Crise vai durar pelo menos três anos, dizem executivos

A crise mundial ainda vai durar pelo menos três anos, segundo a maioria dos entrevistados em 50 países pela PricewaterhouseCoopers (PwC) numa pesquisa com chefes de empresas. Só 34% deles disseram acreditar numa recuperação nesse período – uma melhora lenta e gradual. Foram ouvidos 1.124 executivos-chefes.

O mundo em crise é também um mundo em transformação, segundo os entrevistados. De acordo com 73%, um novo conjunto de países ganhará importância e contestará o poder econômico, político e cultural do Grupo dos 8 (G-8), formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia. No Brasil, 83% dos dirigentes de empresas manifestaram essa opinião. No Reino Unido e na Rússia, 63% – menor porcentagem. De alguma forma, a nova geografia econômica, mencionada muitas vezes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, parece estar em curso, segundo executivos do mundo todo.

Outra mudança provocada pela crise é a revalorização do longo prazo. “Resultados de curto prazo a qualquer preço não são mais aceitáveis como medida do sucesso”, está escrito num dos volumes do relatório como síntese dessa transformação. Essa transformação é visível nos planos de investimento, segundo comentário de responsáveis pela pesquisa. O excesso de atenção a resultados imediatos, mostrados em balanços trimestrais, foi uma das consequências do crescente poder do setor financeiro nas últimas décadas, mas o relatório não entra nessa análise.

Mas a reavaliação do sucesso também ocorreu noutro sentido. “Em anos anteriores, sucesso significava crescimento”, recordam os autores do relatório. Neste, os pesquisadores descrevem os executivos como empenhados em caminhar na corda bamba, “tentando alcançar o equilíbrio entre sobrevivência e durabilidade”. Os brasileiros estão entre os mais otimistas. Um terço declarou-se confiante na evolução de seus negócios neste ano. Globalmente, só 21% disseram acreditar em maiores ganhos. Há um ano, 50% esperavam melhor desempenho a curto prazo.

Na América do Norte e na Europa Ocidental, só 15% disseram acreditar em crescimento nos 12 meses seguintes. Na Ásia-Pacífico, 31%. Na América Latina, 21%. Os brasileiros mostraram-se mais preocupados com as deficiências da infraestrutura e menos preocupados que a média de seus colegas com os custos da energia, a escassez de recursos naturais, o terrorismo, as pandemias e as tendências protecionistas dos governos. No alto de sua lista de problemas, os brasileiros incluem também o peso dos impostos, a falta de clareza e de estabilidade nas normas tributárias e as complicações para cumprir as obrigações fiscais.

Em todo o mundo, a retração nas economias avançadas e a desordem nos mercados financeiros foram apontados como riscos mais importantes para os negócios. No Brasil, 83% dos entrevistados apontaram a recessão no mundo industrializado como a ameaça principal. Nas maiores economias, essa resposta foi dada por 80% ou mais, e não há nenhuma surpresa nesse resultado.

A pesquisa mostrou também um resultado descrito como “paradoxo da regulação”. Cerca de metade dos entrevistados acusam os governos de não terem feito o suficiente para criar uma força de trabalho qualificada e 38% reclamaram maior ação governamental na área de infraestrutura, mas 55% disseram temer o excesso de regulação. “A resposta pode não estar em mais regulação, mas em melhor regulação”, comentou Ian Powell, diretor da Price.