as conseqüências só não são maiores porque o mercado interno já estava em estagnação, com os juros muito altos, os planos de investimento revisados. Já vínhamos, nos últimos meses, olhando para um patamar mais baixo de crescimento?, afirmou. Para o presidente do Ibef-PR, porém, a situação poderá se agravar se houver mudanças nos ministérios e na direção do Banco Central. ?Tudo depende de quem vai dar apoio ao governo e a credibilidade dessas pessoas?, apontou.

Investimentos

Para o superintendente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), agência de Curitiba, Carlos Olso, ?ainda é prematuro? falar sobre os reflexos da crise política na economia. ?Os empresários são conservadores. Quando a economia retoma o crescimento, eles observam se não se trata apenas de uma bolha de crescimento. Na saída, o processo é o mesmo: eles continuam aguardando algo mais grave para deixarem de investir?, analisou Olso.

Segundo dados do BRDE, no Paraná os financiamentos contratados cresceram quase 30% no primeiro semestre de 2005 na comparação com o mesmo período de 2004, passando de R$ 157 milhões para R$ 204 milhões. No segundo semestre, apontou Olso, normalmente os financiamentos são menores, porque a maior parte deles se refere a planos de safra e são fechados ainda no primeiro semestre. Até o final do ano, a expectativa, de acordo com Olso, é fechar os financiamentos contratados no volume de R$ 300 milhões – bem acima dos R$ 227 milhões registrados no ano passado.

?Por enquanto, os pedidos de investimento continuam normais?, garantiu Olso. Segundo ele, a maioria dos investidores está ?seguindo o seu traçado.? ?Algo bastante notável no Brasil é que as pessoas planejam o futuro a longo prazo. Elas elaboram as táticas e ficam dentro desse horizonte?, apontou. Segundo o superintendente do BRDE, também as exportações não podem parar por conta dos últimos acontecimentos em Brasília. ?A crise é, particularmente, política. Em tese, não afeta as exportações?, arrematou.

Investimentos já estariam paralisados

Na semana que passou, o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações (governo FHC), em entrevista à Folha de São Paulo, disse acreditar que a atual crise política, apesar de não ter abalado o mercado financeiro, já tenha afetado as decisões de investimentos. Segundo ele, serão dois anos sem investimento no País, já que, em 2006, as eleições presidenciais também poderão frear o início de novos projetos. ?O empresário está meio estupefato, mas certamente as decisões de investimento já foram afetadas?, diz ele. ?Ninguém vai fazer uma fábrica de US$ 300 milhões nesse quadro. Nessa hora, com essa crise, param as decisões de investimento. Parou, perdeu-se um ano.?

Para Mendonça de Barros, o grande risco de a crise transbordar para o mercado é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sair candidato à reeleição. ?Meu medo é o Lula não sair candidato e aparecer alguém, da esquerda ou da direita, com um discurso messiânico claramente ligado a uma política econômica diferente.?

Ele afirmou não acreditar na hipótese de o ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, sair candidato pelo PT, no caso de Lula desistir da reeleição. ?O Palocci candidato à presidência, aprovado pela convenção do PT, eu não consigo enxergar?, afirma.

Voltar ao topo